@bluemonday
O que distingue o radicalismo e o extremismo não se prende necessária ou exclusivamente com a reprodução de um pretenso sentimento popular. Muitos demagogos radicais reproduziam a voz do povo... não deixavam de ser radicais na acção e no conteúdo, nos instrumentos e na forma. Não creio que a assumpção temática da insegurança por parte do PSD, opção legítima, se tenha materializado unicamente em práticas não-populistas. Colocou-se a tónica nas tais percepções, tivemos conferências de imprensa dedicadas ao tema dirigidas pelo primeiro-ministro (
Montenegro é o comandante da PSP? ), temos a duplicidade de Moedas... uma Lisboa insegura para a política interna e uma Lisboa segura para estrangeiro ver e investir... Há matéria suficiente para uma crítica de deriva populista, de um modo de fazer política populista, independentemente da posição dos eleitores.
As inclinações históricas do sistema partidário português não se mantêm apesar da realidade nem a ela se sobrepõem, como se esse sistema pudesse apenas ser influenciado por factores passados (e permanentes), impermeável ao presente. Pelo contrário, expressam a realidade actual. Neste momento, à semelhança do que acontece em muitos outros parlamentos, predomina a direita. A política nacional encontra-se hoje inquinada à direita. Pouca ou nenhuma expressão política e mediática alcançam as agendas do Livre, PCP ou até mesmo do Bloco. Um partido de direita radical consegue em grande medida influenciar o dia-a-dia da política nacional, tendo uma expressão eleitoral superior à de todas as forças à esquerda do PS. O sucesso da IL é outra expressão do novo ordenamento político. De nada importa que o PSD tenha nascido centrista, centro-esquerda, social-democrata, ... até porque, como discutimos aqui, o PSD posiciona-se agora mais à direita, procurando inclusive conquistar eleitorado do Chega.
Há um outro plano: todos estes partidos nacionais laboram numa ordem mundial influenciada sobretudo por tendências económicas de direita. E essa é uma realidade maior que se impõe aos partidos e às próprias sociedades. Pouco importará ser-se de esquerda se as possibilidades de governação se encontrarem previamente delimitadas.
Bem, o Barroso, em juventude, era maoísta. Já a opção por terminar contratos de associação é razoável, tal como seria a de declinar parcerias público-privadas na saúde. As decisões poderão até ter consequências concretas negativas, mas não revelam qualquer tipo de extremismo. Não se proibiu a iniciativa privada no sector da educação, cessou-se o financiamento público de algumas entidades privadas.
... pois não me parece que Sá Carneiro aprovasse Passos e muitos dos seus discípulos e associados, entre os quais Montenegro, que entretanto se redescobriu redistribuidor de riqueza. Eventualmente torceria o nariz a parte significativa dos posicionamentos que o PSD defende hoje em matérias económicas. Os partidos, também eles, evoluem. Alexandra Leitão não só cabe no PS como já assumiu funções de relevo na governação, não apenas no próprio partido. O perigoso esquerdista PNS obteve menos uns pozinhos percentuais que a AD após um escândalo no seu próprio governo, não nos esqueçamos.