Actualidade Nacional

Dagerman

Tribuna Presidencial
1 Abril 2015
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A própria União Soviética via este brotar de sociedades anárquicas com sucesso na Espanha como uma ameaça ao próprio comunismo e ao poder central. Como forneciam armas à República, fartaram-se de fazer pressão e impor obediência ao poder central. Inclusive chegou a haver confrontos armados entre anarquistas e comunistas em 1937, o que acabou por enfraquecer a frente antifascista. Do outro lado, com a ajuda dos nazis, dos fascistas italianos e da própria igreja católica esmagaram as forças revolucionárias. E depois tinhas as próprias democracias ocidentais que também viam os anarquistas como ameaça ao poder central e não prestaram qualquer auxílio. Independente do vigor e prosperidade daquelas sociedades, estavam, de facto, condenadas ao fracasso fruto de diversos fatores externos e do contexto da época.

Infelizmente, nos manuais do história isto nunca é abordado. Fala-se por alto da Guerra Civil Espanhola e ignora-se por completo uma das experiências mais autêntica e prometedora da história revolucionária moderna.
Nos manuais de história (sobretudo história do século XIX para cá) nunca se contextualiza nem aprofunda nada. Podiam ter sido todos escritos pelo José Rodrigues dos Santos.

"Homenagem à Catalunha" de Orwell e "O Curto Verão da Anarquia" de H.M. Enzensberger foram se calhar os dois livros que mais contribuíram para que eu nunca tenha simpatizado com o ideário comunista. E a experiência anarquista em Espanha foi uma coisa muito bela, mas também muito irrealista. Talvez tivesse resultado melhor cem ou duzentos anos antes, quando o poder do estado ainda não era avassalador. Além de que nos anos 30 o impulso geral ia todo no sentido do fortalecimento do estado, e portanto os anarquistas estavam completamente em contra-ciclo. Não tinham hipóteses nenhumas. Olha, mas pelo menos deixaram um herói popular, Durruti, e algumas das canções revolucionárias mais bonitas de sempre. Nem tudo se perdeu!
 
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Dagerman

Tribuna Presidencial
1 Abril 2015
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braggadocio de redes sociais, o paleio do costume, os nossos emigrantes são bons, quem vem para cá é mt mau e vem viver dos nossos subsídios sem respeito nenhum pela nossa cultura. como sabemos a Joanoca nunca foi propriamente uma defensora dos nossos valores patriotas.
Enfim, “o estes são os meus valores mas se não gostar não faz mal, que tenho outros” primeiro era uma piada, agora é um modo de vida. Sdds dos fachos seminais, do pinto Coelho, do “estou aqui porque sou português” e do “li na internet que 90% dos maricas são pedófilos”. Pelo menos essa malta acreditava no que dizia.
Como raramente ligo a televisão e nunca frequentei redes sociais, não posso dizer que estou 100% informado sobre o que pensa ou diz a JAD, mas acho que estás enganado quando dizes que o ADN é igual ao Chega ou ao Ergue-te. Nunca ouvi da JAD nenhuma declaração que me soasse racista ou xenófoba, ao contrário do que li ou ouvi de tipos destes dois partidos. Mostra-me aí um vídeo dela a dizer morte aos hindus (se puder ser em topless melhor).
 

Moradona

Bancada central
18 Maio 2025
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Nos manuais de história (sobretudo história do século XIX para cá) nunca se contextualiza nem aprofunda nada. Podiam ter sido todos escritos pelo José Rodrigues dos Santos.

"Homenagem à Catalunha" de Orwell e "O Curto Verão da Anarquia" de H.M. Enzensberger foram se calhar os dois livros que mais contribuíram para que eu nunca tenha simpatizado com o ideário comunista. E a experiência anarquista em Espanha foi uma coisa muito bela, mas também muito irrealista. Talvez tivesse resultado melhor cem ou duzentos anos antes, quando o poder do estado ainda não era avassalador. Além de que nos 30 o impulso geral ia todo no sentido do fortalecimento do estado, e portanto os anarquistas estavam completamente em contra-ciclo. Não tinham hipóteses nenhumas. Olha, mas pelo menos deixaram um herói popular, Durruti, e algumas das canções revolucionárias mais bonitas de sempre. Nem tudo se perdeu!
Eu não lhes chamaria irrealistas, foram experiências bem realistas e bem sucedidas, mas entendo perfeitamente o ponto de vista e concordo no geral.
 

