Compreende-se a furiosa tentativa de mudança com o voto em Bolsonaro. Não se recomenda perfis do género, mas, dada a situação do país, a opção poderá ser racionalmente interpretada. Sem garantir a satisfação de necessidades básicas, como a segurança ou as que decorrem da corrupção massiva , questões relacionadas com direitos, princípios, valores políticos, sociais, éticos, etc. tornam-se secundárias. Não adianta pregar sobre a importância dos processos democráticos a quem receia sair à rua e levar um tiro na mona ou sente que a actuação dos políticos lesa gravemente a sua vida. As pessoas não quererão saber. Os intelectuais devem por isso recordar que, muitos deles, não são brasileiros, não vivem no país, não enfrentam as mesmas dificuldades,
As circunstâncias são decisivas. Nascêssemos noutro sítio e teríamos outra visão dos assuntos. Houvesse o mesmo nível de corrupção e insegurança em Portugal e começaríamos a ver os bolsonaros lusitanos com outros olhos.
No entanto, o relativismo moral dos que, fora do Brasil, branqueiam olimpicamente os comportamentos do futuro presidente é muito revelador. Defesa da ditadura, discurso de ódio, homenagem a torturadores
nada? Já não é tão compreensível. O citado João Miguel Tavares, tratando analiticamente o assunto, procurando motivos além dos preconceitos e estupidez dos eleitores, afirma claramente que Bolsonaro é um troglodita. Essa é uma diferença fundamental.