Já tinha prometido a mim mesmo não voltar a escrever neste tópico. Agora, vou prometer a todo o fórum que é a minha última mensagem aqui (a menos que seja por motivos de força maior, em que nem quero pensar).
Isto, porque o Sérgio foi um dos meus jogadores favoritos, na minha adolescência. Porque, em vários momentos, ele foi uma das pessoas que melhor personificou o que é o Porto. Porém, acabou também por ser muitas vezes o oposto disso. Por respeito ao que de melhor vejo nele, abstenho-me de comentar aqui. Nos últimos tempos, o que tenho a dizer não são coisas boas. E fui um dos que não gostei da sua passagem enquanto treinador, mas já lá chego. Faço-o agora porque estou muito emocional desde a tragédia de terça-feira.
Tenho a certeza de que muitos (pelo menos, alguns) dos que aqui o defendem indefetivelmente nunca o viram jogar. Não se lembram de ficar entusiasmadíssimos porque aquele miúdo que vinha do Felgueiras para o Porto ia partir tudo. Porque, efetivamente, partiu tudo e jogava com uma alma como poucos. Porque era aguerrido e feroz e odiava perder (muito à imagem do Bicho!). Porque foi um dos melhores ED que vi com a nossa camisola, que não ficava na sombra de um lendário Drulovic, que brilhava na outra ala. Muitos também não se lembrarão da alegria que foi o seu regresso, a meio da 2ª época do Mourinho, quando uma equipa já de si vencedora recebia um sonante reforço de inverno, que acrescentava ainda mais mística àquele balneário.
Os primeiros sintomas negativos começaram aí, quando amuou publicamente por não ter sido inscrito na CL - compreendo a sua frustração, mas as inscrições são limitadas e os Mourinho tinha de fazer as suas escolhas, face às necessidades da equipa. Optou pelo miúdo então desconhecido chamado Carlos Alberto, que acabou por ser decisivo, e, creio, por mais alguém que não foi assim tão determinante no contexto europeu - o Maciel, se não estou em erro. Seja como for, fez as escolhas que achou melhores na altura. E resultou muito bem, como todos sabemos. Adiante, isso é um caso de somenos importância.
Passados vários anos, num momento de instabilidade e de uma invulgar ausência de título no reinado de PdC, o SC volta como treinador. Lembro-me que a maioria do fórum estava profundamente pessimista - "é treinador de equipa pequena" - e muito insatisfeita com a escolha. Muitos desses acabaram por tornar-se "conceiçonistas" inveterados, mas enfim, é assim o futebol. Fiquei entusiasmado, achei que podia trazer algo que andava a faltar, a tão falada mística! E trouxe! Naquele primeiro ano em que pega numa equipa limitada e consegue puxar pelo melhor dela, invocando o orgulho Portista e conseguindo que os jogadores entrassem sempre de "faca nos dentes". Fomos Campeões! Impedimos o penta dos orcs. Foi um grande feito!
Os problemas começam no ano seguinte, e têm a ver com a personalidade maniqueísta do Sérgio. Tínhamos o campeonato na mão e perdemo-lo, fruto de várias teimosias e insistências de um ego que, começava a revelar-se, era demasiado grande para albergar o coletivo. Depois do "efeito-surpresa" do primeiro ano, o nosso jogo começou a tornar-se demasiado previsível e monolítico. De facto, muitas vezes começamos a "jogar à equipa pequena" quando nos víamos em vantagem, na busca de segurar os pontos, apenas. Mas conseguimos ter sucesso com essa fórmula, não o nego. Conseguimos muitos ponto. O futebol era bastante sofrível, no entanto, e a perda da vantagem no campeonato acabou por não ser grande surpresa, dada a quebra da equipa a partir de janeiro. Oferecemos esse campeonato. A culpa não foi só dele, mas foi o principal responsável. No fim da época, pedi a sua saída. E não mais voltei a não o desejar, após cada época.
No ano seguinte, voltamos a ser campeões, desta vez com o descalabro dos orcs após o confinamento. Dou mérito à equipa e ao treinador que acreditaram sempre, mesmo quando estávamos 7 pontos atrás. Porém, tal como havíamos "oferecido" o campeonato no ano anterior, desta vez foram eles a oferecer-nos o título, com uma série de resultados disparatados após a pausa covidiana. Soube muito bem, como todos os títulos, mas não encheu a barriga de ninguém. O futebol continuava sofrível e só fomos melhores porque fomos competentes (não bons, nem brilhantes) quando os outros fracassaram a toda a linha.