Dagerman

Tribuna Presidencial
1 Abril 2015
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No 9. ano, por exemplo, são 100 minutos por semana para falar desde a conferência de Berlim até ao 11 de Setembro.
Não dá para falar de tudo.
O problema maior nem é o tempo lectivo, é o facto de os manuais de história serem muito mais ideológicos do que se pensa. A história está muito longe de ser uma ciência, e muitas vezes não é mais do que a interpretação dos acontecimentos proposta pelos vencedores. Por exemplo, a versão das causas da Primeira Guerra mundial que nos é dada na escola é completamente infantil. Um gajo saía do 9º ano acreditar que metade da Europa mergulhou num conflito ruinoso e que ceifou milhões de vidas só porque um príncipe qualquer foi assassinado na Sérvia. Ridículo. Entretanto, o papel dos banqueiros ou da monarquia britânica na instigação do conflito fica no segredo dos deuses, ou só é acessível a quem decidiu aprofundar conhecimentos lendo obras mais especializadas sobre o tema.
 

Edgar Siska

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Ao pé da praia
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A própria União Soviética via este brotar de sociedades anárquicas com sucesso na Espanha como uma ameaça ao próprio comunismo e ao poder central. Como forneciam armas à República, fartaram-se de fazer pressão e impor obediência ao poder central. Inclusive chegou a haver confrontos armados entre anarquistas e comunistas em 1937, o que acabou por enfraquecer a frente antifascista. Do outro lado, com a ajuda dos nazis, dos fascistas italianos e da própria igreja católica esmagaram as forças revolucionárias. E depois tinhas as próprias democracias ocidentais que também viam os anarquistas como ameaça ao poder central e não prestaram qualquer auxílio. Independente do vigor e prosperidade daquelas sociedades, estavam, de facto, condenadas ao fracasso fruto de diversos fatores externos e do contexto da época.

Infelizmente, nos manuais do história isto nunca é abordado. Fala-se por alto da Guerra Civil Espanhola e ignora-se por completo uma das experiências mais autêntica e prometedora da história revolucionária moderna.
Os italianos ainda ajudaram mais, em número e género do que os alemães nazis, que acabam por ficar mais famosos digamos assim devido às aventuras da Legião Condor e a sua preciosa ajuda no transporte das tropas que Franco tinha estacionadas no norte de Marrocos, o "Heer" alemão não investiu assim tanto na Guerra Civil Espanhola, tinha os seus afazeres em casa a preparar as intervenções que iriam despoletar a II Guerra.

A URSS também, diretamente para lá de fornecimento de armas e aviões (obsoletos) em termos militares pouco contribuiu, conselhia sobretudo, tanto que enviou o Berzin que nem sequer era um militar do exército mas um agente da inteligência da GRU.

A Guerra Civil Espanhola é um conflito complexo, e as alianças contra os nacionalistas eram muito de ocasião e fracturadas, o que naturalmente acabou por redundar na queda da República Espanhola.
 
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Não sou especial adepto do anarquismo, é inorgânico à natureza humana. A autogestão não passa de um sonho lindo, idealista, contemporâneo e parvo mas completamente impossível em cenários macro.
Bons para gerir o Reino do Pineal no máximo...e e e...há de alguém acabar por estabelecer uma ordem para os males dos sonhos utópicos Proudhonianos.
 

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Eu não lhes chamaria irrealistas, foram experiências bem realistas e bem sucedidas, mas entendo perfeitamente o ponto de vista e concordo no geral.
Eu chamo-lhes irrealistas tendo em conta o contexto histórico em que surgiram, mas também porque acredito que há muito de utópico no anarquismo (como aliás no comunismo, embora em menor grau). Em poucas palavras, o anarquismo é uma teoria política perfeita, mas foi concebida para anjos, não para seres humanos reais. Eu sei que o grande biólogo anarquista Kropotkine apresenta inúmeros exemplos de cooperação e simbiose na natureza, mas sós somos uma raça filha da puta e super-competitiva, que a partir do momento em que descobriu o fogo se tornou uma espécie à parte, e que só coopera entre si em tempos de crise ou quando é para ir limpar o sebo à tribo vizinha! Há um livro muito bom sobre esta dinâmica social de cooperação/competição na história chamado "War, Peace and War" de Peter Turchin.
 

Dagerman

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1 Abril 2015
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Os italianos ainda ajudaram mais, em número e género do que os alemães nazis, que acabam por ficar mais famosos digamos assim devido às aventuras da Legião Condor e a sua preciosa ajuda no transporte das tropas que Franco tinha estacionadas no norte de Marrocos, o "Heer" alemão não investiu assim tanto na Guerra Civil Espanhola, tinha os seus afazeres em casa a preparar as intervenções que iriam despoletar a II Guerra.

A URSS também, diretamente para lá de fornecimento de armas e aviões (obsoletos) em termos militares pouco contribuiu, conselhia sobretudo, tanto que enviou o Berzin que nem sequer era um militar do exército mas um agente da inteligência da GRU.

