Se estás à espera de saber se uma vacina ou mesmo um medicamento é 100% eficaz, então mais vale a pena não tomares nada. Porque todos eles vão ter efeitos secundários, em maior ou menor escala, porque todos nós somos variáveis a nível genético. Excepto gémeos monozigóticos, que partilham o mesmo ADN, não há ninguém cujo ADN seja igual ao de outro indivíduo, e isso pode influenciar, ou não, o surgimento de efeitos secundários. E por isso é que é tão importante incluir nos ensaios clínicos um elevado número de voluntários e dos mais backgrounds genéticos.
Em relação à vacina Pandemrix, a tal contra a gripe A, convém salientar que mesmo atualmente ainda não se conseguiu estabelecer um causalidade entre vacina e a incidência da patologia no grupo de pessoas que a tomou. Existem estudos em países nórdicos que mostram uma associação, no entanto estudos recentes feitos pelo CDC, nos EUA, e com maior amostra não mostram qualquer associação com a doença. Ainda, é importante referir que a gripe A pode causar narcolepsia (um estudo chinês mostrou um aumento de incidência da doença independentemente da toma da vacina), e que na altura da vacinação, o vírus estaria já bastante disseminado na Europa.
Ainda assim, a fase de desenvolvimento da vacina teve falhas graves, na minha opinião. Primeiro, se acham que as vacinas contra a Covid-19 estão a ser apressadas, o que diriam desta. Teve 4 meses de ensaios clínicos. E o grande problema, na minha opinião, está aqui. De todos os ensaios clínicos feitos sobre esta vacina, o número máxima de voluntários incluídos num ensaio foi de, aproximadamente, 500 indivíduos no grupo que recebeu a doença e 500 num grupo controlo. Aliás, a grande maioria dos estudos desta vacina foram realizados em cerca de 100-200 voluntários. Isto é manifestamente escasso!
Nada disto acontece com a vacina da Pfizer (de momento a única que reportou os seus dados). A fase de ensaios clínicos já leva quase 9 meses, os números de voluntários incluídos é muito superior (aliás, está entre os 20 ensaios clínicos com maior número de voluntários incluídos até à data), e os dados não mostram qualquer tipo de reação adversa grave significativa. Como já disse, existem vacinas para as mais variadas patologias com piores percentagens de reações adversas e que são atualmente administradas às populações e ninguém se preocupa com isso. Porque ponderando o rácio custo/benefício, não se encontra qualquer impedimento para a não autorização e administração dessas vacinas. Fenómenos adversos raros existe sempre e irão continuar a existir, quer para vacinas, que para medicamentos, mas a percentagem é infíma.