Vejo mais facilmente um robô a substituir um advogado ou um jornalista do que qualquer profissão que exija uma multidão de micro-tarefas e motricidade fina (como a construção civil ou a pichelaria). Nenhum humano conseguiria competir com uma IA no conhecimento das leis ou da jurisprudência, por exemplo.
As profissões que exijam criatividade será mais difícilmente subsituídas por IA. Mas até aí é muito relativo. A maior parte da música ou da literatura que se faz hoje podia perfeitamente ter sido "criada" por robôs.
A revolução da IA pode vir a ser muitissimo mais disruptiva do mundo do trabalho do que as revoluções industriais anteriores, tornando a maior parte das profissões, e portanto das pessoas, desnecessárias.
A minha dúvida é quem é que vai alimentar a economia, se as máquinas não consomem nem pagam impostos.
Um advogado não faz só trabalho de redação nem de análise da lei. Há trabalho de interação humana, negociações, consultoria, prevenir infrações antes destas acontecerem. A primeira componente pode, e já devia, estar automatizada, a segunda existirá sempre.
O mesmo com o jornalista. Criar textos baseados nos e-mails que recebem, nos eventos ou da informação disponível em sites nem é "jornalismo", é conteúdo noticioso efémero que é o que a maior parte da imprensa faz atualmente. Investigação, procurar informação que apenas outros humanos têm, isso será sempre necessário.
A IA não tem objetivos. É impossível programar uma IA para definir os seus próprios objetivos, contrariamente ao que a cultura pop tenta passar, tal como os parâmetros têm de ser designados por humanos. Basicamente, para cada IA em funcionamento, é necessário um humano para lhe dizer o que fazer.
Neste momento estou a gerir a criação do framework para uma unidade autonóma de saúde. Entre muitas outras coisas, irá reduzir a carga laboral de enfermeiros e cuidadores informais e até do próprio sistema de saúde. Falamos de apoio doméstico, análises feitas em casa, aplicação de primeiros socorros, informação em tempo real. O objetivo não é eliminar essas profissões. É permitir melhores condições de vida a pessoas que atualmente têm de estar disponíveis 24/7, mais recursos e melhor informação e otimização do seu serviço para garantir aos seus pacientes também melhores condições.
É perfeitamente possível uma IA criar música ou literatura. Não será disruptiva, não será pessoal, não será criativa. A mecanização de qualquer área não lhe garante autenticidade. Nunca serão obras marcantes, porque a IA estará simplesmente a reciclar a informação que o seu programa lhe forneceu.
A questão económica é muito complexa. Por um lado, poderemos estar perante aumentos de produtividade e maior especialização do mercado de trabalho. Menos horas, melhor remuneração. Por outro lado, há um problema associado ao limite máximo de humanos que o próprio planeta consegue albergar. Sei que isto é polémico, mas há vários limites associados a isto. Desde logo, o alimentar, mas também o de trabalho. Porque se todas as profissões virem a sua produtividade aumentar 500%, tu não tens trabalho para 8 mil, nem 10 mil milhões de pessoas. E aí o paradigma da nossa economia terá uma escolha a fazer, que aliás já tem defensores de ambos os lados: Ou insistimos numa economia de consumo, limitas a aplicação da IA e expandes o teu universo para lá do nosso planeta, de forma a garantir maior providência (Musk) ou crias uma economia social onde a IA trabalha para a humanidade e esta foca-se em resolver problemas sociais do indivíduo e não em lucro (Gates). Pessoalmente, acho que a primeira é um double down daquilo que nos está a destruir e a segunda é utópica, porque a humanidade é segregacionista, gananciosa e egocêntrica. O caminho que seguiremos estará algures no meio, procurando equilibrar níveis médios de pobreza com níveis médios de riqueza, como fazemos desde sempre.