Eu não celebro mortes. Ponto. Em toda a minha vida, a única morte que me lembro de festejar foi a do Osama Bin Laden - outros tempos, outra mentalidade. Hoje em dia provavelmente sentiria tão só alívio.
Ninguém está a santificar o Pedro Guerra. Fez coisas más na política e no futebol - mais neste do que naquela. Inventou mentiras, espalhou ódio e ajudou a criar um ambiente instável no futebol português.
Não obstante, tudo isso é insuficiente para celebrar a morte do Pedro Guerra. Nem sei se é suficiente para o qualificar como uma pessoa má, tamanha é a zona entre o "bem" e o "mal" no espectro humano, afinal só conhecemos a figura pública e nunca privamos com ele.
Mesmo assumindo que era uma pessoa má, ainda se mantém a insuficiência. Não consigo imaginar o sofrimento pelo qual passou nos últimos meses - o cancro do pâncreas é doloroso, há quem diga até o mais doloroso. Para quem acredita em retribuição, pode ter bem assente que o Pedro Guerra pagou em excesso por todo o mal que provocou; não acredito nisso, portanto lamento de qualquer forma, não consigo imaginar a dor.
Recomendo a todos que aqui celebram a morte desta figura que pensem no quão mau seria se tivessem um pai, um tio, um irmão, etc. e vissem, aquando da sua morte, uma série de comentários a festejar o seu falecimento.
E ainda que não liguem nada a este último argumento, aconselho a uma séria reflexão sobre o facto de levarem o futebol tão a sério. Incomoda-me mais o Pedro Guerra ter auferido 5 mil euros por ser assessor ou adjunto do Paulo Portas ou por ter estado envolvido num esquema de desvio de dezenas de milhões do que por ter andado a espalhar a cartilha.
Enfim, não consigo deixar de lamentar a sua morte, seja por ser precoce, seja por ser dolorosa, seja por todos aqueles que deixa cá. E ainda tenho pena de ver um homem que se sujeitou, por sua exclusiva culpa e até para seu gáudio, a ser um subalterno em todas as áreas que atuou.