Isto foi a minha contribuiçao assinar um jornal que nunca assinei. E a minha prenda de natal para vocês.
Na última assembleia geral, deu a entender que ia formalizar uma candidatura à presidência em janeiro. Vai mesmo fazê-lo?
Todos os passos que tenho dado recentemente, têm sido seguros e firmes seja
do ponto de vista da gestão, seja na preparação da minha visão e projeto
para o clube. Em janeiro já me encontro em condições de formalizar a
candidatura.
Tinha dito que estava a constituir uma equipa. Pode adiantar nomes?
Nesta fase ainda não, até porque queremos fazê-lo de uma forma progressiva.
Não só respeitando a época do F. C. Porto, mas também para que os sócios
possam conhecer quem fará parte do projeto e as linhas mestras. O mais
importante para nós é não sermos disruptores da época do F. C. Porto,
para que esta campanha se faça de uma forma correta, transparente,
educada, e de uma forma a que o F. C. Porto saia sempre valorizado.
Acima de tudo, acho que são pessoas com competências inegáveis, e
reconhecidas no mercado como as melhores. Fiz esta candidatura no
sentido de rodear-me das melhores pessoas possíveis. E acho que o F. C.
Porto precisa de dar esse passo também na sua gestão. Portanto, quero
rodear-me dos melhores do mercado, e os melhores do mercado, às vezes,
obedecem a perfis específicos, que felizmente em alguns casos já
encontrámos, e teremos muito gosto em anunciar daqui até abril. Há aqui
um aspeto que eu gostava de sublinhar, que é o seguinte: 2024 tem que
ficar marcado pelo título do F. C. Porto, e não pela eleição do seu
presidente. Portanto, este título e esta entrada na Liga dos Campeões de
forma direta é demasiado importante para a sustentabilidade e
viabilidade financeira do F. C. Porto, principalmente a curto prazo.
Angelino Ferreira, antigo administrador da SAD, pode fazer parte da sua equipa?
É um nome que está vinculado ao F. C. Porto, principalmente numa década
reconhecida por uma gestão eficaz, qualificada e rigorosa. Portanto, tem
sido uma das pessoas que, felizmente, me tem demonstrado apoio e
seguramente é uma das pessoas com as quais eu gostava de contar.
Também gostava de contar com Antero Henrique, antigo diretor geral do F. C. Porto?
O Antero terá sido um dos melhores CEO com os quais trabalhei. Mas não
faz parte das minhas equipas e dificilmente fará parte da equipa que
levarei para o F. C. Porto.
Mas tem trocado ideias com ele?
Sobre o projeto do F. C. Porto poucas, porque isto é um projeto que só a mim
corresponde e é a visão muito específica que tenho para o clube, que
obedece às minhas experiências, à cultura que tenho absorvido nos países
onde trabalhei, na minha visão para o que é e o que deve ser um
departamento de futebol e como é e o que deve ser um modelo de gestão
operacional e estratégico para o F. C. Porto. Nesse campo é uma visão
que muito me corresponde, da qual estou muito firme e seguro, que é a
melhor para implementar para o clube. Evidentemente, com a experiência
que tenho, trocámos alguns pontos de vista, mas não tem sido como as
pessoas querem montar, tão influente e determinante neste projeto, nem
está na base da construção deste projeto.
Em 2019, antes das últimas eleições, assinou a recandidatura de Pinto da
Costa e disse que enquanto o presidente fosse vivo devia liderar. Porque
muda de ideias?
Sobretudo o sentimento de que o F. C. Porto deixou de estar em primeiro e serve
um conjunto de interesses pessoais de outras pessoas que gravitam à
volta do F. C. Porto. Urge a mudança, uma modernização estrutural e uma
gestão mais eficaz, tendo em conta os requisitos do futebol moderno. E o
meu sentimento é que isso não tem vindo a acontecer. Estou em condições
de me apresentar como candidato. Tenho-me preparado do ponto de vista
da gestão para tomar esse passo e tenho uma experiência desportiva que
me pode servir na gestão da parte desportiva e profissional. E é por
essas razões, e por ver a constante descida do F. C. Porto nas
prioridades da atual administração, que tenho o dever me apresentar como
candidato.
