So queria aqui mencionar a parte do sporting ter um bom plantel , na época antes do gyokeres vir ficaram em 4° acho que levaram 3 ou 4 no Dragão para o campeonato , perderam taça da liga e taça de portugal meia final saltaram com o Fcporto.
Acho que estão a ser melhor geridos , mas estou muito curioso para ver como vai ser depois de sair o gyokeres.
Se Amorim ficar e o substituirem com qualidade, estou mais certo que vão continuar muito fortes dentro de portas. Baixar o nível vão baixar sempre, mas não me acredito, de todo, que caiam ladeira abaixo. Falar do ano passado como se a amostra com Amorim se resumisse a isso leva a análises enviesadas.
Amorim foi campeão no primeiro ano, e no segundo ficou a 6 pontos de um dos melhores Portos do século, com 85 pontos. Isto o a jogar com Paulinho a 9, Matheus Reis a médio ala esquerdo e com Esgaio na direita durante muito tempo com Porro de fora. 23/24 foi o que se viu.
A temporada 22/23 parece mais um outlier que outra coisa qualquer no percurso de Amorim. A perda de Matheus Nunes no fim do mercado e de Porro em Janeiro ajudam a explicar. Ainda assim, com Esgaio na direita durante meio campeonato (e toda a gente sabe a preponderância dos wingbacks na produção de ataque no futebol de Amorim), um Paulinho inenarrável e Trincão corpo estranho fizeram praticamente os mesmos golos que nós na Liga. Falharam em momentos chave e defensivamente faltou solidez.
23/24 traz mais uma evolução no futebol de Amorim, recupera a titularidade de Nuno Santos na ala esquerda, traz mais um desequilibrador exterior em Catamo, traz mais um bom lançador ofensivo com boa capacidade de gestão de posse em Hjulmand e traz aquele que se revela hoje como um dos melhores 9's da atualidade com um perfil super difícil de contrariar que abre ainda mais o leque de soluções de jogo da equipa. Mas Gyökeres, sendo obviamente um jogador que faz a diferença neste sporting e neste campeonato, não carregou o sporting em 23/24, com algumas exceções notáveis, na minha opinião. O normal num 9 de qualidade, numa equipa grande é que as suas contribuições diretas batam nos 30 e muitos, 40's% de influência no total dos golos do coletivo com o jogador em campo. Isto numa equipa de nível campeão em Portugal. Há exceções (Jardel, Falcao, Jonas à cabeça em equipas campeãs), mas são poucas. Os golos e assistências do Gyökeres representaram 41% dos golos marcados pelo sporting no campeonato com ele em jogo. A influência dele obviamente não se fica pelas contribuições diretas, mas até com muita vontade de atribuir influência direta em movimentos de arrastamento/criações de vantagem na jogada de golo que não terminam com assistência ou golo dele, a margem sobe numa magnitude razoavelmente normal e esperada num 9 de qualidade superior. 23/24 dele não é, de todo, espetacular ou um jamais vu a esse nível. A realidade é que puxando a fita atrás se vê também um sporting muito mais competente, com maior variabilidade (a ativar muito melhor as laterais com a utilização muito mais agressiva de Inácio subido e as diagnoais dos 3 da frente, Gyökeres como solução para reter na bola longa e Hjulmand com outra abrangência em termos de filtração de passes comparativamente ao que oferecia a dupla Ugarte-Morita) e maior capacidade de ferir o adversário, com excelentes individualidades a explodir no momento certo e uma capacidade de meter unidades em zonas de finalização de forma contínua, independente do que faz ou deixa de fazer Gyökeres. Isto notou-se, sobretudo, frente a adversários de calibre inferior dentro da nossa Liga em comparação com o passado recente.
Outro dado relevante para a conversa da magnitude do impacto de Gyokeres/Hjulmand/Catamo é que em 23/24 o sporting o xG de 23/24 foi de 72.5. O de xG de 22/23 foi de 69.9 e o de 21/22 de 71.0. A chegada do dinamarquês, a explosão do moçambicano na direita e a chegada do sueco, por mais paradoxal que pareça, não trouxe um incremento significativo na qualidade das oportunidades criadas pelo sporting no campeonato face aos últimos anos. Em 23/24 tiveram 985 ações criadoras de remates (Pote número 1 em ações destas por 90min). Tiveram 980 em 22/23 (-5). 490 conduções para dentro do terço defensivo adversário em 23/24, 596 (+106) no ano anterior.
Estes dados batem de frente com as teorias do super Gyökeres enquanto dínamo de um ataque de elite em termos de volume/criação de espaços e oportunidades e o transformador magnífico do sporting no que diz respeito à produção de oportunidades/vias que levem a assédios mais frequentes e com mais qualidade às balizas adversárias. Transformador sim, na forma como chegam essas oportunidades, que passam a chegar de umas vias e não de outras com a sua presença. Em termos qualitativos esse upgrade na geração de oportunidades/remates/situações de finalização, não parece existir (o que não quer dizer que não possa existir em determinados contextos por comparação com o passado, apenas não a um nível global). Não menoriza o nível que tem, mas penso aue põe a nu algumas narrativas baseadas em perceções.
Na realidade, o que se assistiu foi a uma mudança muito alta do lado exatamente oposto da balança. A qualidade/quantidade das oportunidades criadas pelo sporting com o sueco por comparação com o sporting de Paulinho na frente não subiu significativamente. O que subiu e muito foi o aproveitamento coletivo. Como bom (não muito bom ou excelente) finalizador que é, o sueco marcou 3.8 golos acima do npxG. Acresce que também Paulinho (+5.7), Catamo (+2.9) e Trincão (+2.8) tiveram temporadas muito acima do esperado no que diz respeito ao momento de finalização no campeonato. Dos restantes elementos com relevância na marcação de golos do sporting, ninguém ficou abaixo do npxG, com Pote e Nuno Santos a fazer exatamente o esperado. A imagem é de uma equipa, no seu geral, a fazer uma temporada extraordinária a este nível. E estes não são números pendentes de influência de outros companheiros. Confiança, moral, sorte, competência. Provavelmente um misto dos 4.
A ideia é o sporting 23/24 não é tão diferente dos sportings anteriores. É uma versão aprimorada com um grande 9 à cabeça, mas um sporting, uma vez mais digo e o tempo dirá se estou certo ou não, que no seu global não é Gyökeres, é Rúben Amorim. E enquanto ele não sair, serão sempre muito bons.