A minha ideia é... quanto é que tens de investir para teres uma academia? Quanto tempo demoras a construí-la? Quanto tempo demora a ter rentabilidade?
Uns dizem que tens de investir 30 milhões, outros 300 milhões...
Falas em efeitos daqui a 10 anos... mas efeitos é o quê? É teres um onze inicial só da formação?
Eu não vejo uma causa efeito tão linear como vocês vêm... entre investir em infra-estruturas e relevância da formação nos 11s competitivos
Acho que os 11s competitivos é mais uma questão de bom scouting do que ter bons recreios e muitos relvados todos no mesmo sítio...
E depois o que se faz com o Olival? O que se faz con a constituição?
Ganhamos à Youth League e quantos estão a ser aposta na A? Quando vão ser aposta na A?
Queres uma academia para lavar dinheiro com putos para o Wolves?
Vou tentar dar a minha opinião ponto a ponto, apesar de vários pontos estarem interligados.
Começando pelo investimento. Olhando ao custo de outras Academias, e face ao projecto que já foi apresentado, acredito que possa andar à volta dos 30 milhões. É verdade que não somos um clube com grande "folga" a nível financeiro, mas se pensarmos no valor que já arrecadamos com a venda de atletas da Formação, podemos sempre considerar que será um investimento que dará retorno sem grande dificuldade.
Os efeitos poderão ser a perda de qualidade dos atletas saídos da Formação. Eu sei que vamos continuar a produzir bons valores na Formação mesmo com as condições actuais, e mesmo que essas condições se perpetuem no tempo. Mas se há 10 anos tinhas o clube do regime a chatear-nos na nossa zona geográfica apenas pontualmente, neste momento tens os escalões de formação deles com 30% de atletas oriundos de distritos do Norte (antes nem chegavam a 10%), valor que terá tendência a aumentar enquanto nós mantivermos estas condições e eles continuarem a melhorar as deles. Agora temos também o Braga bastante mais competitivo, mas o verdadeiro rival é mesmo o clube do regime. Tendo em conta a gestão do clube nos últimos tempos, onde a venda dos atletas da Formação tem sido a maior fonte de receita do clube a par da Champions, é uma questão matemática percebermos que menos talento = menos receita. Ou seja, imaginando que esta dinâmica se mantém nos próximos anos, os efeitos até nem vão ser tanto no âmbito desportivo, mas sim a nível financeiro, porque o clube tem usado a Formação sobretudo como fonte de receita e não como mais valia desportiva (pelo menos directamente).
Não vai ser o ter uma Academia que nos vai permitir ter um onze inicial só com atletas da Formação. Aliás, arrisco-me a dizer que nenhum clube conseguirá isso sendo na mesma competitivo ao nível que estamos habituados a ser. Isso é utópico e usar isso como argumento para construir uma Academia seria lirismo. Agora podemos formar ainda mais atletas de qualidade por geração. E para mim, o formar bem não é só formar atletas para a equipa A. Esse é o objectivo primordial, mas formar bem é mais abrangente que isso, é ter atletas a darem retorno financeiro mesmo que não se afirmem na A, seja porque são vendidos antes disso, seja porque ficamos com percentagens de passe e são depois potenciados por terceiros. Formar bem é ter atletas que vão para os clubes de nível médio/baixo na nossa Liga e são mais-valias para esses clubes, aumentando a competitividade da nossa Liga... É preciso perceber que os três grandes são responsáveis pela formação de cerca de 2/3 dos atletas portugueses a competir em campeonatos profissionais, por isso, quanto melhor for a Formação dos grandes, melhor será o nosso produto, a nossa Liga, as nossas selecções jovens.... E tudo isso se transforma em retorno financeiro, por mais pequeno que possa ser.
Concordo contigo que o Scouting é peça determinante em todo o processo, talvez a mais importante. E a verdade é que com um excelente Scouting internacional, minimizamos a necessidade de ter jogadores da Formação, seja pela parte desportiva, seja financeira. Mas não podemos ambicionar ter as duas coisas, um Scouting e Formação Top? Não me vou alongar sobre o Scouting para a equipa A, que às vezes mais parece ser apenas figura decorativa, mas para a Formação a Academia é um argumento de peso. Porque é fácil dizer "como é que o jogador A preferiu ir para o Seixal do que para o Porto?". Se calhar porque no Seixal parece que está a morar num campo de férias, enquanto no FC Porto temos a Casa do Dragão, com as limitações que todos conhecem. E mesmo que não implique residir cá, para estar no FC Porto um atleta de Braga, Guimarães, Penafiel, etc., no sistema de ensino do clube tem de se levantar todos os dias às 06h00 da manhã para apanhar o transporte para o Porto, ir à escola, treinar, e voltar para casa ao fim do dia. Sabendo que as crianças/adolescentes são cada vez mais comodistas, e vendo todos os dias na comunicação social a publicidade incessante sobre o Seixal, a escolha fica facilitada. Porque o problema muitas vezes não é chegar ao jogador. Na maioria das vezes o problema maior é convencer uma família que o melhor projecto para o filho é o projecto de um clube que ainda nem sequer oferece aos seus atletas um local para residir que tenha menos de um século, ou um clube que tem uma logística que obriga um atleta de Braga a acordar todos os dias às 06h00 da manhã. Tudo isto mudaria com uma nova Academia. Não apenas o alojamento, mas também esta logística pesadíssima que obriga o clube a distribuir os treinos dos escalões todos durante o dia, porque não tem campos para fazer de outra forma. Os muitos campos são sobretudo para isto. E isto ajuda a convencer as famílias. E tu só tens 11's competitivos se convenceres as famílias. Como disse antes, há muitos temas que estão interligados, e que para melhorar um dependes do outro.
A questão do Olival e da Constituição é simples. Olival para as equipas A e B, Constituição para a Dragon Force à semana e para jogos da Formação sempre que possível ao fim de semana, para não perderem a ligação com este espaço mítico.
Quanto à aposta na equipa A, é uma questão complexa. O sonho de qualquer Portista apaixonado pela Formação é que os atletas que vemos crescer consigam se afirmar na equipa A e que nos ajudem a ganhar títulos. E deve ser essa a grande força motriz de todos os que trabalham na Formação. Mas o serem aproveitados na equipa A não pode ser algo imposto, e esse aproveitamento estará sempre dependente de questões que são muito difíceis de controlar, que vão desde a própria capacidade de afirmação do atleta, ao treinador, à necessidade do clube no momento. Nesta geração que falas o clube optou sobretudo por ter retorno financeiro. É algo que custa, mas não podes por todo o resto em causa simplesmente porque foi essa a opção de quem nos gere neste momento. Não podes dizer "andamos a formar para quê?" e deixar de apostar na Formação porque depois amanhã vais querer apostar e tens de andar a recuperar os anos que perdeste. E como disse, na Formação não há resultados imediatos.
Peço desculpa pelo enorme texto. Sei que muito do que digo pode soar um pouco utópico Se calhar, eu e outros agarramo-nos à ideia de uma nova Academia como algo que fará também com que se mude outras coisas no clube. Talvez eu próprio exagere naquilo que é o verdadeiro potencial da nossa Formação e "sonhe" demasiado, mas tento dar a minha visão baseado em dados concretos, podendo às vezes não conseguir passar bem o meu ponto de vista.