Não sei se concordo com a parte de ser uma guerra de aniquilação de ambas as partes. Em sociedades governadas por muçulmanos sempre houve espaço para os judeus, desde os tempos da taifa de Toledo à Jerusalém anterior a 1948. E mesmo hoje há dezenas milhares de judeus a viverem tranquilamente no Magrebe ou na Turquia. E embora não tenha dados históricos sobre o assunto, estava capaz de apostar que os judeus sempre sofreram mais progroms na Europa cristã do que no Magrebe ou no médio-oriente muçulmanos.
Claro que depois da Nakba e até aos nossos dias, não devem faltar palestinianos que odeiam completamente os judeus.
Mas eu nunca tive dúvidas de que se não existe paz e uma Palestina independente, é porque Israel não quer. Isso para mim ficou claro nos anos 90 quando vi como Israel fez tudo que estava ao seu alcance para minar o poder do então moderado Arafat e da Autoridade Palestiniana, com o resultado (muito provavelmente intencional, que os judeus de burros não têm nada) de atirar os palestinianos para os braços de radicais como o Hamas.
Isso mudou no início do Sec. XX.
Os judeus nas sociedades muçulmanas mediévais e renascentistas e no Império Otomano sempre viveram melhor do que em período igual na Europa.
Alguns dos mais reconhecidos filósofos e historiadores quer dos Califados Árabes medievais, quer depois dos territórios do Império Otoman eram judeus.
Isto começou a mudar pós Iluminismo, com os europeus a deixarem cada vez mais o sentimento de ressentimento religioso (julgamento de Jesus Cristo pelo Sinédrio judeu) para trás, com a ascenção do laicismo e dos valores liberais e da razão pela Europa fora, os judeus começaram a prosperar também e a serem normalmente integrados na sociedade (a grande excepção foi a Rússia que lhes dedicou um espaço único em forma de ostracismo e progroms).
Curiosamente no mundo árabe começou a comportar-se ao contrário, porque começaram a aparecer movimentos ultraconservadores islamistas opostos à Golden Age árabe/islâmica, mais saudosista dos velhos tempos maometanos.
Por exemplo o Império Otomano tentou reformas profundas, o Tanzimat, que pese a vontade governativa, esbarrava nesses movimentos, que começaram a ganhar força, enquanto os sultões a perdiam.
Depois no Sec. XIX com as primeiras
aliyah (migrações da diáspora judaica para a Palestina Otomana, sobretudo vindos do Leste do Império russo) as coisas pioraram. O sentimento de alguma tolerância deu lugar a uma abjecção.
Ao ponto declarado de por altura dos inícios do Sec. XX já ser uma questão de nós ou eles, em ambos os lados, então a partir de 1947 é definitivo.
É a isso que eu chamo de guerra de aniquilação, é a partir daí.
É quando nasce o conflito.
As restantes boas relações nos tempos Otomanos ou da Idade Dourada dos Califados árabes já não importam para nada. Isso é passado remotíssimo.