O melhor que pode acontecer ao Sérgio, a quem vou sempre desejar todo o sucesso fora do Porto a menos que se meta num dos rivais, é sair de Portugal e passar o resto da carreira lá fora. O Sérgio tem um problema pessoal muito grande do qual não se vai livrar nunca, a sua incapacidade em abstrair-se do que dizem e escrevem dele nos jornais e nas redes sociais.
O Sérgio liga muito ao que dizem dele, por muito que se esforce para nos convencer que não. Quer reconhecimento, é legítimo. Mas quando não o tem, seja por clubismo de quem escreve ou vendettas pessoais, o Sérgio leva aquilo com ele e fica a remoer. Esse aspeto dele é seu maior inimigo. E quem sabe isso usa-o contra ele, como vemos na TV constantes ataques ao seu caráter ou à sua capacidade, muitas vezes porque sabem que lhe vão tocar na ferida e ele vai manifestar-se.
Há uma frase que ele disse na última CI (na anterior, não nesta) que passou ao lado de muita gente aqui mas é reveladora de um traço da personalidade dele: disse o Sérgio que quando era jogador de futebol a primeira coisa que fazia quando acordava no dia a seguir aos jogos era ir ler a nota que os jornais lhe davam. Nada contra essa necessidade de afirmação e certamente muitos jogadores fazem o mesmo nos dias de hoje.
Mas ele é um treinador a caminho dos 50 anos, tem de aprender a isolar mais o seu trabalho da avaliação dos outros. Tem de aprender a não ficar possuído pelo que um Rui Santos diz ou irritado pelo que os adeptos anónimos das redes sociais escrevem. Ou a ligar para canais de televisão só porque a conversa não lhe agrada. Eu acho isso ridículo e desnecessário da parte dele. Volto a recordar aqui um dos episódios mais parvos do seu consulado: chamar perfeito idiota a um adepto no Twitter em 2017 que questionou uma opção tática dele e depois, como viu que aquilo só lhe ficou mal a ele, fingiu que tinha sido o filho a mexer no telemóvel sem autorização (o Chico? ahaha).
Se te insultam e tu bloqueias, eu compreendo perfeitamente. Mas o Sérgio já bloqueou muita gente no Twitter que nunca o insultou, apenas questionou as opções dele. É um grau de micro envolvimento que não lhe faz bem à carreira nem ajuda em nada no trabalho que faz no Porto.
Por isso é que acho que ele fora do país não tem tanta tendência de ligar às críticas. Em Portugal, estará sempre mais vulnerável a isso porque é a língua dele, o país dele e é onde doi mais. Não estou a vê-lo em Inglaterra ou França ou Itália constantemente a sintonizar a CNN lá do burgo para ouvir o que dizem dele ou comprar o jornal desportivo da região para ler a parte da crónica onde avaliam o trabalho do treinador. Se calhar tem menos tempo e vontade para isso e foca-se mais no seu trabalho. Acaba por ser também mais feliz fora do espetro do julgamento dos outros, espetro onde ele se mete e sofre muitas vezes porque quer.