Não sei se já colocaram isto aqui, se sim peço desculpa, mas vou fazer-lhe para me certificar que todos os portistas lêem este texto que está mesmo muito bom na minha opinião:
"Condenei-te. Condenamos-te todos, para dizer a verdade.
Estavas acabado. Arrumado. A tua carreira enfrentava ali o seu ponto crítico.
Nem Baggio. Nem Ronaldo. Nem Van Basten, imagine-se. Se nem eles voltaram a ser os mesmos.
Uma rotura do ligamento cruzado anterior acompanhada por outra do ligamento lateral interno. Uma barbaridade. Não me lembro de ter visto algo assim. Duro. Cruel. Rápido. E tu sem culpa nenhuma. O destino é injusto.
Pelo menos 6 meses de paragem, diziam em rodapé os jornais, enquanto mostravam como imagem de capa o teu substituto Soares a marcar o golo da vitória.
Devia ter sido o teu fim, não era? Mas quando saíste pelo teu próprio pé mesmo com um joelho estilhaçado, devíamos ter percebido quem eras.
A operação, a dor, o limite. Gelo, descanso e a fisioterapia. Voltar a aprender a andar, quem diria, tantos anos depois de teres começado.
Todos os dias a perna parecia mais tua, as cicatrizes menos profundas. Um dia nem deste conta e recomeçaste a correr. Voltaste a sentir o toque da bola e sentiste-te pronto.
Mas não estavas. Voltas ao treino e não és tu. Não és tão rápido. Não és tão ágil. O medo de ir à bola e voltar a sofrer assombram-te. Serás uma fraude? Serás para sempre uma sombra do que eras?
E eis que surgem as pequenas lesões. E é natural, Vincent. Felizmente eles nunca terão de passar aquilo que passaste. Nunca terão de ver o corpo modificado, mutilado para remendar o que não se remenda sozinho. As sequelas que isso traz.
Esquecemo-nos de ti. Mas tu nunca te esqueceste, felizmente. Continuaste a lutar contra a descrença, contra os teus próprios medos.
Desceste à equipa B para ganhar ritmo. Andar para trás requer uma coragem que poucos têm. Foste chamado à seleção outra vez. E hoje entraste em campo.
E eu não percebi porquê. Já não me lembrava. O futebol tem memória curta e eu também tive. No meio de tanta desinspiração coletiva surgiste tu.
Não uma, mas duas vezes. Tiraste a camisola. Não ligues ao amarelo, mereces fazê-lo. Merecias que houvesse justiça, que te devolvessem o joelho que te tiraram. Merecias por ti e por todos que assim perderam tanto.
Merecias que te reconhecessem o que nunca reconheceram. Que és o melhor avançado do Porto e um dos melhores que a Liga já viu nos últimos anos.
Nunca pares, Aboubakar. Digam-te o que te disserem.
Eles não sabem o que viveste."
Retirado da página do Facebook palestra De Balneário