Zubizarreta, 2021
Já foi diretor-desportivo no Athletic, Barcelona e Marselha. Há muitas maneiras diferentes de interpretar essa função. No seu entender, o que deve fazer um diretor-desportivo?
A primeira coisa é, de facto, definir o que se quer em cada trabalho e como é cada clube. Por exemplo, ser diretor-desportivo no Athletic ou no Barça é totalmente diferente, desde logo porque o Athletic está muito condicionado na sua abordagem ao mercado. O mais importante é começar por entender para que clubes vais e de que é que esse clube precisa. No Marselha, o que era preciso era desenvolver toda a estrutura do futebol, todo o futebol de formação, criar uma cultura de clube desde os mais jovens até à equipa principal, explicar o projeto ao público. Neste caso, era preciso criar infraestruturas e trabalhar para melhorar as condições de trabalho de todas as equipas, tanto que no Marselha criámos uma nova academia. Às vezes, avaliam-se os diretores-desportivos só pelo mercado, pelos jogadores que são contratados, mas há muito mais trabalho na organização da estrutura de futebol: que jogadores vão subindo de categoria para categoria, que tipo de contrato devem ter esses jogadores, que treinadores são os mais indicados para cada grupo etário, qual a melhor metodologia de treino para que haja algum tipo de linha de continuidade desde que um jogador tem 15 ou 16 anos até à equipa principal. Tudo isto integra-se nesta ideia de criação de cultura de clube, na qual também passa o papel da escola para os jovens ou a atenção às famílias dos jogadores. Estas tarefas podem estar todas na esfera do diretor-desportivo, só que há clubes onde algumas destas componentes já estão mais desenvolvidas e outros nos quais certas áreas não estão tão trabalhadas e é preciso trabalhar mais nelas. Outra componente muito importante é a capacidade de explicar o projeto, quer no plano interno (ao proprietário e direção), quer no externo (aos adeptos e público em geral).
Há sempre um grande debate sobre que peso devem ter os treinadores nas contratações. Acha que os técnicos devem ter que papel na definição das aquisições?
Depende de que projeto de clube for. Por exemplo, se contratas André Villas-Boas, tens de explicar-lhe qual é o projeto e, dentro do projeto que tínhamos, era importante a opinião do André. Nós podíamos oferecer-lhe alguns jogadores e ele também podia contribuir com certas opções, gerando-se depois um debate para escolhermos qual a melhor opção. E às vezes a melhor opção não é exatamente o jogador que querias contratar, porque é mais caro ou acabou de renovar no seu clube, logo tens de estar sempre a avaliar tudo isso. Mas isso era neste caso concreto. Há outros clubes nos quais, quando o treinador é contratado, já lhe é dito que, no mercado, o peso da sua opinião será mínimo porque as decisões são tomadas pela direção ou pelos donos. Cada clube é um mundo com as suas particularidades. No Athletic, um treinador pode ter a sua opinião, mas depois o mercado de jogadores bascos é muito reduzido e limitado. Para mim, o mais importante é que fique claro, desde o momento em que um treinador se incorpora ao clube, quais são as condições de trabalho, e se dentro dessas condições a opinião do técnico vai ser fundamental ou não. Eu costumo dizer que é quase impossível incorporar a um plantel um jogador que o treinador não quer. Se há um jogador que, seja pelas razões que forem, não é do agrado do treinador, é muito difícil que o coloques no plantel e que, de repente, ele funcione muito bem. É importante saber ir encontrando consensos.