O HOMEM TINHA RAZÃO, PODÍAMOS GANHAR A CHAMPIONS
Quando José Mourinho contou à Dragões como Pinto da Costa o convenceu a ficar mais um ano
O texto tem quatro anos, mas permanece atual. Na crónica que assinou na edição de abril de 2012 da revista Dragões, José Mourinho referiu-se a Jorge Nuno Pinto da Costa como o Grande Presidente da História do Futebol Português, assim mesmo, com maiúsculas, e colocou-o no topo do mundo, mostrando-se seguro de que o FC Porto não será mais o mesmo depois da sua saída. Entre outras revelações, o Special One contou como Pinto da Costa lançou os alicerces da vitória em Gelsenkirchen, que deu aos Dragões e a Portugal a primeira e única conquista da UEFA Champions League.
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É difícil para mim escrever algo sobre o senhor Pinto da Costa, escrever algo que já não tenha sido dito ou escrito por algum dos que tiveram o privilégio de com ele trabalhar diretamente. Esse senhor, pelos seus inúmeros e incríveis talentos, poderia ter sido com sucesso aquilo que quisesse. Decidiu ser presidente de um clube de futebol, o clube do seu coração, e nesse papel foi escrevendo uma história da qual não se conhece ainda o fim, mas que é uma história fantástica, a história do Grande Presidente da História do Futebol Português.
Enquanto treinador do FC Porto, um dos momentos marcantes que ali vivi foi a inauguração do novo estádio, que, como sempre pensei, deveria levar o seu nome, mas que acabou por se chamar Estádio do Dragão. Na altura discordei silenciosamente, como assim era exigido pelas minhas funções, e também porque como nunca escondi não nasci portista e nunca carreguei comigo essa proteção.
Anos mais tarde e na sequência das reflexões que faço sobre a minha carreira e tudo aquilo que a rodeia, cheguei à conclusão de que, afinal, o nome do estádio era perfeito. Estádio do Dragão! E por quê? Porque Pinto da Costa é o Dragão! Pinto da Costa é a mística. Pinto da Costa é a alma. Pinto da Costa é o estratega. Pinto da Costa é o Futebol Clube do Porto. E que me desculpem aqueles que discordarem, mas quando Pinto da Costa disser que se acabou, o FC Porto não mais será o mesmo.
Na semana que se seguiu à final da Taça UEFA, estava eu de saída, estava Deco de saída. Chamou-me e sentou-se comigo. Perguntou-me se não sentia que poderia ganhar a Champions
Como sempre, acertou na mouche. Tocou-me no orgulho. Mister, prometo que só vendemos um jogador e que não será Deco. Prometo que lhe daremos outro em sua substituição e que será o mister a escolher. Ok, presidente! Vendemos o Postiga e vamos buscar o McCarthy.
O Homem sabia que eu não poderia virar as costas a um desafio e tocou-me na ferida. Fiquei mais um ano. O Homem tinha razão, podíamos ganhar a Champions. Agradeço-lhe por esse poder de persuasão, pela inteligência com que o usou, algo apenas possível nos eleitos. É que, tal como há um grupo de eleitos entre os jogadores e treinadores, também há um grupo de eleitos entre dirigentes. E aqui Pinto da Costa ocupa seguramente a nível mundial uma posição no topo.
Há muito tempo que não tinha a oportunidade de enviar um abraço de amizade, sentido, a todos os portistas e de lhes dizer que os anos passam mas que jamais me esquecerei daquilo que vivemos e conquistámos juntos. Está dado e está dito.
Quanto ao Presidente aquele abraço de parabéns!
José Mourinho
Este texto é um extrato da crónica de José Mourinho assinada na edição de abril de 2012 da revista Dragões, publicação oficial do FC Porto