Em relação às tuas questões, e passando à frente o ser ou não especialista, começo pelo porquê de achar que o Presidente está errado nesta opção. Para o demonstrar, antes de tudo é preciso perceber o que se pretende da obra. Sendo nós um clube desportivo, eu diria que o principal objectivo de uma obra desta magnitude será melhorar o desempenho das nossas equipas (nas mais diversas modalidades e escalões), proporcionando-lhes sobretudo melhorias em dois âmbitos: desportivo e logístico.
O Desportivo faz-se aumentando a qualidade do treino e de todos os serviços associados diretamente à performance do atleta (departamento médico, nutrição, psicologia, etc.). O Logístico faz-se aumentando o conforto dos atletas naquilo que são as suas rotinas diárias.
Olhando à realidade actual do clube, temos as equipas A e B a treinar no Olival e a Equipa A feminina a treinar entre Olival e Pedroso. O CAR iria permitir ter as 3 no mesmo espaço com melhores condições, juntando-se a estas equipas os Sub-19 masculinos.
Na Formação, onde temos 18 equipas de competição masculinas e 2 femininas, temos as nossas equipas a treinar em 4 espaços distintos: Olival (Sub-19 e Sub-13 a Sub-7), Constituição (Sub-14 a Sub-16), Pedroso (Sub-17) e Estádio Universitário (Sub-17 e Sub-19 femininos), dispersos por 5 horários distintos (09h00, 11h00, 16h00, 18h00 e 19h30). Para além destes espaços, é determinante para compreender toda a logística saber que a partir dos Sub-14 todos os atletas estão inseridos no nosso contexto de ensino, ficando divididos entre a Escola Maria Lamas e o Colégio Júlio Dinis. A esta realidade é ainda preciso acrescentar a Casa do Dragão, afastada de qualquer um destes pontos acima referidos.
Retirando os Sub-19 a esta contabilidade, que iriam para o CAR, todas as restantes equipas iriam para o Olival, num total de 19 equipas. Isto sem contar com o crescimento do futebol feminino, cujos escalões dos Sub-16 para baixo estão, à data, sob responsabilidade da Dragon Force, mas cujo objectivo é que a pouco e pouco passem para a esfera do Departamento de Formação.
Antes de olharmos para o Olival, referir que tanto o Olival como o CAR (no terreno em que está projectado), não têm possibilidade de expansão. Ou seja, o que se decidir fazer agora, será o que teremos para toda a nossa realidade nos próximos 25/30 anos.
Em relação ao Olival, o que teremos aí no futuro será o que temos agora: 4 campos para treino e um Mini-Estádio. Desses 4 campos de treino, apenas um pode receber jogos oficiais. Basicamente ficaríamos com 4 campos para treino e 2 campos para jogo para 19 equipas, sendo um desses campos de jogo de relva natural, ou seja, limitado na sua utilização. Ou seja, os problemas de espaço que temos hoje tanto para treino como para jogo iríamos continuar a ter. Não na mesma escala, mas iriam continuar a acontecer ao ponto de continuarmos a precisar de treinar e jogar em outros espaços. Para além disso, faltam valências várias ao Olival que tornam impossível dar resposta a tão grande número de equipas/atletas. A principal é o alojamento, que impacta sobretudo na gestão logística dos atletas e a nossa abrangência em termos de recrutamento. Mas há mais, como o facto da maioria dos espaços (ginásio, gabinetes, posto médico, etc.) estarem subdimensionados, já que foram construídos para servir uma realidade muito mais pequena de atletas, e não os mais de 400 que iriam passar a utilizar o Olival diariamente.
Falando agora na questão logística. Na opção CAR+Olival, para que o Olival possa ser utilizado por um maior número de equipas, os treinos têm de estar espaçados durante o dia. Isso cria um problema logístico terrível, sobretudo quando temos o contexto de alojamento e de escola muito afastado do local de treino. Dando um exemplo concreto, se formos buscar dois atletas de Barcelos, um com treino às 09h00 e outro com treino às 16h00, o primeiro terá de estar no Olival às 08h30 no máximo, enquanto o segundo terá de estar no Colégio às 08h20, uma vez que apenas terá treino à tarde. Quem conhece o trânsito no Porto sabe perfeitamente que, para que o primeiro possa estar às 08h30 no Olival, o segundo tem de ficar no Colégio uma hora antes. Ou seja, acordou às 5 e pouco da manhã, apanhou o transporte às 6h para estar no Colégio às 7h30, para ter aulas às 08h20. Depois, o regresso respeita a mesma dinâmica. Vai terminar o treino às 17h30, apanhar o transporte às 18h00, ir ter ao Colégio para ir buscar o que teve treino de manhã, e vai chegar a casa a passar das 20h00. Isto todos os dias. Depois os nossos adeptos admiram-se que tenhamos nas Fases Finais atletas cheios de cãibras e a claudicar em momentos decisivos. Isto é o que acontece atualmente com os nossos atletas e não seria muito diferente mesmo tendo o Olival apenas para a Formação. Toda esta logística é extremamente prejudicial para o rendimento desportivo, desempenho académico e até mesmo desenvolvimento físico de qualquer atleta, para não mencionar o seu bem-estar físico e mental. Mas a dispersão de horários não impacta apenas no transporte, impacta também na questão escolar. Basta pensar no transtorno que é o simples facto de se subir um atleta de escalão. Se o seu horário escolar estiver ajustado para treinar às 16h00 e se de repente tiver de treinar às 11h00, toda a sua rotina diária fica alterada de um dia para o outro.