Mas não há aqui uma contradição naquilo que pensa e naquilo que tem
exposto? Por exemplo, quando presidente teve um acidente de carro
desejou-lhe as melhoras e no dia do aniversário disse que ele era o
presidente dos presidentes?
Não, porque há um respeito pela figura, pelo seu passado histórico e pelo
seu legado. Portanto, o presidente representa o presidente dos
presidentes e é o presidente mais titulado de sempre do F. C. Porto, e
assim será propagado no tempo. É a nossa responsabilidade também
propagar a sua visão, a sua ironia, a sua sagacidade, a sua cultura de
vitória. Portanto, tudo isto são fatores que queremos propagar no tempo,
porque são para nós também referência de como nos devemos comportar
sobre o aspeto desportivo, uma cultura de vitória, um compromisso com a
vitória. Desejar as melhoras do ponto de vista pessoal ou parabenizar
alguém pelo seu aniversário parece-me uma questão de educação acima de
tudo, principalmente quando entre nós já reinou a amizade, mas reinará
sempre o respeito um pelo outro, pelo menos da minha parte.
Porque acha que as coisas chegaram a este ponto?
Houve um certo relaxamento na gestão do clube e continuou-se a acumular uma
gestão cada vez mais danosa do ponto de vista desportivo, que é, entre
outros, um dos garantes de sustentabilidade do clube. Há quase 10 anos
assinámos o contrato televisivo mais rentável de sempre para o F. C.
Porto, e contrariamente ao expectável, foi quando entrámos em degradação
total no aspeto económico e financeiro, ao ponto de nos encontrarmos,
neste momento, com a maior parte das receitas antecipadas, a tentar
antecipar receitas dos próximos 15 anos e, aparentemente, a tentar
antecipar receitas de um contrato televisivo que só começa em 2028. Quer
dizer que esgotamos os modelos de gestão operacionais que antes
funcionavam no F. C. Porto. Acho que este deteriorar da situação
financeira do clube leva-nos a entender que o F. C. Porto deixou de
estar na prioridade da atual administração.
Na última assembleia-geral, o presidente criticou a sua postura e elogiou a
postura do outro candidato, Nuno Lobo. Interpretou isso, simplesmente,
como tática eleitoral?
De certa forma, algum desconforto e alguma surpresa, seguramente. Porque,
no fundo, é uma assembleia geral de apresentação de contas e o
presidente do F. C. Porto dedicou-se a ataques pessoais do que se focar
no essencial, que eram umas contas apresentadas com um prejuízo de 48
milhões de euros. Portanto, esses ataques pessoais, de certa forma,
maquilham a realidade dos factos e os factos são que o F. C. Porto teve
um prejuízo de 48 milhões de euros, e que o mesmo é vergonhoso, e é o
segundo prejuízo e exercício mais elevado das suas contas recentemente
apresentadas. Portanto, ataques pessoais acho que não valorizam o F. C.
Porto.
Esperava que as contas fossem chumbadas nessa assembleia?
O efeito de contas chumbadas seria irrelevante na gestão, porque o clube
vota as contas da sua sociedade desportiva em sede da assembleia geral
da SAD, e as contas são o que são e havia pouca coisa a fazer. Uma
negação e uma desaprovação por parte dos sócios, penso que seria uma
mensagem institucionalmente forte. No entanto, não há registo de umas
contas serem aprovadas com tal diferença mínima. Também não há registo
de uma assembleia geral que tenha decorrido daquela forma, tão
organizada, onde os adeptos do F. C. Porto se puderam exprimir
finalmente, sem opressão e sem medo de represália física. Houve um sem
número de sócios que votaram contra, um sem número de sócios que se
abstiveram, e houve sócios que votaram a favor das contas, para que as
mesmas fossem aprovadas. Tendo em conta o acumular de exercícios
negativos e a atual debilidade financeira do F. C. Porto, eu decidi
votar contra a apresentação do relatório de contas.
Qual é o seu projeto desportivo para o F. C. Porto?
Eu defendo um modelo onde o F. C. Porto volta a ser referência nacional e
internacional na qualidade do talento que recruta e que cria receita
para o F. C. Porto, seja através da formação, seja numa otimização do
seu scouting, e que serve a equipa principal. É um modelo que assenta na
parte desportiva do F. C. Porto e numa melhoria interna dos seus
modelos de gestão, juntamente com a expansão da marca, um controlo
rigoroso de custo aliado à criação de receitas. Há aqui um conjunto de
estruturas que têm de funcionar melhor e neste momento isso não
acontece. Na equipa profissional, pelo menos na minha altura, o
treinador dedicava-se apenas a treinar. Porque as estruturas que o
envolviam funcionavam na perfeição. Temos um treinador que está isolado
dessas estruturas, que no fundo é o comandante das operações do F. C.
