... a chamada de atenção em torno da pretensa obrigatoriedade de respeitar valores e cultura tem toda a razão de ser, independentemente da disseminação de notícias falsas. Quais são os valores e cultura a que cada um de nós, no dia-a-dia, somos obrigados a observar? Pensemos em cada um de nós, não nos imigrantes, pois se estes têm os tais deveres, nós também teremos. Coisas que não façam parte da lei. Importa esclarecer de que se fala ao certo... normas sociais que não têm força de lei? Quais?.... etiqueta? Costumes culturais?... que conversa é essa? Convém materializar.
As Constituições não são alheias a valores. Subjaz à nossa Constituição um quadro axiológico bastante vincado. Portanto, quando o Gonçalo Ribeiro Telles diz: « Os imigrantes não têm de respeitar qualquer cultura, valor ou modo de vida português. Isso não existe. Têm, sim, de respeitar as leis portuguesas e todos os valores e princípios consagrados na constituição.», estamos perante um enorme contrasenso.
Quanto aos aspetos culturais que não encontram respaldo jurídico, são evidentes. Qualquer um que leia uma obra do Eça de Queirós facilmente poderá notar isso.
E, já agora, a Moral, a Religião, etc., independentemente do facto de não terem o aparelho coativo do Estado a seu bel-prazer, não deixam de ser ordens normativas importantíssimas para o Homem. Especialmente a Moral - são estes conjuntos de cânones que guiam a atuação de cada um de nós no seu dia-a-dia, antes e para além do Direito, não raro em conflito com este.
Além disso, nem é por acaso que se admite o costume como uma fonte de direito.
De todo o modo, o problema com alguma imigração reside mesmo no desrespeito de valores e normas consagrados pela Constituição e por outros diplomas. Claro está que o imbróglio não tem que ver com a hipótese de se gostar ou não de fado, de bacalhau ou de comemorar o São João.