O movimento ultraconservador e anti-direitos humanos começou a ganhar popularidade precisamente na mesma altura que o Trump surgiu. Ele acaba por ter influência na Europa, porque nunca antes se tinha visto um candidato com relevância política com um discurso marcadamente de ódio, misógino e nacionalista, associando a criminalidade à imigração, e fazendo uma clara separação entre "países de merda" e países bons. Esse tipo de discurso era o que ouvias antes de um Mário Machado, de um Lutz Bachmann ou de uma Isabel Peralta e tinham pouco ou nenhum palco político.
Juntas isso à crise migratória iniciada em 15-16 e começas a ter discursos inflamados e populistas em vários países. Alguns partidos minoritários ganharam força (RN à cabeça, a França tem um problema estrutural há décadas), outros partidos foram ou tinham sido recentemente criados com essa narrativa (AfD, lega, chega) e outros mudaram a sua ideologia (Fidesz, Vox, PiS) para capitalizarem esse movimento em votos.
A noção de woke e anti-woke não existia antes, porque era um movimento de direitos humanos e sociais. Os únicos que se insurgiam contra isso eram a igreja e os velhos do Restelo. De repente tens partidos a quem interessa ter uma "tradição nacional" assente em tradição cultural e nacionalismo - marcadamente de pendor racista - a se manifestarem violentamente contra aquilo que consideram "politicamente correto". Porque lutar por justiça social e racial é ser politicamente correto, aparentemente.
Depois disso, há um extremizar de conceitos que já não consigo acompanhar. Há muito que se perdeu a noção do que eram os objetivos e tornou-se uma arena política. Mas há quem ache que se apaga um fogo deitando-lhe mais combustível. Não tenho dúvidas que os próximos 4 anos, com Trump na presidência e com estes movimentos nacionalistas na Europa no seu auge, a situação irá agravar-se ainda mais.