Eu não quero que venham.
A minha crítica não está direcionada a quem defende políticas migratórias com critério. Critico é o discurso de ódio promovido pelos mesmos de sempre, sem base económica nenhuma, mas sim em preconceitos relacionados com a cor ou religião e supostas ligações entre imigração, criminalidade ou o colapso da Segurança Social.
Portugal tem uma Lei de Bases das políticas públicas de Turismo e vários instrumentos ao seu dispor para definir cargas turísticas e número de camas a nível nacional e municipal. Vou voltar a referir: o que quero, da parte dos agentes políticos, é que digam como irão agir na vertente económica e não na vertente da imigração, porque essa é um sintoma. Restringir imigração sem mexer nas causas teria um impacto devastador em alguns setores que ficariam incapazes de operar. Essa parte não convém dizer porque retira votos, não é?
Comparar Portugal à Dinamarca é intelectualmente desonesto. A economia dinarmaquesa é altamente diferenciada, com níveis elevados de produtividade, elevado investimento em inovação e um modelo de bem-estar consolidado. Os empregos indiferenciados conseguem ser atrativos até para nacionais, pois oferecem condições compatíveis com uma vida digna, coisa que não consegues fazer com os 775€. A integração dos migrantes é ativa e planeada, não têm de recorrer à imigração para suprir carências sistémicas. Portugal só teria a aprender com países assim, algo que digo há décadas. Faz lá as tuas pesquisas e vê quantas vezes eu já referi os países nórdicos por aqui.
E também já falámos várias vezes sobre a pobreza estrutural em Portugal. E já referi várias vezes que o problema começou com a entrada no Euro, onde Portugal investiu zero em inovação. Temos uma produtividade baixíssima, apesar de sermos um dos países com maior carga horária de trabalho, uma dívida pública demasiado alta e disparidades regionais gritantes. Queres uma economia de valor? Também eu. Vamos com 40 anos de atraso na criação dela, por falta de visão de um suposto economista, mas sempre que abro esse debate aqui, respondem-me com “mas ai o Sócrates”. Os políticos não apresentam soluções, porque o povo também não as quer, quer é ruído e conversas de tasca. E acabam por ter o que merecem.