Gosto disto
“Já foi diretor-desportivo no Athletic, Barcelona e Marselha. Há muitas maneiras diferentes de interpretar essa função. No seu entender, o que deve fazer um diretor-desportivo?
A primeira coisa é, de facto, definir o que se quer em cada trabalho e como é cada clube. Por exemplo, ser diretor-desportivo no Athletic ou no Barça é totalmente diferente, desde logo porque o Athletic está muito condicionado na sua abordagem ao mercado. O mais importante é começar por entender para que clubes vais e de que é que esse clube precisa. No Marselha, o que era preciso era desenvolver toda a estrutura do futebol, todo o futebol de formação, criar uma cultura de clube desde os mais jovens até à equipa principal, explicar o projeto ao público. Neste caso, era preciso criar infraestruturas e trabalhar para melhorar as condições de trabalho de todas as equipas, tanto que no Marselha criámos uma nova academia. Às vezes, avaliam-se os diretores-desportivos só pelo mercado, pelos jogadores que são contratados, mas há muito mais trabalho na organização da estrutura de futebol: que jogadores vão subindo de categoria para categoria, que tipo de contrato devem ter esses jogadores, que treinadores são os mais indicados para cada grupo etário, qual a melhor metodologia de treino para que haja algum tipo de linha de continuidade desde que um jogador tem 15 ou 16 anos até à equipa principal. Tudo isto integra-se nesta ideia de criação de cultura de clube, na qual também passa o papel da escola para os jovens ou a atenção às famílias dos jogadores. Estas tarefas podem estar todas na esfera do diretor-desportivo, só que há clubes onde algumas destas componentes já estão mais desenvolvidas e outros nos quais certas áreas não estão tão trabalhadas e é preciso trabalhar mais nelas. Outra componente muito importante é a capacidade de explicar o projeto, quer no plano interno (ao proprietário e direção), quer no externo (aos adeptos e público em geral).”