Saíste de um regime ditatorial repressivo com 25%+ de analfabetismo, salários baixíssimos, sem serviços de saúde para a esmagadora maioria da população, numa economia agrária em isolamento internacional e com uma guerra colonial. Difícil seria fazer pior.
Agora, os números contradizem-te na "guinada". A pobreza continua a baixar, o nível de qualificação continua a subir, os salários continuam a aumentar, a mobilidade social é maior. Mas desde o COVID que houveram alterações significativas a nível de preços que a guerra piorou e que só agora começam a normalizar, que levaram à perda de poder de compra (e sem falar na crise da habitação).
Eu não sou favorável a ter uma economia de baixos rendimentos. Portanto, o meu problema não é com os custos, mas sim com os rendimentos. Portugal, pela sua posição geográfica, nunca terá uma economia com salários comparáveis ao centro da Europa, mas devia pelo menos tentar manter-se em linha com Espanha. As diferenças são notórias, desde logo na Alemanha compras um carro com 3 salários, que em Portugal custa 10 ou 15. Uma coisa tão básica como um telemóvel não é um investimento importante que acarreta poupança, crédito ou pagamento em prestações por estes lados. Tendo em conta a dependência portuguesa com importações, especialmente de artigos que são hoje em dia vistos como essenciais na "qualidade de vida", acabas por adiar por vários anos a independência financeira das famílias e a sua capacidade de investimento no seu futuro só para o básico do estilo de vida moderno que encontras facilmente noutros países.