A Guerra Civil Espanhola é um conflito complexo, e as alianças contra os nacionalistas eram muito de ocasião e fracturadas, o que naturalmente acabou por redundar na queda da República Espanhola.
Uma "aliança" de republicanos, anarco-sindicalistas, comunistas e trotsquistas. Fdx, tinha tudo pra dar certo!
 
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Não sou especial adepto do anarquismo, é inorgânico à natureza humana. A autogestão não passa de um sonho lindo, idealista, contemporâneo e parvo mas completamente impossível em cenários macro.
Bons para gerir o Reino do Pineal no máximo...e e e...há de alguém acabar por estabelecer uma ordem para os males dos sonhos utópicos Proudhonianos.
Sendo institucionalista e tendencialmente formalista, o anarquismo é algo que me repugna particularmente.

Mesmo um Reino do Pineal não é anárquico. É impossível a mais pequena das comunidades subsistir durante muito tempo desse modo.

Os anarquistas vão beber à teoria do direito natural, que a propósito não rejeito. No entanto, o direito natural tal como eles o concebem não é suficiente para regular o quotidiano. Os romanos perceberam isso há muito, mas os anarquistas ainda estão nos tempos da Mesopotâmia...
 
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Sendo institucionalista e tendencialmente formalista, o anarquismo é algo que me repugna particularmente.

Mesmo um Reino do Pineal não é anárquico. É impossível a mais pequena das comunidades subsistir durante muito tempo desse modo.

Os anarquistas vão beber à teoria do direito natural, que a propósito não rejeito. No entanto, o direito natural tal como eles o concebem não é suficiente para regular o quotidiano. Os romanos perceberam isso há muito, mas os anarquistas ainda estão nos tempos da Mesopotâmia...
Como eu disse, até no Reino do Pineal eventualmente existiria um conflito que levaria ao estabelecimento de uma ordem.
Colocando aqui eu o ênfase em "conflito" que é o que surge normalmente da tentativa de aplicação dessas teorias utópicas bonitas no papel.
 
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Como eu disse, até no Reino do Pineal eventualmente existiria um conflito que levaria ao estabelecimento de uma ordem.
A questão jurídica é mesmo, a meu ver, a maior fraqueza do anarquismo.

Se olharmos a ordem jurídica internacional, vemos que a sua eficácia é diminuta, precisamente por não existir um aparelho coativo que possa reprimir os infractores. E é uma ordem jurídica positiva, com algum grau de vinculatividade, imagine-se o anarquismo.

Além disso, desejo boa sorte aos anarquistas para conseguirem prevenir aquilo que consideramos como crimes. Se acham que vão lá através de conversa e mediação...enfim.

De todo o modo, acho uma ideia mais bela no papel do que o comunismo. Pena que não tenha qualquer efectividade.
 

bluemonday

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Se fosse um líder de um partido comunista, seria um Ventura de esquerda. Levaria um PCP desta vida aos 15% com muita facilidade.

É tão fácil tornar apelativo um discurso populista de esquerda, a questão é que os políticos dessa área estão muito fracos.
 

Dagerman

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Sendo institucionalista e tendencialmente formalista, o anarquismo é algo que me repugna particularmente.

Mesmo um Reino do Pineal não é anárquico. É impossível a mais pequena das comunidades subsistir durante muito tempo desse modo.

Os anarquistas vão beber à teoria do direito natural, que a propósito não rejeito. No entanto, o direito natural tal como eles o concebem não é suficiente para regular o quotidiano. Os romanos perceberam isso há muito, mas os anarquistas ainda estão nos tempos da Mesopotâmia...
O direito natural é suficiente para regular o quotidiano, mas só em comunidades primitivas, nunca numa sociedade complexa (que a Mesopotâmia já era) e muito menos numa sociedade industrial.
Mas em teoria, e também na prática, é possível criar bolsas de comunidades anarquistas no seio duma sociedade complexa. Não costumam é durar muito tempo, e normalmente sucumbem a pressões internas, mais até do que externas. As únicas comunidades intencionais que conseguem subsistir como bolha dentro duma soceidade maior são comunidades unidas pela cola religiosa, como os amish ou os menonitas.
 

Edgar Siska

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Foi o que pode arranjar na altura, mas é óbvio que a partir do momento em que a Inglaterra e a França optaram pela neutralidade, a república espanhola estava condenada.
O pessoal estava muito queimado da 1ª guerra, ainda estava no appeasement ao Hitler nessa fase. Se bem que a Alemenha e a URSS também assinaram a neutralidade e foram para lá fazer umas observações no campo, bombardear uns civis e tal.
A França até assinar ainda mandou uns aviões.
 
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