e se fossem adeptos do slm?
Actualidade Internacional
- Iniciador de Tópicos dragao86
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Mas nazismo ou anti-semitismo não é equivalente a ser conservador. O Knut disse publicamente sobre o Hitler "Ele era um guerreiro, um guerreiro pela humanidade e um profeta da verdade e da justiça para todas as nações". Isto em 1947. Em 1943 ofereceu a medalha do nobel da literatura ao Goebbels.
Acho que serial killer só mesmo o Caravaggio, não? Até o Caetano Veloso teve um relacionamento com uma miúda de 13 anos, tendo ele 40, que depois deu em casamento e filhos etc.
E eu sou mesmo da opinião que é possível separar o homem da obra (porra , continuo a adorar a música do Morrissey), só intervim mesmo porque me pareceu que te referiste a artistas como pessoas e não pela sua obra.
Posto isto o meu livro preferido do Knut Hamsun é o Victoria, 130 páginas de uma história de amor que nunca chega a acontecer que se leem numa tarde.
Fdx dar a medalha do Nobel ao Goebbels é forte! Não sabia dessa. Mas lá está, o melhor é não julgar os artistas pelas suas convicções políticas.
Ainda assim, não deixa de ser estranho que se considere muito mais censurável ter sido fã do Hitler do que do Estaline. O Neruda, por exemplo, escreveu poemas a celebrar o Estaline e tem uma imagem pública de herói da liberdade. O que para mim é meio absurdo.
Hei-de procurar esse livro do Hamsun.
É a visão romântica da luta anti-imperialista. O David Siqueiros, por exemplo, rival do Diego Rivera e pintor mexicano que chegou a disparar contra o Trosky quando este estava exilado no México por ser um convicto estalinista ou o Sartre, outro admirador do Stallin e da URSS até à invasão da Hungria.
Enfim, acho que no aftermath das duas guerras andou muita gente equivocada.
Então e o "Lolita"? Aqui a própria obra é "criminosa", nem separas o autor da obra porque é irrelevante. O julgamento é sobre a própria obra.... mas também é uma brutalidade de escrita, provavelmente o livro mais bem escrito que alguma vez li.
Ou o "Morte em Veneza", quer dizer um velho que é obcecado pela beleza de um adolescente polaco?
Mas o pior de todos é o Gabriel Matzneff que relatava em livro as suas próprias histórias com pré-adolescentes na Tailândia, que era (e é, acho ainda não morreu) um activista pró-pedofilia, auto-reconhecido pederasta que era celebrado pela elite boémia francesa e que foi renegado apenas após os 80 anos.
“To sleep with a child, it’s a holy experience, a baptismal event, a sacred adventure.” escrevia ele.
Em contrapartida Mitterrand dizia “This unrepentant seducer, who defines himself as a mix of Dorian Gray and Dracula, has always astonished me by his extreme taste for rigour and by the density of his thought. The spontaneity of his judgement, expressed in a limpid style, is allied with an insistence on truth that often leads him outside the boundaries of what is considered ordinary.”
E não foi um #metoo, algo desmascarado mais tarde em final de vida. O homem literalmente escrevia sobre as suas próprias experiências pedófilas.
edit: nunca li o Lolita, acho que me ia sentir desconfortável.
A obra do Picasso não deixa de ser incrível, apesar de o Picasso pessoa ter sido um total filho da puta agressor de mulheres, sociopata e groomer.
Como não sou grande apreciador dos pintores muralistas/moralistas mexicanos, tanto me dá que sejam de esquerda ou de direita.
Mas do Sartre já fui grande fã, aos vinte anos, e devo ter lido uns 15 livros dele!!! Depois deixou de me interessar, mas ainda hoje há pelos menos dois livros dele que adoro: "As Palavras" e, por razões estritamente sentimentais, "Os Dados Estão Lançados". O Sartre teve as suas ilusões cegas, embora generosas, e como filósofo, dramaturgo ou romancista nunca me pareceu grande espingarda, mas era um homem duma inteligência fenomenal, e isso eu tenho sempre de valorizar.
Não foi só o Sartre, a maior parte dos intelectuais de esquerda só se desiludiram de vez com a URSS após a invasão da Hungria. Raros foram os esquerdistas que, como Orwell ou André Gide, perceberam logo nos anos 20 ou 30 que a URSS na realidade não passava duma ditadura burocrática.
Se calhar o mais extraordinário em "Lolita" é o facto de ser um exercício de pura imaginação, porque o Nabokov, tanto quanto sei, não tinha nada de pedófilo.