Porto, e por não ter estruturas funcionais à sua volta, temos visto
durante estes últimos sete anos da sua gestão, de certa forma, um
delapidar do valor global plantéis dos jogadores que antes geravam
muitas mais-valias.
O problema financeiro também se explica pelas questões desportivas?
Temos um sem número de jogadores que ultimamente têm saído a custo zero, um
mau aproveitamento das contratações que têm sido feitas, sobretudo por
causa de uma má gestão da parte do scouting, de uma má identificação do
que é que é o talento. Portanto, onde o F. C. Porto foi muito forte na
primeira década, que vai de 2000 a 2010, acabou por se enfraquecer na
sua seleção criteriosa e rigorosa que antes fazia em termos de scouting e
as suas equipas começaram a perder valor. Além de mais, há uma parte da
gestão relacionada com os seus ativos, do ponto de vista contratual,
que acabou por ser menosprezada e que levou a essas saídas a custo zero
permanente. Portanto, onde antes havia entrada de capital, deixou de
haver entrada de capital de venda dos jogadores e continuamos a cair no
mesmo erro que, de certa forma, está aqui evidenciado no que
recentemente se passou com a perda de valor relativamente ao David
Carmo, com a potencial da perda de valor relativamente ao empréstimo do
Fran Navarro para o Olympiacos, onde o F. C. Porto compra a um valor,
empresta, mas se o jogador não sair de lá não capitaliza essa venda. E
temos aqui uma série de exemplos contínuos que levaram à perda de valor e
à perda de valor das equipas do F. C. Porto. O F. C. Porto não se
consegue sustentar se não formar cada vez melhor e se não identificar
cada vez melhor onde é que está o talento. A competição pelo talento
também mudou no mundo inteiro, porque pelas recentes transferências que
temos visto no futebol internacional, os clubes de topo contratam cada
vez mais rápido e cada vez mais cedo e jogadores cada vez mais jovens.
Portanto, há um reformatar necessário do modo como se contrata e isto só
vem com um departamento de scouting que funcione, que seja capaz de
identificar o talento na altura certa e que seja capaz de identificar o
talento em antecipação a esses grandes colossos europeus. Depois, quando
o talento chega a Portugal, é preciso desenvolvê-lo, trabalhá-lo e
criar valor. Portanto, acho que a autodestruição no que toca ao aspeto
financeiro do clube tem vindo também da falta de gestão relacionada com a
identificação do talento e a promoção do talento e a retenção de valor.
Como sabe, o F. C. Porto tem um passivo de 500 milhões de euros, tem
capitais próprios negativos. Qual será, no seu entender, a estratégia
que pode ser adotada e que o André Villas-Boas defende para inverter
esta situação?
Eu defendo um modelo onde o F. C. Porto volta a ser a referência nacional e
internacional na qualidade do talento que passa pelo F. C. Porto, que
cria receita seja através da formação, seja numa otimização do seu
scouting, que serve a equipa principal e a sua formação. Esse é o meu
modelo. É um modelo que assenta na parte desportiva do F. C. Porto e
numa melhoria interna dos seus modelos de gestão. Portanto, a expansão
da marca, mais criação de receitas. Agora, atualmente, estamos
potencialmente vinculados no futuro, à parceria que a atual
administração está a estabelecer com a empresa norte-americana. É
importante para nós perceber o que é que está por detrás desta parceria
para montarmos outro tipo de investimento que nos possa dar a
sustentabilidade financeira. Agora, as soluções, para mim, estão
internamente relacionadas com a parte desportiva e com a parte do modelo
de gestão financeiro que atualmente não funciona e que leva a estes
constantes acumulados de prejuízo.
Mas o modelo de formar jogadores e vendê-los também tem um reverso da medalha do ponto de vista desportivo…
Não vejo porquê.
