Esta entrevista ao jornal O Jogo é um tiro no porta-aviões adversário. Sem nunca perder a elegância, responde a todas as questões mais sensíveis com a dureza, clareza, pertinência, coragem e objetividade que a situação atual exige. Embora critique de forma veemente muitos acontecimentos recentes é inteligentíssimo na forma como reafirma o seu respeito pela "herança" vitoriosa, falando inclusive, de preparar uma despedida ao Pinto da Costa à altura do seu legado. Foi também correto e inteligente na abordagem ao assunto Sérgio Conceição que poderia ser de alguma forma fraturante, para um lado ou para o outro, sublinhando que tem o perfil certo mas que será preciso saber a opinião dele sobre a proposta do novo organigrama para todo o futebol profissional e se o treinador atual se considera apto e com vontade de continuar com esses pressupostos (eu tenho a certeza que não se encaixa e que vai sair, e ainda bem!).
Mais uma vez é preciso ter-se a dimensão do que está aqui a acontecer. Antes de novembro, há menos seis meses havia um medo instalado, ninguém tinha coragem de levantar uma crítica ao atual presidente e o caminho para o abismo era inevitável. Hoje estamos perante uma alternativa credível, moderna, corajosa, que carrega na sua mais profunda identidade o ADN do FCPorto mas com uma ambição de projetar o clube para patamares ainda mais elevados. Uma entrevista como esta, a dizer o que diz, na forma como o diz, seria absolutamente impensável há um ano atrás.
As referências às sondagens não fazem mossa porque estão acompanhadas da revelação de que menos de 50% dos sócios estão com a sua capacidade eleitoral garantida e por isso mantém em alerta total quem defende a necessidade urgente de mudança ao mesmo tempo que passa uma sensação de dinâmica de vitória que em termos emocionais também é importante. Tudo bem feito, uma vez mais.
Nesta campanha, nada é por acaso, tudo foi calculado, previsto, estudado e ponderado. Será no futuro um study case de um derrube de um regime aparentemente inabalável e invencível, através da palavra, do argumento e do voto. O que só me faz ter uma confiança infinita no futuro. Se temos esta qualidade em campanha, o que teremos quando esta equipa estiver, efetivamente, com os poderes plenos de gestão?
Neste momento só tenho saudades do futuro. Só há um Porto. Viva o FC Porto!