Como? Porque o governo acabou com as PPPs da saúde, quando algumas delas funcionavam bem como o hospital de Braga?
Quando houve a pandemia, porque o governo não quis fazer acordos com privados para atender doentes não covid?
Porque não promover mais alternativas em vez de centralizar tudo no SNS?
Os enfermeiros são talvez uma das classes que mais emigra.
Depois Costa promete médicos de família para todos, enfim como se não conhecêssemos o Costa e o valor das suas promessas.
A ideologia política passa à frente de tudo.
Existem tantos problemas no SNS, com tantos responsáveis, este governo inclusive, que espero que tenhas mais opções do que apenas umas PPP's.
1) Há pelo menos 25 anos que se fala de problemas com as condições de trabalho dos médicos. Sei, porque quando fiz uma rutura total do menisco em 96, fiquei 10 horas nas urgências à espera dum médico para me fazer um raio X, estavam em greve;
2) Fala-se também da falta de médicos há 25 anos, e há 25 anos que as universidades se recusam a abrir mais vagas para medicina, de tal forma que os portugueses vão a Espanha tirar os cursos;
3) Quando se falou, talvez há uns 15 anos, de aumentar os salários na saúde, ouviram-se "Já recebem muito" ou "Outras profissões no público são mais carenciadas, querem ganhar mais, vão para o privado". E foram;
4) Vários países vêm cá buscar médicos, enfermeiros e auxiliares quando estes ainda não saíram da universidade. Com salários bem superiores aos que o serviço público português alguma vez poderia oferecer. O problema da falta de médicos não é exclusivo de Portugal;
5) Lembro-me da manifestação que houve quando se falou de ir buscar médicos a Espanha, porque era necessário era "dar oportunidades" aos portugueses. Os tais que estavam a emigrar antes de acabarem o curso;
6) Os subsídios aos privados para substituição ou complemento das especialidades do serviço acabam por serem prejudiciais ao próprio serviço. Porque os privados que fornecem esses serviços são pagos com dinheiro público, e competem diretamente com o SNS na contratação dos especialistas dessa área, desprovendo ainda mais as condições do público, que assiste à constante razia de médicos, que por sua vez piora a situação para os que lá ficam;
7) A questão das PPP seria uma questão transversal a todo o serviço público e não só à saúde. Prende-se com a dificuldade na contratação pública, imensamente burocrática e o contorno com a gestão privada na assunção de riscos e de investimento.
Nada disto tem solução fácil.
• Se cortares os subsídios da especialidade, poderás ter a médio prazo um regresso de especialistas à base, mas o tempo decorrido entre o corte de prestação do privado até à criação ou sustentação no público irá prejudicar os utentes e aumentar o caos do serviço público;
• Se insistires nas PPP's, não há retorno a um SNS público, e ficas refém dos valores que os privados te quiserem continuar a cobrar. Podes ser a favor das PPP's, mas é precisamente a existência de uma parte pública do SNS que previne que a saúde não se torne 100% negócio, portanto o equilíbrio tem de ser mantido;
• Mais vagas de medicina implicam mais universidades;
• A resolução de uma vez por todas da contratação pública (leia-se também, do despedimento público), seria uma lufada de ar fresco em toda a administração pública;
• Mais fixação de médicos requer melhores salários, mas também melhores condições. Quantos menos médicos existem, menos condições consegues criar, o tal ciclo vicioso de degradação. Tens uma solução a curto prazo que é ir buscar batalhões de médicos ao Brasil, Índia, etc, mas imagino o ruído que isso causará, no público e na ordem. Para não falar de que o privado conseguirá sempre competir com os salários do público, e esse aumento de custo terá proporcionalidade direta nos serviços cobrados;
• Regimes de exclusividade e obrigatoriedade seriam soluções interessantes em nome do serviço público, que obviamente os médicos estão contra. Porque o país fornece formação, garante estágios, mas mal estão livres querem é ir para o privado ou fazer serviço nos dois (nem falo daqueles que usam o público para angariar clientes na sua prática).
Alterações radicais são necessárias, mas já o são há muito tempo. E algumas delas não serão populares, daí a razão de terem sido evitadas pelos sucessivos governos.
Depois ainda temos a politização, infeliz, das ordens, que procuram criar intencionalmente instabilidade (mais a dos enfermeiros) no setor sem vantagem nenhuma para as suas classes, e não oferecem uma alternativa viável para o melhoramento do serviço.