Ao vender os melhores jogadores está a tirar valor aos plantéis…
Vejo muitos modelos de gestão a centros na formação, como é o caso do Ajax,
como é o caso do Barcelona, que funcionam perfeitamente e que sustentam
os seus clubes. No caso do Barcelona, temos um caso evidente de gastos
com determinados jogadores que levaram à falência do seu modelo de
negócio. No entanto, se nos focarmos n o Ajax, temos um caso perfeito de
sucesso, onde há uma formação contínua há mais de 40 anos que é
identificada como um modelo grande de negócio e que funciona
perfeitamente. Que sustentou aquele clube e que sustenta o clube do
ponto de vista desportivo e económico e que continua a resultar, tirando
este ano em que se encontra numa situação de classificação um pouco
mais baixa. Mas que vendeu 160 milhões de euros em jogadores nos últimos
dois anos. Portanto, este é um modelo que funciona perfeitamente, e há
também casos evidentes em Portugal de como isso funciona.
Como é que se pode expandir a marca do F. C. Porto em termos internacionais?
Acho que o F. C. Porto perdeu preponderância internacional. Afastou-se da
Associação Europeia de Clubes, onde foi um dos seus membros fundadores e
deixou de ter palco. O F. C. Porto é caracterizado por ter quase mais
de 80% dos seus sócios na zona Norte do país. Antes da expansão
internacional, há uma expansão nacional que é obrigatória. Nos anos em
que fomos os reis da Europa, e os reis do Mundo, relativamente a 2004 e
2005, quando conquistámos a Taça Intercontinental, há um interesse
natural de conhecimento do F. C. Porto e há uma falta de colocação da
marca F. C. Porto pelo mundo, seja através das suas escolas, seja
através de acordos comerciais, seja através da expansão da sua marca.
Uma visão mais internacional para a marca era importante, principalmente
quando o F. C. Porto conquista troféus internacionais. Nós temos uma
cultura muito bairrista e fechada, que nos orgulhamos. E orgulhamo-nos
também do nosso modo de ser. Agora, isso não implica que não se expanda a
marca do ponto de vista internacional. E digo-lhe assim, um exemplo de
forma clara, relativamente às pré-épocas, por exemplo. O F. C. Porto
foca as suas pré-épocas, se calhar por opção do seu treinador, do ponto
de vista desportivo, muito específicas no Sul de Portugal, e não
aproveita para expandir a sua marca em idas aos Estados Unidos, em
colocação da marca nos Estados Unidos, em colocação da marca na Ásia.
Portanto, em pontos onde pode haver crescimento e podem crescer futuras
parcerias estratégicas.
Do ponto de vista económico tem alguma carta na manga no sentido de atrair investimento?
Antes de mais, temos que ver o que se passa relativamente ao parceiro
estratégico que o F. C. Porto está a alinhavar para o futuro. Temos um
diretor financeiro que anunciou que até ao final do ano o F. C. Porto
iria entrar em capitais próprios positivos, ou ser muito próximo de
positivos. Importa saber o que se passa com esta parceria que vai muito
além da Legends e do naming do estádio, e do naming do centro de treinos
e de certa forma do “food and beverage” do estádio. Portanto, importa
saber o que realmente há com a Sixth Street, caso seja esse o parceiro, e
quais é que são as implicações da mesma. Por parte do CFO foi dito que
potencialmente poderia ter a ver com a venda de uma das participadas do
clube. Ora, se o F. C. Porto está a vender uma parte das suas empresas,
no fundo está-se a vender. Portanto, isto não deixa de ser também uma
forma maquilhada de vender parte do F. C. Porto. Não será o capital
social da sua SAD neste caso, mas será uma das participadas, neste caso a
Porto Comercial. E se há realmente uma venda deste ativo, há uma
mais-valia imediata, e se calhar é essa mais-valia que levará a capitais
próprios positivos. Desconhecemos.
Mas não tem feito diligências para encontrar parcerias financeiras?
O F. C. Porto é um clube que está dentro do associativismo, mas tem uma
empresa cotada em bolsa. Eu não sou o seu representante enquanto seu
presidente, sou um acionista muito pequeno da SAD. Há um projeto, uma
consultoria e temos um parceiro que nos olha diretamente para os moldes
que queremos construir relativamente a investimentos futuros, a
parceiros estratégicos, a renegociação da dívida e oportunidades de
investimento. No entanto, há aqui uma parte que está relacionada com o
crescimento da marca F. C. Porto, com o aumento de receitas, com um
trabalho que tem de ser feito internamente para melhorar e gerar mais
receitas e tudo isto está relacionado com um modelo de gestão mais
eficaz.
