Nos manuais de história (sobretudo história do século XIX para cá) nunca se contextualiza nem aprofunda nada. Podiam ter sido todos escritos pelo José Rodrigues dos Santos.A própria União Soviética via este brotar de sociedades anárquicas com sucesso na Espanha como uma ameaça ao próprio comunismo e ao poder central. Como forneciam armas à República, fartaram-se de fazer pressão e impor obediência ao poder central. Inclusive chegou a haver confrontos armados entre anarquistas e comunistas em 1937, o que acabou por enfraquecer a frente antifascista. Do outro lado, com a ajuda dos nazis, dos fascistas italianos e da própria igreja católica esmagaram as forças revolucionárias. E depois tinhas as próprias democracias ocidentais que também viam os anarquistas como ameaça ao poder central e não prestaram qualquer auxílio. Independente do vigor e prosperidade daquelas sociedades, estavam, de facto, condenadas ao fracasso fruto de diversos fatores externos e do contexto da época.
Infelizmente, nos manuais do história isto nunca é abordado. Fala-se por alto da Guerra Civil Espanhola e ignora-se por completo uma das experiências mais autêntica e prometedora da história revolucionária moderna.
"Homenagem à Catalunha" de Orwell e "O Curto Verão da Anarquia" de H.M. Enzensberger foram se calhar os dois livros que mais contribuíram para que eu nunca tenha simpatizado com o ideário comunista. E a experiência anarquista em Espanha foi uma coisa muito bela, mas também muito irrealista. Talvez tivesse resultado melhor cem ou duzentos anos antes, quando o poder do estado ainda não era avassalador. Além de que nos anos 30 o impulso geral ia todo no sentido do fortalecimento do estado, e portanto os anarquistas estavam completamente em contra-ciclo. Não tinham hipóteses nenhumas. Olha, mas pelo menos deixaram um herói popular, Durruti, e algumas das canções revolucionárias mais bonitas de sempre. Nem tudo se perdeu!
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