Mas isto não se aplica só com o Chega. Aplica-se a todos os partidos, a todos os votantes e a todos os temas.
E no entanto nenhum outro partido é o Chega. Essa é a diferença fundamental.
Eu não quero estar a extender-me mais sobre esse assunto, porque seria repetir-me e estás apenas a dar o teu ponto de vista e já percebemos aquilo que tu pensas, eu estou tentar dar-te uma visão ou uma análise daquilo que o Chega representa em si. E sinceramente eu acho exagerado alimentar o bicho-papão e o fantasma do "fascismo", mesmo que o AVenturas quisesse impôr isso não teria hipóteses. O AVenturas é apenas um escroque, nada mais.
Eu acho que estás um pouco equivocado sobre o significado de populismo, o populismo não tem a ver com o facto teres ou não ideologia, o populismo é um discurso falacioso que faz apelo ao povo, por exemplo o PCP usava a retórica "a força do povo", é claramente um apelo popular. Existe várias de aplicar o populismo, daí existir um populismo de direita e um populismo de esquerda.
Não caricaturemos a questão invocando conceitos como fascismo ou os espectros da ditadura. O problema real, não fantasmagórico, prende-se com aumento da agressividade social, a corrosão dos laços de solidariedade, uma maior conflitualidade, menor contenção dos piores instintos... É disso que se trata, num primeiro momento. Ventura é um escroque que convida os restantes a serem como ele, encerrando potencial suficiente para subverter práticas instituídas e criar um novo estado de coisas.
Não é por acaso que os debates em que participa são diferentes dos demais. O seu modo de estar é diferente, a sua forma de fazer política é distinta. Os outros líderes partidários jogam de acordo com certas regras, submetem-se às convenções do bom-trato, às normas do debate, estabelecem uma relação diferente com a verdade e a mentira, mesmo que escorregadia... Ventura exime-se de tudo isto, move-se de acordo com outras regras, formula uma hipótese de um outro normal. Poucos políticos teriam a audácia de ir à televisão injuriar cidadãos anónimos, pois o padrão ético e moral impede-o. Ventura teve, e com isso mostrou aos seus simpatizantes que é possível um outro modo de expressão, mais violento, mais radical, com menos respeito e empatia pelos outros. O risco é o da subversão das normas, do aumento da violência e do ódio. Exagero?... olhe-se para o Brasil, para os Estados Unidos, para outros países que sucumbiram aos seus venturas. Não creio que essas sociedades se tenham tornado mais coesas.
O comunismo dirigia-se ao operariado e construía o seu léxico muito antes das ciências sociais se debruçarem sobre o populismo, antecede o próprio conceito. Herança discursiva que de alguma forma mantém, apesar das profundas mudanças sociais, económicas, laborais... do último século e meio. Compreendo que me digam que o PCP se enquadra de alguma forma nas actuais concepções de populismo, mas... estamos a esticar-nos um pouco. Falamos de uma organização política que não muda a sua actuação independentemente dos resultados que obtém e das tendências que se manifestam.
Em todo o caso, creio que somos pessoas inteligentes o suficiente para não misturar o Chega com o PCP. Apenas uma pessoa não muito iluminada, ou marcadamente idiota, consideraria o PCP um risco igual ou superior ao Chega. De um lado um partido que caminha para o ocaso, com provas dadas na nossa democracia; do outro um partido em ascensão e um líder cujos comportamentos são amiúde abjectos, inclusive condenados em tribunal, e não deixam antever nada de bom. Não há grande volta a dar.
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