Esse parceiro é uma instituição bancária?
Não, neste momento nós trabalhamos em consultoria para perceber modelos
possíveis. Portanto, não estamos a trabalhar especificamente em nenhum
porque não estamos nesse poder de representatividade e de nos podermos
sentar com alguém em representação de uma instituição da qual não somos
os representantes.
Na equipa que está a montar há nomes específicos para o scounting e a direção desportiva?
O scouting e a direção desportiva pertencem à administração, serão postos
que naturalmente estão vazios e terão que ser ocupados. Na atual
administração, sobre a área dessa responsabilidade, está o Luís
Gonçalves e está o Vítor Baía, naturalmente para nós são cargos que
devem ser ocupados e que estarão livres e para os quais estamos a olhar
para perfis. E relativamente à área financeira, igualmente, porque é uma
área determinante para a sustentabilidade futura do F. C. Porto temos
um nome já fechado e em breve comunicaremos.
No seu modelo teremos uma administração mais magra?
A nossa ideia é termos um corte imediato de custos para metade do valor
da atual administração. Portanto, aí temos imediatamente um corte que
queremos à volta dos 50% a 60% do valor da atual administração.
Remuneração fixa ou em número de administradores?
Fixa. Depois queremos estabelecer ponderadores positivos e negativos. Sobre a
remuneração variável, queremos aplicá-la a um máximo de 60% da
remuneração fixa. No entanto, na remuneração variável, a mesma estará
sujeita a ponderadores positivos e negativos, esses ponderadores têm a
ver principalmente com o aspeto financeiro do clube. Portanto, não faz
sentido sem sucesso financeiro haver direito a remuneração variável.
Vai tomar alguma medida para tornar mais transparente a gestão do clube?
Vamos criar um portal da transparência. Vai além dos típicos comunicados à
CMVM. Detalha especificamente o valor obtido, deduzindo todos os custos e
comissões. Relativamente a transferências e a negócios.
Os comunicados e os relatórios e contas do F. C. Porto não são suficientemente claros?
Os comunicados não são claros, parece-me evidente. Os relatórios e contas
têm partes que são subjetivas. A rubrica “outros” é sempre uma delas,
onde o F. C. Porto acumula, penso que desde 2011, mais de 50 milhões de
gastos. É aí que estão custos de intermediação de jogadores abaixo de
valores de dois milhões de euros. E não vejo a razão para não explicar
porque é que as comissões vão para determinado agente, em determinada
situação, normalmente associadas às transferências de jogadores da
equipa B e das equipas de formação. Portanto, é precisamente nestas
áreas que a gente quer intervir e tornar tudo muito claro. E temos uma
clara intenção de avaliar bem o que é que se passa nessas transferências
da equipa B.
Tem algum projeto no que diz respeito às infraestruturas?
Com estes avanços e recuos relativamente à Nova Academia da Maia só podemos
estar estupefactos com toda a situação. Segundo as últimas declarações
por parte do presidente da Câmara da Maia, numa área de 340 hectares o
F. C. Porto tem de se localizar especificamente numa zona que implica
compra de terrenos a privados e em hasta publica, não podendo
instalar-se noutras áreas de resolução mais rápida e efetiva. Nesse
sentido, pensamos numa alternativa muito mais centralizada no Município
de Gaia. Para nós, não faz sentido dividir a equipa principal da
formação. Portanto, a nossa alternativa é em proximidade do atual centro
de treinos do Olival, criar um centro de alto rendimento para as
equipas profissionais, a equipa principal, equipa B e sub-19, contemplar
um pavilhão para as modalidades e para o crescimento do futsal no
futuro. Desta forma, dotamos as equipas de formação da melhor
infraestrutura possível, como é a do atual CTFD do Olival. Este espaço
ficará a um quilómetro de distância. Temos um contrato de promessa de
compra e venda assinado com o proprietário deste terreno. Não teremos
nenhum problema em ceder esta posição contratual ao F. C. Porto caso não
sejamos eleitos. Portanto, isto é uma alternativa que temos orgulho em
fornecer a qualquer direção que venha a ser eleita. Agora, temos de
aguardar o desenvolvimento que há na Maia, dando segurança aos sócios
que há aqui uma via alternativa.
