Está aqui O JOGADOR que, na minha opinião, sozinho, consegue condicionar todo um funcionamento, toda uma dinâmica imposta, todo um sistema tático.
Olhando ao que temos, e apesar da quantidade de avançados (4 - Taremi, Marega, Evanílson e Toni Martínez), o sistema que genericamente mais se adecua às características do plantel e das suas individualidades é o 4x2x3x1.
Otávio é um médio ofensivo, não um extremo. Jogar com ele como médio ala ou extremo é retirar-lhe influencia onde realmente é forte (último passe, desequilíbrio pela zona central e até chegada à área, ser um playmaker), não tem velocidade, explosão ou capacidade no 1x1 com espaço que se pede a um extremo, e inevitavelmente gravitará para o centro do terreno, perdendo a equipa jogo em largura, havendo necessidade de sobre-expor o lateral em projeção (Alex Telles nisso era muito forte e tinha um bom entendimento coletivo e tacto para o timming de quando subir ou descer). Jogar com Otávio no miolo num meio-campo a dois é ainda pior, é um jogador de meio campo a três, a funcionar como o vértice mais adiantado do triangulo (número 10). Tê-lo no miolo é pedir para ser comido em jogos grandes ou na Europa contra meio campos controladores e físicamente dominantes, assim como lhe retira grande parte da influência no último terço do terreno.
Fábio Vieira e Romário Baró são médios ofensivos. O primeiro tem sido e continuará a ser sacrificado por simplesmente não encaixar no 4x4x2. Uma vez mais, é um criativo, um número 10 cujo raio de ação tem que ser na zona central. Tal como Otávio e Baró, não tem minimamente a formação nem características de um médio ala, e jogar com ele lá a 10 ou 15min do fim não só é um desperdício de talento como é queimar o rapaz. Num 4x2x3x1 encaixaria como uma luva também no jogador a jogar entrelinhas entre o miolo e o avançado.
Romário Baró idem aspas. Novamente um jogador que num meio campo a 2 é matá-lo. Matar a criatividade de um jogador com imaginação, condução de bola e perfume nos pés, obrigá-lo a trabalhar defensivamente a níveis que o desgastarão para contribuir ofensivamente, e sem capacidade física para o fazer ao mais alto nível num meio campo a dois. É ectomorfo puro, nem com a receita mágica do Bayern se vai tornar num jogador imponente. A extremo esquerdo/médio ala esquerdo, como vimos a temporada passada, é completamente descabido para além de o rebentar fisicamente ao ter que cobrir as subidas de Manafá/Corona.
Uribe e Grujic são uma dupla que veria com bastante agrado num duplo pivot. Acho que num meio campo a dois falta criatividade, embora Grujic seja muito bom deep lying playmaker com ótimo transporte de bola. Com Otávio na frente deles num 4x2x3x1, sendo o brasileiro um jogador muito forte na reação à perda, combativo, tenaz e com capacidade de trabalho defensivo notável, acho que seria perfeito para cobrir eventuais subidas em posse ou chegadas à área de Grujic ou Uribe. Aqui Uribe seria o elemento mais posicional, e Grujic com mais liberdade e responsabilidade com bola no processo ofensivo.
Uma vez mais, um meio campo a três com triângulo invertido (ou 4x2x3x1) com Grujic, Uribe e Otávio acho que é uma fit muito forte e natural.
Felipe Anderson também ele um extremo que tambem pode jogar como 10 nesse sistema (ficando Luís Díaz como extremo esquerdo) teria uma liberdade ofensiva superior diferente de ser um médio ala esquerdo num 4x4x2, onde a ação defensiva dos médios alas é importantíssima. Igual para Corona do outro lado.
Taremi acho que renderia mais como 9 puro, referência ofensiva da equipa do que com acompanhamento num 4x4x2, tem um hold up play muito forte e a conexão com Felipe Anderson - Otávio - Corona no último terço deixa água na boca.
Por fim o cerne da questão. MAREGA. A extremo não dá. Como homem sozinho na frente também não.
Mas como se impõe (sabe-se lá porquê) que seja intocável, têm que ser os outros 10 jogadores a encaixar no que é o Marega, que apenas tira rendimento se atuar na frente em dupla com outro avançado, para que tenha liberdade para o ataque à profundidade sem que seja alvo de marcação constante na frente, funcionando o outro 9 (como fazia Soares) como a referência e Marega a atacar o espaço nas costas como tanto gosta.
E neste 4x4x2 de Marega, entra em mais ou menos sub-rendimento Otávio, Felipe Anderson, Corona, Taremi, Uribe e Grujic. Ficam duas pérolas da nossa formaçao como Baró e Fábio Vieira como eternos aquecedores de banco por simplesmente não encaixarem de todo e não serem prioridades para o técnico, e assim vamos nós.
Isto para rentabilizar Marega.
A minha questão é até quando um jogador que não é uma mais valia arrebatadora (como Hulk, James etc eram) vai condicionar o treinador a montar uma estratégia para maximizar o seu rendimento enquanto prejudica cabalmente o rendimento dos outros jogadores assim como promove a desvalorização de ativos (Baró, Fábio e num outro plano até Nakajima) cruciais para o clube.
Até quando é que isto vai continuar a magoar o FC Porto?
Note-se que não tenho absolutamente nada contra Marega enquantojogador. Não é de topo mas também não é horrível como muitos o pintam. Tem utilidade, tem pontos fortes muito fortes (no ataque ao espaço e ganhar a profundidade aos defesas na combinação timing/velocidade/corpo-a-corpo acho que é dos melhores do mundo, mas pontos fracos muito fracos também (tecnicamente está muito muito abaixo do exigível para o FC Porto e a sua produção e eficácia deveria ser bem maior e mais impactante para justificar tamanho estatuto). Mas qualidade do jogador aparte, acho que só um super talento como Messi, Neymar, Mbappé ou Cristiano poderia legitimizar tamanho foco na maximização do individual em prol da maximização das restantes individualidades em função do coletivo.
Mas são só os meus 10 centimos sobre este assunto já mais que debatido.
