O apagamento do eu e a instrumentalização da pessoa não é uma percepção, é mesmo uma consequência lógica do comunismo, seja no papel, seja na prática (ver, acerca disso, o meu comentário anterior a este que agora escrevo.
Essa é uma das grandes incoerências de Marx. A (extrema) atenção às desigualdades materiais das pessoas e a indiferença, senão mesmo repulsa, face às diferenças de outro tipo.
Para Marx, abolir o capitalismo seria sempre necessário, ontem ou hoje. Concebia-o como um sistema condenável e condenado, fadado à morte.
"Ah, mas vendo hoje o progresso da social-democracia e de outras correntes derivadas, Marx moderar-se-ia" - não. Já existiam os rebentos na altura e Marx acusava os seus autores de serem cobardes, porquanto rejeitavam a necessidade de uma revolução proletária.
Diga-se, aliás, que o alemão projetava a revolução proletária como sanguinária, não era nada pacífica. E o que se seguia? A ditadura do proletariado, usando e abusando o Estado do seu aparelho coativo para impor os princípios, valores e fins do comunismo.
Marx nunca concretizou como se passaria dessa ditadura do proletariado para a sua utópica sociedade comunista sem classes nem Estado.
Individualidade? Marx condenou certas etnias (judeus), incentivou a perseguição à religião, achava a instituição da família uma aberração (indo beber certas ideias nesse âmbito a Platão), repugnava a liberdade nas suas mais diversas formas e rejeitava interesses próprios dos trabalhadores.
Já agora: és a favor de sociedades de baixo para cima, e eu também sou, mas Marx defendia uma centralização do poder.