Como vai ser financiado esse centro de alto rendimento?
O financiamento pode ser obtido de várias formas, seja, através do
construtor, através de um parceiro ou através de financiamento. A
construção propriamente dita, lança-se a concurso. Depende dos
investidores e parceiros estratégicos que selecionarmos para a sua
construção.
Mas mesmo com concurso vai ser preciso obter dinheiro...
Certo. O financiamento é obtido através do construtor ou através de um parceiro ou através de financiamento na banca.
Mas nesse cenário o endividamento do clube não aumenta?
Pode aumentar, mas no caso do centro de treinos a obtenção de receitas por
parte da via da formação é exponencialmente melhor. Se se pensar num
projeto desportivo ou numa instalação desportiva a 50 anos, que
normalmente é uma duração perfeitamente aceitável para amortização desse
valor, é um investimento que o F. C. Porto tem de fazer.
Vamos imaginar o cenário que é eleito. A academia já não será construída na Maia?
Nós respeitaremos todos os contratos que temos na Maia. Temos uma opção e
um direito de preferência sobre um outro terreno, caso suceda algum
contra tempo com a opção da construção da Academia na Maia. Nós temos
interesse em juntar a equipa principal com a da formação no mesmo espaço
geográfico e não separá-las. Acresce a eficácia operacional desta
escolha tanto pela sua proximidade como pela rapidez com que podemos
construi-la.
É importante para o F. C. Porto marcar presença no futebol feminino e no futsal?
Sim, há um eterno debate relativamente à sustentabilidade das modalidades.
As modalidades têm que ser autossustentáveis, o que normalmente não são.
Em primeiro lugar, há um modelo de eficácia e de gestão e de rigor que
também tem que ser aplicado às modalidades. O sócio do F. C. Porto quer
ganhar em todas as frentes, em todos os campos, em todas as modalidades.
Há uma obrigação por parte do presidente do F. C. Porto e da sua
direção de montar equipas competitivas nas diferentes modalidades. O
crescimento das modalidades e de um mais eclético, faz parte da nossa
visão. Mas faz parte da nossa visão enquanto modelos operacionais
sustentáveis e que funcionem. No que toca ao futebol feminino, é uma
obrigação do F. C. Porto. Infelizmente, tornou-se uma obrigação para
alguns clubes por imposição da UEFA em regras de licenciamento. Queremos
dinamizar e criar o mais rápido possível, os restantes escalões que
faltam ao F. C. Porto.
Se for presidente, qual vai ser a sua relação com os Super Dragões?
Desconheço os protocolos atuais assinados com os grupos organizados de adeptos,
nomeadamente com os Super Dragões e com o Coletivo. Irá haver, por parte
desta Direção, um respeito pela história e tradição das claques.
Interessa-nos perceber de forma clara se há ou não, devido à informação
que temos vindo a recolher nestes últimos dois anos, uma perda de valor
relativamente à bilhética do F. C. Porto associada aos grupos
organizados de adeptos. Portanto, se houver perda de valor que não sirva
à instituição F. C. Porto da melhor forma, é aí que vamos intervir. Eu
desconheço sinceramente o atual protocolo que está assinado.
Então essa relação pode alterar-se?
Seo F. C. Porto perde receita, esse é um caso de intervenção. Não quero
crer que assim seja. Se assim for, serão estabelecidos protocolos de
cooperação com os grupos organizados de adeptos que respeitem a tradição
e a história do F. C. Porto.
Mas essa atitude também poderá causar-lhe muitos dissabores?
Os dissabores que pode criar a mim próprio ou à minha direção são
mais-valias que podem criar ao F. C. Porto, enquanto instituição.
Portanto, se isso traz melhor gestão operacional e financeira das suas
contas, é isso que eu tenho que defender.
Como é que geriu os atos de vandalismo na sua casa? Em algum momento chegou a pensar em desistir?
Não, de todo. Em primeiro lugar, esses incidentes estão ainda em
investigação do Ministério Público. No entanto, não há nada que faça
abalar a minha candidatura. Eu acho que o foco está em apresentar um
programa, uma visão e um projeto para o clube. Mas não abalou em nada o
meu foco relativamente a isso.
