Não seria tão apressado a vaticinar-lhe o abismo eterno. A experiência que teve aqui foi dura mas ele tem qualidades que se lhe apontem. É novo e poderá aprender qualquer coisa, é bom comunicador, para o bem ou para o mal tem o FC Porto no currículo e trabalhou com alguns nomes importantes do futebol. Além disso parece-me uma pessoa apaixonada pelo futebol.
Ele falhou por erros próprios (naturalmente e sem qualquer tipo de desculpas) mas também por questões de contexto (plantel miserável e jogadores a não acrditarem que poderiam fazer o que quer que fosse dessa época já antes dele ter chegado).
O maior erro dele foi achar que no futebol idealiza-se um sistema táctico qualquer porque é alternativo, exótico e fora da caixa e a equipa joga um futebol diferente (para melhor) porque estamos a ser arrojados e avantgarde. Infelizmente esbarrou com a realidade e a equipa jogou de facto de forma diferente... para pior.
Eu gosto de pessoas que tenham a coragem de tentar coisas diferentes porque mesmo que errem vão aprendendo mais qualquer coisa que pessoas que fazem sempre o mesmo. O mais provável é o Anselmi continuar a dar alguns tropeções típicos de quem experimenta coisa estranhas mas um dia a poeira irá assentar e ele acabará por moderar alguma queda que tem para a bizarria e amadurecer um pouco as suas ideias. Veremos.
Ele faz, ou quer fazer, parte da escola do caos. Mas mesmo o caos, quando falamos de Sampaoli ou Bielsa, tem uma linha condutora: há fluidez, há rotinas trabalhadas, sobretudo na saída de bola. No caso de Anselmi, não se vislumbrava nada disso. A equipa não tinha mecanismos claros para sair a jogar, os jogadores mantinham-se estáticos e a bola rodava, sem progressão, entre centrais e guarda-redes. Faltava precisamente o treino e a disciplina que distingue os “visionários” do improviso puro.
Depois existe uma outra razão para estes "visionários", Bielsa, Sampaoli, Diniz, terem tido maioritariamente sucesso no futebol sul-americano. O ritmo é menos intenso e existe espaço. Bastou uma pressão alta para desmontar todo o sistema de Anselmi, porque a partir do momento em que as linhas se distanciam, a equipa fica sem alternativas e ficávamos previsíveis e altamente expostos.
Arrisco-me a dizer que um jogador como de Jong era o ideal para ele, porque quando a equipa perde capacidade de sair a jogar e procura meter a bola longe da baliza, como não poucas vezes o fez durante os meses de Anselmi, precisa de um avançado com aquelas caraterísticas para não ter tantas bolas perdidas e ficar imediatamente sob pressão.