PO disse:
Não estou a discordar de ti. Como disse não estou a defender as políticas do Sócrates. Houve aspectos da governação dele com que concordei e outros que não. Acho que os investimentos feitos no país não foram os correctos. E continuo a achar que há muita coisa que é preciso mudar. Mas repara, para mim o problema vem mais detrás. Se calhar também podemos culpar o Cavaco e o Soares por terem destruído muitos sectores da nossa economia em troca de fundos comunitários. Mas podemos também voltar mais tarde e ver o que foi a política dos governos do Salazar e as implicações que isso teve no pós 25 de Abril...
Um dos defeitos da malta que teve formação económica é que responde a tudo com depende. Se esses défices tivessem tido como objectivo tornar a economia mais competitiva, podiamos ainda estar a colher frutos desses défices. O problema é que foi um gastar por gastar, torrar dinheiro em empresas de amigos, interesses e a manutenção de um sistema que precisa desesperadamente da reforma. Não é os défices que são preocupantes por si só, mas sim o motivo pelo qual aconteceram.
O problema do Sócrates foi que a realidade do dia a dia não acompanhou a realidade económica que existia na cabeça dele. Não só da dele mas também na cabeça de outros líderes que foram martelando as contas para agradar à U.E. Agúem acredita que uma pessoa como o Sócrates foi capaz de ter o que na altura foi o menor défice da nossa democracia sem o conluio de outras instituições europeias? Ou instituições bancárias? Mas isso não foi apenas aqui.. Aconteceu também, em menor ou maior escala nos famosos PIGS (quem não se lembra do caso da GS e da Grécia). Com as consequências que ainda hoje sofremos
Quanto à parte que sublinhei, convém lembrar que isso aconteceu, acontece e acontecerá sempre. Está no nosso ADN desde sempre. Mas existe um aspeto mais grave. Hoje em dia o governo e a opinião pública vêm dizer que mesmo com números bons em termos da doença não se deve retirar o foco da preocupação e do aperto das medidas (e bem). Mas em termos económicos isso já não é bem assim. Depois de 4 anos de austeridade agressiva as pessoas pensaram que a economia já estava boa e que era tempo para investir e devolver rendimento. Pelo que temos visto da realidade "martelada" dos n.ºs (que ninguém duvide que os n.ºs continuam a ser martelados para se obterem certos resultados) tudo bate certo. O problema é que, e analisando para além da espuma dos números, a nossa economia continua frágil, com crescimentos anémicos e sustentados num sector ou dois que são bastante voláteis. E um país com uma dívida externa colossal e incomportável. E as pessoas (grande culpa por causa dos governos que não educam nesse sentido) continuam a acreditar que essa é uma dívida que se poderá continuar a empurrar, eternamente, com a barriga para a frente.. E vamos continuando assim, alegres rumo à desgraça.