É verdade que pediu policiamento junto a sua casa?
Não é verdade. E lamento que o JN tenha feito a notícia como o fez. O que é
feito é uma avaliação de risco por parte do Corpo de Segurança Pessoal.
E é essa avaliação de risco que determina a minha proteção.
Assume a renovação de Sérgio Conceição como uma prioridade sua, caso seja eleito?
A época do F. C. Porto é demasiado importante para o futuro do clube, e
como o próprio treinador disse publicamente que a sua renovação não era
tema, nós, quando formos eleitos, sentamo-nos com o treinador
imediatamente, ou no fim da época, nos timings que ambos entendermos,
para saber o interesse que tem na continuidade. No entanto, não vou
forçar nenhum encontro nesta fase. Em devida altura, sentar-me-ei com
ele, dando-lhe prioridade. Espanta-me porque é que o F. C. Porto permite
permanentemente que jogadores e treinadores entrem em finais de
contrato. Do ponto de vista negocial, coloca-se imediatamente numa
posição fragilizada. Já foi assim em vários casos e, muitas vezes,
perdemos a nossa capacidade negocial, e é por isso que vemos jogadores
saírem a custo zero com uma frequência enorme. Portanto, no fim deste
ano, potencialmente, teremos mais dois, entre o Taremi e o Cláudio
Ramos, e, para 2024 e 2025, estarão outros jogadores que entrarão em
final de contrato, entre os quais o Marcano, Wendel e Namaso. Portanto, o
F. C. Porto colocar-se em posições negociais fragilizadas é algo que
não entendo.
Se for eleito presidente, como pretende relacionar-se com o Benfica e com o
Sporting? Pretende manter o discurso do Norte contra Lisboa que tem
caracterizado os mandatos de Pinto da Costa?
O futebol português encontra-se talvez na fase mais sensível da sua vida.
A renegociação e centralização dos direitos audiovisuais vai acontecer
em 2028. Portanto, até 2026 terá que estar feita a proposta
relativamente à divisão desses direitos televisivos. Acabamos de perder a
nossa posição no ranking da UEFA, estamos a qualificar cada vez menos
equipas para a Liga dos Campeões. Acho que é absolutamente necessário um
clima de cooperação e de comunicação aberta, que eleve a qualidade do
futebol português. Se há um papel que o F. C. Porto tem que ter no
futuro é um papel ativo de crescimento do futebol português, de
entendimento relativamente à melhoria do seu produto e à melhoria da
competitividade do futebol português na Europa. Esse cenário obriga a
que os clubes que são rivais se sentem à mesa e perspetivem o futuro do
futebol português de uma forma mais assertiva e aberta, mantendo uma via
de comunicação muito mais direta. Comigo assim será, porque é de uma
necessidade extrema. Há muitas coisas em jogo que são absolutamente
fundamentais. Relativamente à parte dos audiovisuais e da centralização,
o presidente da Liga já foi muito claro que nenhum clube irá perder
valor. No entanto, eu acho que os clubes têm que demonstrar o querer
elevar o estatuto do futebol português.
As pessoas conhecem a carreira que fez como treinador do F. C. Porto. Mas
também há quem lhe aponte o dedo pela forma como saiu do clube, porque
estava na sua cadeira de sonho. Como é que lida com essa crítica e
reconhece que isso pode, de certa forma, afetar a sua candidatura?
Não há nada que eu possa dizer que vá ultrapassar a mágoa e a dor que
determinados sócios têm relativamente à minha saída. No entanto, a minha
saída e nada difere à de outras tantas saídas, de tantos portistas que
saíram do F. C. Porto e que regressaram ao F. C. Porto para serem
recebidos de braços abertos por alguns sócios e adeptos. São esses
adeptos que vêem em mim as capacidades e as qualidades para ser
presidente do F. C. Porto. Há outros que, relativamente a isso, não
conseguem ultrapassar essa dor e essa mágoa e têm esse sentimento
presente neles. Não há nada que eu possa dizer ou fazer que os vá mudar
de opinião. Portanto, eu estou focado no futuro do F. C. Porto, defendo a
instituição, sou portista desde que me conheço e tenho uma visão e um
projeto para o clube. Espero que possa convencer algumas dessas pessoas
que não conseguem ultrapassar essa mágoa.