Passei por muitas situações. Como quando comecei, no FC Porto. Quem começou a fazer estatísticas em Portugal acho que foi o professor José Neto. Na altura houve uma palestra e o falecido José Maria Pedroto chamou-o para falar e ele disse: Bobó, 100%. A última vez que o mister Pedroto se sentou no banco foi num jogo em Penafiel. Tive o azar de ele adoecer porque gostava muito de mim. Brincava comigo e apostava em mim. Dessa vez estagiámos no Grande Hotel do Porto e no dia do jogo ele disse ao almoço:
Dois bifes para o Bobó!
E eu pensei: o homem não me vai pôr a jogar. Deixa-me enfardar assim
E papei os dois bifes. Estou sentadinho no banco, o jogo a decorrer, e eu na altura jogava a médio ofensivo. Quem me pôs depois como médio defensivo foi o João Alves, no Estrela.
Bobó, aquece.
E eu não esperava. O estômago cheio com os dois bifes, tinha comido mesmo à brava. Perguntei se era mesmo eu.
Há aqui outro Bobó? Aquece, caralho!
Fui aquecer e nunca mais saía do aquecimento. Estava nervoso como não sei quê. Depois chamou-me e perguntou-me se estava quente. Disse que sim.
Olha, vais jogar a ponta-de-lança.
A ponta-de-lança, mister?
Sim. Não inventes, o futebol já está inventado. Chegas ali, pegas na bola, tira dos centrais e dá cacete. Quero ver-te a chutar à baliza.
Houve um lance em que lateralizaram o jogo para o lado esquerdo, desmarquei-me entre os centrais, o Vermelhinho cruzou rasteiro e fui de carrinho, já quase na linha de golo, e empurrei a bola com a sola lá para dentro. O Porto ganhou 1-0. Foi o último jogo com o mister Pedroto no banco