É com tristeza que chego à conclusão de que Anselmi não poderá ser o treinador do Futebol Clube do Porto na próxima época. Acredito que, se ele tivesse começado uma temporada desde o início, com um plantel mais ajustado ao seu modelo de jogo, numa equipa financeiramente mais estável, e com tempo para trabalhar os jogadores — alguns escolhidos por si, com o perfil adequado —, poderia eventualmente alcançar bons resultados. Mas, por vezes, a realidade está muito distante do que seria desejável, e ainda mais da realidade do futebol.
Na verdade, Anselmi chegou com o comboio já em andamento — e em muito mau estado. Como se isso não bastasse, com a sua chegada saíram dois dos nossos melhores jogadores, o Nico e o Galeno, sem que tenha vindo ninguém de craveira para os substituir. Apostou-se que, na próxima época, haveria mais vontade (e condições) para contratar, algo que o mercado de Janeiro não permitiu. No entanto, o que tem acontecido desde que Anselmi pegou na equipa tem sido francamente mau. Já existe uma enorme desconfiança em relação a ele, e é evidente que não terá a mínima margem de manobra que um treinador de projecto precisa no início de uma época. Ao primeiro desaire, veríamos logo lenços brancos, a equipa seria assobiada, e instalar-se-ia um ambiente péssimo em torno do projecto.
Felizmente, ou infelizmente — nunca saberemos —, Anselmi não continuará na próxima época. Creio que a direcção, mais cedo ou mais tarde, chegará a esta mesma conclusão. Não se pode iniciar uma temporada com um treinador sem qualquer margem de erro.
Gostava, no entanto, de fazer mais algumas considerações:
Em primeiro lugar: A atitude dos jogadores em campo é algo que não consigo compreender. Não sei se estão contrariados por terem sido castigados, por não poderem sair à noite, ou por, depois da exibição miserável contra o Benfica, terem ido de imediato para estágio. Não sei se será por outro motivo qualquer. Mas a verdade é que, dos onze que jogaram hoje, só vi um ou dois realmente empenhados, a darem-se ao jogo, a lutarem pela bola. Prova disso é que, depois do 2-0, mudaram de atitude. Onde esteve essa atitude antes? Após o 2-0, os erros foram sobretudo de qualidade e do desequilíbrio da equipa a atacar. Antes disso, pareciam uma equipa da 4ª Divisão. Por isso, destes jogadores, muito poucos têm lugar no Futebol Clube do Porto na próxima época.
Quanto ao treinador, independentemente de eu acreditar que, começando uma pré-época como referi acima, pudesse mostrar alguma qualidade, neste momento demonstra total incapacidade para dar um abanão ao grupo. Não faz aquilo que Sérgio Conceição fazia, mesmo com plantéis limitados — mesmo num ano como o passado, em que ficámos a 18 pontos do primeiro —, em momentos importantes, a equipa mostrava raça e garra. Coisas que agora não se vêem.
Compreendo também que é extremamente difícil, para um presidente que apanhou o clube num estado verdadeiramente lastimável, à beira da falência, e cercado de abutres que se alimentavam do cheiro a cadáver das contas do Porto, ver-se numa situação destas. Não queria estar na pele do Villas-Boas. Mas a verdade é que ele escolheu estar lá e é ele quem tem de resolver este problema.
Espero melhor na próxima época. Esta foi das piores exibições que vi ao Porto. Custa-me, dá-me náuseas, fico revoltado, fico doente. Mas, para o bem e para o mal, o amor mantém-se. Quando ganhamos e quando perdemos. Hoje vou dormir zangado com o meu amor, mas sei que amanhã acordo a amá-lo tanto ou mais do que hoje. Espero que as coisas mudem e que, para o ano, não haja esse tal “ano zero”, e que comecemos finalmente a melhorar.