Tudo isto tem um quê de hilariante. Não se mencione sequer a inexistência de informação quanto aos fenómenos da discórdia. Qual é a relação entre imigração e segurança?, de que forma progrediu a criminalidade em relação à entrada de migrantes no país?, qual é o número de acessos indevidos ao sistema nacional de saúde?... Pouco ou nada se sabe. Sabe-se estatísticas da população prisional, da nacionalidade dos reclusos, e essas em nada corroboram a propalada avalanche de crime e perversão. Independentemente da gravidade dos problemas, terá de se aprimorar os instrumentos de medida. Também há forma de estudar o que fica por denunciar.
Agora... o que se espera? O sistema encontra-se desenhado para isto. Quais seriam as consequências de uma ideologia e prática económica que exulta o individualismo e a competição? Que divide, fragmenta e hierarquiza... Que, não satisfeita com isso, mantém a maioria numa pantanosa circunstância material: sobrevive-se sem que se viva com qualidade; sem que haja uma melhoria congruente com o desenvolvimento económico global, o aumento de produtividade e o progresso tecnológico... As pessoas estão ensimesmadas no seu dia-a-dia, lutam para suprir as suas necessidades, pagar despesas mensais, progredir nas carreiras... Filhos?
Por outro lado, os princípios da maximização do lucro e da expansão dos mercados têm como corolário lógico a exploração do trabalho: quer se dê através da mão-de-obra importada, quer aconteça com a exportação dos empregos. E agora queixam-se que os desgraçados do terceiro mundo vêm para cá trabalhar por uns trocos, manter o saldo populacional e a viabilidade das reformas? Lamentam-se os trabalhos perdidos que deliberadamente se enviaram para outros pontos do mundo?... Tratam-se de consequências necessárias de um sistema de libertinagem económica e financeira que perdeu de vista o bem comum e a verdade radical de que o ser humano vive colectivamente (e colectivamente produz riqueza) e que, por isso, deve preocupar-se não só consigo próprio mas também com a sociedade.