Eles não têm proposta. Responsabilizar os imigrantes pela pobreza e criminalidade em Portugal é como barrar um rio com as mãos. Não há uma pessoa com dois dedos de testa que seja capaz de dizer, sem se rir, que se enviássemos de volta todos os imigrantes, Portugal ficaria melhor. Tens setores que morriam de um dia para outro, tens receitas da Segurança Social a aumentar - e em proporção muito maior aqueles que pedem apoio - o que refuta o argumento de que são subsidiodependentes.
Não é por acaso que todo este movimento político neonacionalista nasceu na França. Porque os franceses nunca souberam receber ninguém. Os portugueses que para lá emigraram nos anos 60 e 70 acabavam nos bidonvilles, porque ninguém lhes alugava casa, mesmo que tivessem dinheiro para pagar a renda. Se isso acontecia com os portugueses, europeus, brancos, cristãos, imagina o que faziam aos argelinos e marroquinos. Obviamente que a integração falhou redondamente. E, no entanto, tens crimes de portugueses em França, mas tens uma Le Pen a elogiar, décadas depois, a comunidade portuguesa para separar entre bons e maus imigrantes, distintos na cor. Por falar nisso, podemos falar dos processos de desvio de dinheiro da Le Pen, ou só interessa para a extrema direita quem rouba cêntimos?
Não considero a integração uma utopia. Considero é que falta vontade política para uma ação coordenada. Porque obviamente que a vinda de mais pessoas sobrecarrega os sistemas que já estão limitados à partida, mas que deviam ter muito maior capacidade para crescermos como país. Falamos de educação, seja no reconhecimento de competências ou na formação, mas também no ensino de línguas, seja no acesso à saúde e apoios sociais, mais não sejam burocráticos para ajudar na entrada e estabilização, seja na legalização com processos mais simplificados e rápidos - é de rir que não consigas marcar reunião presencial, por telefone remetem-te para o email, para o email ninguém responde - como também faz falta deixarmos de ser coninhas e colocar em prática um plano de habitação que contemple as 30% de habitações do país que estão desocupadas. Coercivamente ou não.
Os problemas dos imigrantes quando chegam são os mesmos que os dos portugueses. Mas Portugal tem um medo imenso de crescer. São várias gerações a cometer os mesmos erros, de que temos de viver numa bolha estrutural e a mudança trará todos os males ao mundo. Imagine-se, aprovarem-se decretos que de alguma forma mudem a forma como estou habituado a viver...
Fazes-me rir. O teu mundo real em que te metem 100 casos à frente dos olhos e fazes cherry-picking do que queres ver.
A diferença fundamental entre nós é que eu fiz uma carreira a arranjar soluções e isso implica ter uma visão global e compreender cenários macro, e tu vives no micro como um cavalo com palas a escolher o que vais ver a seguir. Não te vi uma única vez aqui a debater e a apresentar uma solução que seja. Se te focas nos problemas, não passas deles, especialmente quando nem percebes o porquê de eles existirem.