Este levantamento serve para percebermos algo que é determinante para termos um espaço que seja o mais funcional possível: o número de campos. É o número de campos que vai determinar toda a qualidade do processo, porque permite uma menor dispersão dos horários de treino e, por isso, uma melhoria muito significativa tanto a nível desportivo como logístico. Por isso é que defendo que o cenário ideal para o clube é que o CAR seja construído num local que permita a expansão progressiva do número de campos e de valências, incluindo alojamento. A médio prazo, teremos a cidade desportiva de que precisamos, indispensável a um clube da dimensão do nosso e que pretende ser uma referência na Formação. Esta opção traz inúmeras vantagens:
- Melhor articulação de transporte, seja do serviço contratado pelo clube, seja entre as próprias famílias, permitindo mais tempo de descanso, estudo e lazer aos atletas.
- Articulação com a parte académica facilitada, independentemente do ano frequentado ou do escalão em que esteja.
- Facilidade na mudança de escalão de um atleta a meio da época, permanente ou temporária, sem que isso crie um enorme problema logístico e escolar.
- Mais tempo para os atletas fazerem o pré e pós treino, pois o campo estará sempre livre.
- Possibilidade de montar o treino com antecedência, não perdendo tempo efetivo de treino.
- Mais espaço fora do horário normal de treino para trabalho individualizado ou específico (p.e., para algo como o PJE, que tínhamos no passado).
- Garantia de que os escalões mais velhos não têm de partilhar o campo entre si.
- Espaço para jogos-treino a qualquer altura (semana ou fim-de-semana), sem prejudicar o horário ou espaço de treino ou jogo de outras equipas.
- Garantia que todas as equipas teriam espaço para o seu jogo ao fim-de-semana.
- Proximidade entre equipa profissional e Formação, fomentando a criação de sinergias.
- Possibilidade de todas as equipas de U14/U15 para cima treinarem em relvado natural, sem prejuízo de prepararem alguns jogos em relvado sintético quando necessário.
- Atractividade para o recrutamento de atletas, sobretudo os mais jovens. A falta de infraestruturas é a principal razão da perda de talento para os nossos rivais (e muito mais haveria a falar sobre isto...).
- Fonte de receita extraordinária através do aluguer do espaço a equipas/escolas de futebol estrangeiras em qualquer altura, mesmo que tenhamos as nossas equipas a treinar em simultâneo.
Como tem sido referido por aqui, e não só por mim, a discussão actual já não tem de ser sobre CAR ou Maia. Esse assunto está enterrado. A discussão actual tem de ser: fazer algo para tapar um buraco, aquém do necessário, sem capacidade de crescimento (CAR+Olival) e que hipoteca uma Cidade Desportiva para os próximos 30 anos, ou fazer algo mais demorado, que possa até começar por priorizar a equipa A mas que seja feito num local que depois permita ir acrescentando mais valências para que daqui a 10/15/20 anos tenhamos, de facto, uma Cidade Desportiva digna da grandeza do nosso clube. A resposta, no meu entender, é óbvia.
Quanto às outras questões, e porque já me estiquei um pouco na resposta à primeira, vou tentar ser conciso. A informação existe junto de quem vive a nossa realidade de forma mais próxima, seja de forma directa ou indirecta. AVB não vinha assim tão preparado para o que ia encontrar na Formação. Basta pensar que chegou a falar em famílias de acolhimento como alternativa à Casa do Dragão. Isso por si só é um indicador. Pessoas com impacto são Portistas com algum mediatismo, seja na televisão, seja nas redes sociais. O Tiago Silva, por exemplo, seria uma pessoa que se pegasse no assunto este teria um pouco mais de visibilidade.
Posso estar a ser ingénuo, mas acho que a solução "fast food" que o AVB arranjou para contrapor ao pântano arranjado pela cleptocacria na Maia (ao bom estilo da cleptocracia), até pelo tempo que já decorreu desde a sua eleição, parece-me que estará, no mímino, em águas de bacalhau. O que é bom sinal.
Creio que qualquer pessoa que olhe para isto com racionalidade só pode ser sensível aos argumentos que expões. São verdadeiros. São lógicos. E são definitivos. Repito, definitivos.
Não se pode desperdiçar o futuro do clube por limitações no presente. Há que ser realista, é verdade. Não vamos recuperar mais de 20 anos desperdiçados pela cleptocracia nos próximos anos, mas temos que deixar espaço para que se possa construir esse futuro, assim que seja possível. Urgência máxima.
Por fim, o FC Porto não tem assim tanta massa crítica e intelectual que possa desdenhar contribuições como esta do @Paul Ashworth. Quero acreditar que isto chega a quem de direito e que essa gente discorre a lógica destes argumentos. Mais, espero que o FC Porto (instituição) olhe para o @Paul Ashworth.
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