Estimado Presidente
ouvi-o ontem como ouço sempre, como um neto que se senta no chão aos pés do avô junto da lareira e bebe cada palavra com avidez, mesmo que por vezes o avô exagere e meta assim uns coros pelo meio quando conta aquelas histórias giras do antigamente.
E olhe que eu já não tenho avós... infelizmente...
mas olho para si e ainda o escuto com o mesmo carinho de sempre, grato por tudo o que fez pelo clube, pela cidade e pelas suas gentes, tanto que liguei logo ao meu sogro (seu amigo e conhecido) para o alertar da entrevista e poder vê-lo e ouvi-lo também (e olhe que a estima que ele lhe tem ainda é maior do que a minha)
tenho bem memória, no cimo dos meus 41 anos, para saber que o que hoje somos enquanto clube o devemos a si, isso não mudará
espero que a sua ambição desmedida nos faça mais uma vez felizes, que este seja um ano maluco e que a orelhuda seja nossa outra vez, seria a forma mais linda de nos despedirmos de si e de preparar a sua saída ainda condigna do clube
mas sinto-o cansado, sinto-o confuso, sinto-o lá está... como um avô de quem gosto mesmo muito... já não o consigo sentir como o nosso presidente, como o homem que tomava armas e punha a capital em sentido sempre que falava
mesmo quando agora reclama, parece um avô rezingão, a queixar-se que o leite não está quente o suficiente
somos roubados todas as semanas de forma indecorosa e estão a colocar-nos a equipa B na terceira divisão e o Sr. Presidente dá palavras quase cândidas dizendo que o único problema é faltar o VAR na segunda liga. Se houvesse VAR na segunda liga era só mais um árbitro a contribuir para a roubalheira vergonhosa que se assiste todas as semanas. Não posso acreditar que não lhe doí, que não lhe doa como o a nós nos doí sempre que nos roubam, nos prejudicam, nos perseguem desta forma.
Vê-lo a gaguejar e patinar da forma como o fez sobre a academia só confirma o que já se suspeitava... que não houve andamento nenhum no processo, até porque não deve haver capacidade financeira para o mesmo... senão já se tinha mostrado uma maqueta, um esboço, uma ideia, já se tinham anunciado parceiros estratégicos, já se tinha definido um rumo
vejo-o como um avô de quem realmente gosto muito muito muito... e estarei eternamente grato a si e ao seu contributo que fará com que o meu filho e o filho dele, assim como todos os nossos filhos possam ter um clube para amar como nós hoje amamos
mas está na hora do Sr. Presidente perceber que o clube hoje não precisa de um avô, precisa de um presidente