O Durão não era já um oportunista? Conseguias dizer, na altura - algo muito difícil, tendo em conta o que sabemos hoje -, que aquele tipo podia simbolizar um dia o apogeu do capitalismo?Conheci o Durão Barroso, Ana Gomes, Jorge Coelho, a "Mimi Tsé Tung" que era um escroque e como Procuradora não foi melhor, o marido Saldanha Sanches um oportunista e tantos outros inclusive o Pacheco Pereira que liderava um Partido Maoísta diferente do meu (PCP-ML o dele) e como morávamos perto um do outro, embora tivesse estado com ele em Paris antes do 25 de Abril, tínhamos inúmeras discussões sobre o que nos dividia - outros tempos, uma ilusão sobre o mundo que não existe hoje em dia.
Sobre o votar PS depois de ter votado Sá Carneiro é fácil de explicar; Sá Carneiro morreu naquela trágica viagem e eu soube disso quando me dirigia para o Coliseu para o ouvir - já não fui e voltei para casa. Sem Sá Carneiro o PSD não era o mesmo e não tenho a certeza se nas seguintes votei PS, creio que estava em Israel nessa altura e desligado da política de cá em absoluto, depois houve aquela dura batalha presidencial entre Mário Soares e Freitas do Amaral um confronto duro mas leal entre esquerda e direita e optei claramente pelo Soares. Um Freitas do Amaral que eu já conhecia aquando do cerco ao Palácio de Cristal, fui dos negociadores que entrou lá dentro para resolver aquilo e estava à vista uma dura batalha sangrenta entre extrema esquerda e direita cá fora, e tinha uma ideia totalmente oposta dele quando falei com ele e me disse e os olhos não mentiam; eu não sou fascista, sou democrata e quero contribuir para o meu País. A seguir às eleições presidenciais perdidas teve que arcar com quase todas as despesas porque Cavaco não cumpriu o prometido. O resto sabes o percurso dele até morrer.
Sobre o Pacheco Pereira: possuía naquele tempo a tendência que tem hoje de ser do contra em tudo?
Compreendo a parte do Sá Carneiro. A AD continuou, sob a liderança do Balsemão, e nunca foi a mesma coisa. Aliás, ao contrário do que muitos dizem, a culpa da crise de 1983 e da respetiva intervenção do FMI não foi do governo do bloco central, de Mário Soares e Mota Pinto (um senhor esquecido hoje em dia, mas com uma dignidade ímpar), mas sim desse governo da AD pós morte de FSC, sem contar com as aventuras do pós-25 de abril.
No que toca ao Professor Freitas do Amaral, tudo o que disseste é uma absoluta verdade. Sempre foi um centrista, em termos de política e de feitio, independentemente de ser um discípulo do Marcello Caetano, relação aliás que se cingia ao Direito e à vida pessoal. Um homem brilhante, teria sido um PM ou um Presidente extraordinário.
Nesse sentido, aconselho, para quem tiver interesse, os livros dele de Direito e de Ciência Política. A sua forma de escrever, simples mas bela, torna a aprendizagem desses assuntos prazerosa. Muito me ajudaram as suas lições. Cinco anos após a sua morte, continuam a ser manuais de referência nas disciplinas em questão.