O problema é que o Chega não é o PCP, é mesmo o Chega, um partido sem contraponto no sistema. Jerónimo de Sousa não merece sequer ser equacionado na mesma frase que Ventura e o seu partido. O PCP faz política de forma séria, quer-se concorde ou não com ela. Fá-lo há muitos anos e com influência objectiva e poder concreto em várias áreas da sociedade portuguesa. Em nada contribui para fracturar o tecido social e o próprio sistema político. O Chega é uma ameaça real e canaliza tensões negativas características do nosso tempo. A agressividade atrevida é engraçada até certo ponto... mas não quando começa a atentar à democracia, como já vimos acontecer. Se as pessoas estão descontentes, têm outras opções políticas que não este partido em particular. Se canalizam o descontentamento para aqui... arriscam-se a ficar com um enorme peso na consciência.O AVenturas decidiu definir o seu partido como um partido de protesto e é nesse sentido que o Chega tem caminhado. Por exemplo, eu lembro-me que muitas pessoas votavam no PCP, não por convicção ou por se reverem na ideologia do partido, mas sim na esperança de haver ali algum contra-poder, é mais ou menos nisto que o Chega quer fazer, carregando com um populismo orientado à direita, e hoje vivemos numa era digital com as redes sociais em alta.
Certamente haverá descontentamento, mas parece-me também que há algo pior e mais generalizado nas sociedades contemporâneas, vendo-se isso nas ondas populistas e nas dinâmicas dos partidos de extrema direita. São tempos perigosos.
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