Essa ideia de que “se o povo do Irão realmente quisesse liberdade, já teria derrubado o regime” é uma simplificação perigosa — e, honestamente, um pouco ingénua.
Não é assim que funcionam regimes autoritários. Se fosse só uma questão de "não alinhar com a doutrina", a história mundial estava cheia de revoluções relâmpago e democracias instantâneas. Mas o Irão é uma teocracia altamente repressiva, com um dos aparelhos de segurança interna mais brutais do mundo — onde manifestações são frequentemente reprimidas com prisão, tortura e execuções sumárias.
Aliás, já houve várias revoltas populares no Irão: o movimento verde de 2009, os protestos massivos de 2017 e 2019, a onda de manifestações em 2022 após o assassinato de Mahsa Amini pela polícia da moral. E sabes o que aconteceu? Milhares de detenções, perseguições, centenas de mortos, tortura, repressão, familias inteiras dizimadas, e nenhum espaço para oposição real.
Repressão e espírito de revolta no Irã marcam os dois anos da morte de Mahsa Amini - SWI swissinfo.ch
A ideia de que os povos oprimidos “não se libertam porque não querem o suficiente” é confortável para quem vive em liberdade, mas não resiste ao mínimo contacto com a realidade. É um argumento ao nível de uma mulher que sofre violência doméstica durante anos é "porque gosta" e "porque quer lá estar, se quisesse já tinha saído".
A única forma do Irão se libertar seria com uma intervenção de uma força estrangeira, coisa que ninguém faz, porque é perigoso, iria envolver aliados do Irão, como a Rússia e a China e é uma zona estratégica de reservas naturais cuja instabilidade iria afetar toda a gente e acima de tudo ia afectar o equilibrio geo-estratégico entre o ocidente e as potências referidas anteriormente.
ps: nem sequer mencionei o facto da revolução islâmica do irão ter sido despoletada uns anos antes por uma intervenção militar dos USA e do Reino Unido motivada por interesses meramente económicos.
