Trabalhadores pobres é outro assunto que dava para muita reflexão, mas é preciso acima de tudo compreender o que significa em termos práticos.
É um tema relativamente estável entre os diversos países da UE. Os 10% são comuns um pouco por toda a Europa. Mas a linha da pobreza é definida conforme uma percentagem do salário mediano no país, o que significa que países que têm uma diferença mais significativa entre rendimentos medianos e rendimento mínimo terão maior folga e, logo, conceitos diferentes de pobreza. É diferente ser pobre em Portugal com 500€ que não pagam um T0 na maior parte das cidades do país, ou ser pobre na Alemanha onde 1300€ te chegam e sobram para arrendar um T1 em praticamente todo o país, exceto talvez Berlim, Munique ou Frankfurt. Ou em casos extremos, no Luxemburgo, com os 2400€ da linha de pobreza, alugas uma casa e sobra-te dinheiro suficiente para viveres, sendo que nestes países quem recebe salário mínimo são os jovens não qualificados em início de carreira e não pessoas que estão a trabalhar na mesma empresa há 20 anos.
Uma coisa é certa: Portugal precisa de largar de vez a cultura do salário mínimo e apostar de vez na economia de consumo. Ainda durante a discussão do orçamento, o Calheiros deu uma entrevista a pedir benefícios fiscais para compensar o aumento do salário mínimo, porque colocava o setor do turismo em risco. Olhas para um setor com 400 mil trabalhadores, 1/4 dos quais vive com salário mínimo, e que apresentou lucro de 5 mil milhões de euros no ano passado. Fazes a conta aos 50€ por cada trabalhador, 70€ vá, tendo em conta os sobrecustos, e falamos de uma medida que custa ao setor 98 milhões de euros. Ou seja, menos de 2% dos lucros anuais. Falar de sustentabilidade é gozar com a cara dos trabalhadores.