A questão aqui é que eu não estou a olhar para a profissão que ele exerce, qual a empresa para a qual trabalha ou a relação emocional que tenho a essa empresa. Eu estou a olhar para uma pessoa que numa circunstância de muita incerteza e após um parto complicado em que quase perdeu a mulher, que até por acaso tinha uma doença que a tornava ainda mais susceptível a um vírus que tinha surgido uns meses antes e que ainda muito pouco se sabia. Qualquer ser humano nessa circunstância teria tomado a mesma decisão.
Tivesse sido o Sr Manuel que trabalha na caixa de um qualquer Continente desta vida e tinham-se feito campanhas na Go Fund Me para ajudar o senhor enquanto estava em casa a apoiar a mulher. Por ser jogador de futebol (e aqui infelizmente o clube para o qual joga não faz diferença, porque o tratamento era todo igual) parece que é um cidadão com menos direitos por ganhar muito dinheiro a dar uns pontapés numa bola e por não pormos uma coisa tão pouco importante como o resultado de um jogo de futebol à frente da vida das pessoas.
Eu não sei se o clube esteve bem ou mal nesta situação. Não estou lá dentro, não sei as conversas que houve... Mas não consigo perceber a forma como o jogador é criticado aqui por a decisão que tomou.
Quem quer arranja soluções. Quem não quer arranja desculpas.
Ele não se recusou a treinar quando todo o Portugal estava em sobresalto, com fronteiras fechadas em todos os concelhos, e com meio Portugal trancado em casa, e outro a tentar passar pelos pingos da chuva porque tinha mesmo de ser.
Ele recusou-se a treinar, já quando muitos de nós estavam a voltar ao trabalho presencial porque não podiam trabalhar de casa.
A escolha dele não era entre "treinar" e "matar a esposa".
Podia por 2 meses, que foi o resto da época desportiva, ficar a viver noutra casa. Estaria a distancia de um video chamada da mulher e da filha.
O Sr. Manuel não tinha essa opção. Mas conseguiu pensar fora da caixa e recorrer ao GoFundMe para não precisar do emprego do Continente, onde provavelmnte recebia salário mínimo, para evitar por a esposa em risco. Pensou, quis e arranjou uma solução.
O Nakajima não quis treinar pelo Porto.