Trezentos quilómetros em Intercidades. Três horas de viagem. Sem lanchar ou jantar. Chegar ao Porto, seguir imediatamente para o metro, safar dez cêntimos a um camarada que não conseguia pagar o bilhete com o cartão, chegar ao estádio. Sair de lá no apito final, regressar a Campanhã: agora vão ser quatro horas de viagem - a loucura é compensada pelo facto de me ir custar mais no bolso dormir no Porto - e quase que consigo apostar o esquerdo em como as carruagens estarão pejadas de escumalha lampiónica.
O pior: fazer essa viagem completamente humilhado. Nem é pelo resultado, mas pelo que o resultado poderia ter sido. E nem é pelo que o resultado poderia ter sido, mas pela absoluta inação de um grupo de jogadores que, independentemente da parca qualidade que possam ou não ter, parecem entrar em campo apenas para mostrar as camisolas.
Pior ainda: perceber que o estádio se encheu de adeptos que também só foram mostrar as camisolas. Ver, do outro lado do estádio, o inimigo - rival é o caralho, rivais são o Boavista ou o Salgueiros ou até o Pasteleira, gente contra a qual se compete mas que se respeita - erguer uma tarja roubada a uma claque morta, insultar a memória do anterior presidente perante o silêncio das bancadas. Ao canto: a claque viva esforça-se por quebrar o marasmo e é prendada com as cacetadas dos frustrados do costume. No meio: o 3-0 a provocar a felicidade suprema de quem prefere perder assim para ter uma qualquer razão em termos políticos.
Pior, pior ainda: um presidente que sabe que teve a confiança da esmagadora maioria e que a desperdiça de uma forma nunca antes vista em 132 anos de história. Que teve de construir um plantel em cima do joelho, é certo, dada a mesquinhez de quem já lá não está, que falhou na escolha de um treinador, que falhou ao despedi-lo tardiamente, que contratou uma completa incógnita ou, pior (repito-me!), um gajo que a perder desta forma em casa contra o INIMIGO decide colocar um lateral e um central. Que se vangloria das contas certas, e sim senhor, muito bem, mas deixo-lhe uma citação de um livro que analisa o futebol à luz da economia, “Soccernomics”, de Simon Kuper e Stefan Szymanski: <<Fans shouldn’t want their clubs to make profits. If soccer becomes a hard-nosed profit-making industry, supporters may end up pining for the days when it was the worst business in the world.>>
E o pior de tudo: a enormíssima vontade de chorar, o desespero que me assola por ter chegado à conclusão - de cabeça quente, mas uma conclusão - que não será amanhã nem para o ano nem daqui a dez anos que nos reergueremos. É esta sensação de que tudo neste clube está morto que me desfaz o espírito. É a falta de fé o que me desconsola.
Dito isto, baixar os braços, a cabeça, pedir ou aceitar desculpas? Nunca, caralho! Nunca!