Não só não têm absolutamente nada contra regimes "obscurantistas", como praticamente todos os governos que os EUA e a CIA ajudaram a instaurar eram fascistas, bem ao estilo da Itália de Mussolini, o tipo de governo preferido dos americanos. Como o próprio Mussolini dizia, o termo fascismo deveria dar lugar ao termo corporativismo, por considerarem que devia haver uma fusão entre o estado e as grandes corporações.É muito fácil ser partidário da resolução de conflitos de interesses através da violência indiscriminada quando sabemos que não corremos o risco de levar com uma bomba em cima. É aliás por isso que a guerra é tão popular entre o povo americano. Sabem que estão a uma distância segura dos países que bombardeiam, e que o pior que lhes pode acontecer é terem de pagar mais pela gasolina no posto de combustível.
Mas gostava de saber se a tua retórica belicista seria igual se um Herr Ventura decidisse bombardear Badajoz para tentar recuperar Olivença. Aí se calhar punhas-te a olhar para o mapa, percebias que a tua casa estava na rota dos mísseis castelhanos, e do dia para a noite passavas de falcão a pombinha.
Quanto ao resto, o teu discurso não faz sentido nenhum. Os EUA não tem absolutamente nada contra regimes "obscurantistas". Dão-se lindamente com a Arábia Saudita, por exemplo, que em matéria de costumes é muito mais retrógada do que o Irão.
E estás enganado quando falas em "luta de civilizações". Isso não existe, o que existe são interesses económicos, políticos e geoestratégicos do tipo: o führer Netaniau precisa de desviar as atenções do genocídio em Gaza e de salvar politicamente a pele; e os EUA gostariam muito de voltar a ter um governo pró-americano em Teerão para tornar a controlar o petróleo do país e enfraquecer a aliança russo-chinesa.
Só que não vai acontecer, em primeiro lugar porque a China e a Rússia vêm o Irão como um aliado estratégico, em segundo lugar porque Israel sozinho não tem força para derrubar o regime iraniano, e convidar os EUA para se juntarem à sua festa também está fora de questão, porque aí a Rússia e a China teriam de intervir, correndo-se o risco de um estado de guerra generalizada, que em teoria não interessa a ninguém. A não ser, claro, que americanos e israelitas, como bons fanáticos do Antigo Testamento que são, anseiem por um apocalipsezinho que traga de volta o Messias (que neste caso seriam dois messias, um para cada um), mas eu quero acreditar que os falcões apocalípticos em Israel e nos EUA são uma minoria.
Pinochet no Chile, Suharto na Indonésia, Reza Pahlavi no Irão, Fulgencio Batista em Cuba, Videla na Argentina, Hugo Banzer na Bolívia, Somoza na Nicarágua, Noriega no Panamá, Montt na Guatemala, Papa Doc e Baby Doc no Haiti, o próprio Sadam foi apoiado pelos EUA durante um bom tempo, Mubarak no Egito, Ferdinand Marcos nas Filipinas... tantos outros. É uma lista gigantesca.