Por regra, quando indivíduos como José Gomes Ferreira, David Dinis e a tropa reaccionária do Observador surgem coordenados com uma indignação comum, é quase certo que se trata de um tema que está a ser manipulado para provocar o maior alarme popular possível, numa tentativa de desacreditar a maioria parlamentar de esquerda. É isso que lhes resta, desacreditar a instituição como um todo, pintando o conjunto dos deputados como uma massa disforme de pessoas com más intenções, que apenas se preocupam com o próprio umbigo. É precisamente isso que é esta campanha de indignação sobre as alterações à lei do financiamento dos partidos, que parece tirada ipsis verbis dos manuais do populismo.
Quando o caso saiu nas notícias, José Gomes Ferreira e Companhia começaram por dizer que a lei acaba com o tecto do valor para financiamento dos partidos. Era mentira.
Disseram que todo o processo foi feito em meia dúzia de dias e sempre às escondidas. Era mentira.
Disseram que os partidos passam a ter completa liberdade nos processos de angariação de donativos, com menos fiscalização da autoridade competente. Era mentira.
E, por fim, o oportunista truque de tentar beneficiar o CDS-PP neste caso, promovendo-o como "o partido que votou contra esta vergonha". Com o PSD defunto, o CDS-PP é a grande esperança que a direita tem para recuperar votos, almejando uma eventual coligação com o PS. Pois bem, a malta do CDS-PP sabia bem que a alteração à lei não precisava dos seus votos, mas mantiveram-se calados ao longo dos meses em que a proposta foi sendo elaborada. Quando chegou a hora da votação, votaram contra, sabendo que os seus votos seriam irrelevantes e que, de qualquer forma, beneficiariam sempre da lei. Após este número de teatro, ligaram para os seus contactos na comunicação social e promoveram o caso como um grande escândalo, alegando terem sido os únicos virtuosos que lhe fizeram frente.
Perceberam o truque?
Vale bem a pena analisar melhor a alteração à lei e debater vários dos seus aspectos, como a isenção do IVA nos eventos dos partidos, por exemplo. Mas esta tentativa de criar um novo escândalo com este tema, anunciando-o como um confronto entre os ímpios da política contra os virtuosos cidadãos anónimos, é sinal de que a direita portuguesa - a do parlamento e a da comunicação social - está mesmo disposta a tudo para arruinar a confiança nas instituições e afastar os cidadãos do debate político.
É que, sempre que o eleitor perde interesse na política, é sempre a direita que sai a ganhar. Sempre.
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