Um novo polvo
No centro da mudança de treinador que o FC Porto operou neste final de época estará o médio-defensivo Fernando. As diferenças de conceito entre Jesualdo Ferreira e Villas-Boas são mais substanciais numas áreas do que noutras, mas talvez nenhuma função no campo seja tão notoriamente atingida pela metamorfose como a do brasileiro, forçado a passar depressa de varredor a médio completo, tão parecido quanto possível com os parceiros de meio-campo. A novidade, e uma das curiosidades da nova temporada, é que o novo treinador acredita plenamente que o \"polvo\" é rapaz para trocar melhor a bola e até começar a romper pelo ataque adentro. No jargão dos manuais e da TV, diz-se comer linhas.
Villas-Boas não pediu a contratação de um substituto para o brasileiro. Em princípio, o FC Porto contratará sempre um jogador para a posição, por não haver nenhum nos quadros que dê a confiança necessária, muito menos dentro do novo modelo, mas o número 1 é Fernando, basicamente por já reunir uma boa dose das características consideradas essenciais para o lugar e por lhe ser reconhecido, pelo novo técnico, potencial para jogar de outra forma.
Bem mais adepto da posse de bola do que Jesualdo Ferreira, Villas-Boas pretende um meio-campo mais dinâmico, de posições até certo ponto intermutáveis, que vá compensando as subidas de um com as descidas de outro, que se aproxime do ataque e saiba trocar a bola. Nada que, como se pode ler nas páginas seguintes, seja estranho aos próprios princípios do clube desde há mais de uma década.
Outra das convicções do treinador é que a alteração dos hábitos de treino será suficiente. Fernando joga exactamente como Jesualdo Ferreira lhe pedia que jogasse, em contenção, numa zona bem delimitada e sem passaporte para arriscar mais do que uns metros nas áreas proibidas - condições essenciais na função de cobertura, cem por cento posicional, que ocupava no modelo anterior.
Independentemente do que vier a suceder na fase larvar do novo Fernando, o trinco que o FC Porto contratar será um jogador dentro destes parâmetros.
Fernando chegou ao FC Porto aos 19 anos, já internacional sub-20 pelo Brasil, embora ainda na vigência de uma suspensão de um ano por agressão a um árbitro durante o apuramento para o Mundial do Canadá. Chegado de Vila Nova de Goiás directamente para a pré-temporada com Jesualdo, começou por jogar mais vezes a lateral-direito do que na sua posição de origem - na altura, colocada fora do alcance pela presença de Paulo Assunção - e seguiu depois, por empréstimo, para o Estrela da Amadora, onde facilmente blindou o lugar no onze. De regresso ao FC Porto, só depois de chumbada uma primeira experiência com Guarín pôde pegar no leme. Agora terá de aprender a pegar-lhe de outra maneira.
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