Bom, eu ainda nem me consegui expressar em condições desde o que aconteceu. Nunca pensei que tal fosse acontecer. Contava com assobios, bocas aqui e ali mas nunca o que presenciei com os meus próprios olhos.
Cheguei pelas 20:30, já com uma fila que chegava ao início do túnel. Entretanto chegou o Pedro Teixeira, pouco depois chegou o AVB. Muito aplaudido, tirou dezenas de fotos e deixaram-no entrar a meio da fila. Chegou o Tino de Rans que esteve uns bons minutos à conversa com o AVB e até se saiu com um "Votas em mim que eu voto em ti" seguido de uma gargalhada.
Era incrível a mobilização, contava com muita gente mas não contava com aquele mar. As pessoas chegavam por vezes às 15 ou 20 de cada vez e cedo se começou a sentir que a maior parte das pessoas estavam ali para chumbar a alteração. Atrás de mim estava um pessoal mais velho, alguns com idade para serem meus pais, outros com idade para serem meus avôs. Fiquei a pensar que seriam pró-PdC mas rapidamente percebi pelas conversas que ia escutando que entendiam o assunto e que estavam bem conscientes da realidade do clube. Isso, junto com a mobilização enorme, orgulhou-me imenso e deixou-me muito confiante que se tudo corresse pela normalidade os estatutos seriam chumbados naquela noite.
Mas não correu. Acreditação feita à pressa, uma pulseira dada na garagem que servia para depois entrar no pavilhão onde 2 SPDE (!!!) controlavam a entrada. Entro à procura do melhor lugar para me sentar, acabo por ficar praticamente junto do Tiago Silva com quem cheguei a trocar uma palavra ou outra e com quem, inclusivé, fui obrigado a fugir mais tarde. Estava na bancada onde caiu porrada. Já tudo isto foi dito mas conto aqui a minha versão. Basicamente:
- Super Mamões entoam cânticos "PdC Allez" numa de testar as águas e ver quem estava ali para votar contra.
- Verificam que a bancada onde eu estava estava praticamente repleta dessas pessoas e rapidamente espalham pessoal por lá, cuja simples presença se torna intimidade e coação.
- Catão ao perceber que estava muita gente para votar contra começa aos berros durante 1 minuto para começarem a AG. Metade dos sócios ainda estavam lá fora.
- O presidente da MAG começa o golpe e de imediato se dirige para a mesa junto com os restantes. Sistema de som péssimo, não se entendia nada naquela bancada. PdC fala, os grunhos aplaudem e a "minha" bancada fica quieta. Duas ou três pessoas começam a gritar que não se ouve nada e, quando o presidente da MAG diz que fica contente por estarem tantos sócios, mais duas ou três pessoas gritam a dizer que metade estão lá fora. Na minha bancada ganha-se coragem e aplaudem.
- Isto leva ao Macaco vir para a grade, a cuspir-se todo, com as veias do pescoço quase a saltarem, a insultar as pessoas e a chamar de "ingratos". Há um sócio que responde e ele vem a correr para lhe bater e instala-se a confusão. Foi o Macaco o principal instigador da violência por isso que não venha cá com historinhas de que tentou acalmar os ânimos porque é MENTIRA. Eu vi.
- A partir dessa confusão toda aquela bancada começa a fugir porque os grunhos são cada vez mais ali. Foi aí que fugi também, saí do pavilhão, à saída vejo gente ainda a vir da garagem onde foi feito o processo de acreditação o que comprova que ainda havia sócios por entrar.
- Fui embora, quase a chorar de raiva onde acabo por escrever aquele mensagem que escrevi aqui. A quente, com muita raiva e com vergonha e nojo do que assisti.
Depois disto, qualquer respeito que ainda tinha pelo PdC, que já não era muito e cada vez era menos, foi-se embora. Preferia não ter nenhuma Liga dos Campeões e que isto não tivesse acontecido. Por isso a conversa da gratidão podem metê-la num sitio que eu cá sei porque a partir daquele dia isso deixa de ter qualquer valor para mim. O passado ninguém o apaga e estará para sempre ligado a grandes mudanças e grandes conquistas. Mas o valor que isso tinha para mim e que me permitia ainda respeitá-lo e nutrir algum tipo de carinho por ele mesmo não o apoiando, esvaziou-se. O PdC antigo era uma pessoa. O atual é outra.
A imagem dele sentado, a olhar como um mongo como se nada estivesse a acontecer, enquanto alguns eram agredidos pela PIDE que ele suporta, enquanto eu e centenas fugíamos com medo que sobrasse para nós... essa imagem eu não vou nunca conseguir desver quando olhar para a cara dele.