Depois disso, foram mais 4 anos de Conceição. Nunca esperei que fossem tantos, mas o contexto do ex-Presidente (o único que conheci antes do AVB) justificava essa opção. Podem falar de taças da liga, de Portugal, prestações interessantes na CL.. são troféus e marcos, é certo. Mas a equipa nunca entusiasmou pelo seu futebol, exceto naquele ano do Vitinha. Convenhamos, o Vitinha foi dispensado pelo Sérgio, e só não ficamos totalmente privados dele porque os idiotas do Wolves resolveram não acionar a opção de compra. É factual e indismentível. Como é factual que o jogador mais importante dessa época não foi titular regular até outubro por mera teimosia do treinador - que preferia o craque Bruno Costa! Aí já era mais que evidente que o "antes quebrar que torcer" do SC era mais uma figura de estilo. Foi talvez a única vez que teve de torcer em vez de quebrar, pois ele também gostava muito de ganhar. E, se permanecesse na sua teimosia - aquela que o impediu de ser bicampeão pelo menos uma vez, porque quando perdia até conseguia mudar alguma coisa, embora a custo, mas quando ganhava, a arrogância cresicia tanto que era teimosia até ao fim - ia ser apenas mais uma época a seco.
Fui crítico da sua gestão da equipa em 5 dos 7 anos que nos treinou. Não tenho saudades nenhumas. Nunca gostei dos seus exageros emocionais e da sua falta de controlo emocional. Muita gente passou a confundir o "ser Porto" com "ser grunho" e eu não perdoo isso, pois são coisas bem distintas. O Bicho, por exemplo, nunca precisou de ser um grunho para ser o verdadeiro Porto. E muitos outros, mas só para citar o exemplo maior. Apropriou-se da identidade do clube como se fosse só dele e dos que o idolatravam. Também não perdoo isso. Agradeço uma coisa, não quero deixar de assinalar: a forma como a equipa entrava sempre pronta para a guerra nos jogos contra os rivais e, em geral, nos jogos mais importantes. Mas uma época não é apenas feita desses jogos. E, nos restantes, o futebol continuava a ser bastante pobre. Ganhávamos, mas era quase sempre em sofrimento, mesmo contra equipas pequenas. Nunca me habituei a ver o Porto tão encolhido, mesmo em campanhas europeias que muitos dizem ser "brilhantes", a jogar como um Arouca europeu, mesmo sendo eficaz. Jogar em casa contra equipas da classe "média-alta" europeia com 11 jogadores atrás da linha da bola e metidos em 30 metros de terreno, é outra coisa que me custa perdoar.
O pior foi mesmo os últimos 2 anos enquanto treinador e o que se seguiu. Percebeu-se claramente que tinha um poder exacerbado dentro do clube e abusava dele. Destratava jogaores, diretores e sabe-se lá quem mais. Culpava tudo e todos (menos a si mesmo) quando as coisas não corriam bem. Impediu uma série de vendas por birras infantis. O que fez com que vários jogadores acabassem por sair a custo zero. Fez escolhas péssimas a nível de contratações. Os que se sabe que foram pessoalmente indicados por si foram quase todos flops. Nunca teve a modéstia de dizer que errou. Nesta altura, o ego já estava tão descontrolado que até cuspia em direção à direção, comandada pelo seu ídolo, referência, segundo pai... o que quiserem chamar. Pinto da Costa era a pessoa que o Sérgio mais admirava, não tenho dúvidas disso, e mesmo ele podia estar na sua linha de fogo quando as coisas não corriam bem. Não tem qualquer controolo emocional, dispara em todas as direções quando as coisas descambam. É assim com os egos inabaláveis.
Isto tudo era suficiente para não o querer mais no clube. Mas, depois disto, tornou-se muito pior. A atitude que teve nas eleições, ao dar o dito por não dito, a renovação a 3 dias do ato eleitoral, as manifestações públicas de asco ao novo Presidente, quase sempre de forma indireta e covarde, a não aceitação da homenagem que o AVB queria (e bem!) prestar-lhe no estádio, as indiretas nas redes sociais... epah... isto já foi para outro nível, tão baixo que nem me apetece comentar. E que se reflete no nível a que se tem assistido neste tópico.Sinceramente, estou-me a borrifar para se cumprimentou ou não cumprimentou - isto para mim nem é assunto e até concordo com a ideia de que parece conversa de beata coscuvilheira. Mas tudo o que o Sérgio Conceição fez no último ano e uns meses só me faz ter vontade de não o ter, de forma alguma, perto de mim ou do nosso clube.
Ainda respeito o que ele significou para mim e respeito muito o que nos deu. Mas é passado e espero que assim continue. Por isso, é assunto encerrado, para mim. Também não vejo necessidade de estar aqui constantemente a cascar-lhe, a "bater no ceguinho", como se costuma dizer. Até lhe desejo os maiores sucessos, longe daqui. A menos que vá realmente treinar um dos rivais, o que também não me admiraria muito. Este é o tópico mais tóxico do Portal e, acredito, entre muitos Portistas. No fim, é esse o legado do Sérgio, infelizmente!
Pronto, acho que era isto. Tinha de dizer o que penso, porque causa-me mágoa e estranheza que este tenha sido o tópico mais ativo num dia como hoje. Não voltarei a comentar aqui, pelo que, digo já, não irei responder a qualquer resposta a este post. Só lamento que uma figura incontornável do nosso clube tenha dado azo a tanta polémica!