Vi o documentário do início ao fim.
Acabei com um nó na garganta.
Especialmente quando o Prof. José Neto diz mais ou menos isto que aqui transcrevo de uma entrevista:
\"Permita que lhe conte uma história, de José Maria Pedroto, num jogo do FC Porto com o Benfica. Na primeira parte houve um penalty a favor do FC Porto, mas o Fernando Gomes falhou. No interva lo, no balneário, Pedroto foi violento. Qual bota de ouro qual..., disse. Nem para apertar os atilhos das botas serves, acrescentou. E mandou-o tomar banho. O Gomes era, na altura, o capitão de equipa. Só se ouvia o roupeiro a limpar as botas com a escova e a água do chuveiro. Todos se questionavam quem iria entrar, mas ninguém se atreveu a perguntar o que quer que fosse. Passaram os 15 minutos, o árbitro toca a campainha e o Pedroto diz que paga a multa: vamos entrar mais tarde. Entretanto o Gomes saiu do chuveiro, começou a limpar-se, e o Pedroto diz Fernando, equipa-te para a segunda parte, assim, pelo nome próprio e com uma voz suave. Foi a melhor palestra que ouvi. Primeiro levou o indivíduo até à urna e depois foi buscá-lo aos braços dos anjos. O balneário ficou eufórico, foram bolas e espelhos pelo ar e ali ganhámos o jogo. Qual Benfica qual quê! Passados 15 minutos marcámos.\"
Na reportagem, este senhor acrescentou que ali, naquele momento, houve uma declaração de guerra, os jogadores começaram aos berros, a mandar tudo pelo ar, os jogadores já nem andavam no túnel a caminho da relva, voavam, começamos a ganhar ali o jogo e o resultado acabou 3x1.
Arrepiei-me. Aqueles arrepios que só aparecem a quem aprende a amar um clube desde criança.
Muitas histórias se ouviram. Como aquela conhecidíssima do \"quando chamei o Mário Wilson de palhaço não tinha por intenção insultar os palhaços\", aquando de uma convocatória da Selecção perto de um Milão x Porto.
O documentário acaba com a viúva do Sr. Pedroto a dizer que \"dizem que o tempo cura a saudade, mas acho que não, ainda hoje sinto muita saudade dele, como antes\" e com Pinto da Costa, de lágrimas nos olhos, a contar histórias das madrugadas que passava à conversa com o Pedroto.
Ali está a génese do FC PORTO, da sua cultura de vitória, da sua raça, da MÍSTICA, do \"até os comemos\", do \"comer a relva\".
Viu-se aí aquilo que era o futebol português da altura, com uma Final do Jamor em que havia bandeiras conjuntas com símbolos do Benfica, do Sporting e do Belenenses, todos em amena cavaqueira, com tarjas e cartazes de insulto ao PORTO, ao Nosso Presidente e ao \"Zé do Boné\".
Foi isso que tivemos que ultrapassar. Não o fizemos com brasileiros, nem com argentinos, nem com uruguaios. Fizemo-lo com os NOSSOS, com os portugueses, principalmente os tripeiros e os nortenhos.
Ver aquela Final do Jamor, ver as agressões aos jogadores do PORTO, ver as bandeiras que referi nas bancadas, demonstra o que era o futebol português de então e a hercúlea tarefa a que nos dedicamos nos últimos 30 anos, invertendo completamente o mapa de sucesso do futebol luso.
Hoje o normal é o PORTO ganhar. Antes não.
Por isso é que não nos podemos aburguesar, não podemos deixar de sentir ORGULHO em ganhar, em ver aquela CAMISOLA a \"comer a relva\".
Negar isso será negar toda a cultura do clube e passar de novo a hegemonia para Lisboa.
Não nos podemos acanhar, adormecer, acomodar.
Devemos isso ao Nosso Presidente e ao Sr. Pedroto, homens verdadeiramente visionários que iniciaram a magnífica aventura de fazer do FC PORTO o clube mais titulado em Portugal e um dos mais titulados na Europa e no Mundo inteiro.