Actualidade Nacional

Dagerman

Tribuna Presidencial
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No 9. ano, por exemplo, são 100 minutos por semana para falar desde a conferência de Berlim até ao 11 de Setembro.
Não dá para falar de tudo.
O problema maior nem é o tempo lectivo, é o facto de os manuais de história serem muito mais ideológicos do que se pensa. A história está muito longe de ser uma ciência, e muitas vezes não é mais do que a interpretação dos acontecimentos proposta pelos vencedores. Por exemplo, a versão das causas da Primeira Guerra mundial que nos é dada na escola é completamente infantil. Um gajo saía do 9º ano acreditar que metade da Europa mergulhou num conflito ruinoso e que ceifou milhões de vidas só porque um príncipe qualquer foi assassinado na Sérvia. Ridículo. Entretanto, o papel dos banqueiros ou da monarquia britânica na instigação do conflito fica no segredo dos deuses, ou só é acessível a quem decidiu aprofundar conhecimentos lendo obras mais especializadas sobre o tema.
 

Edgar Siska

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Ao pé da praia
  • Alfredo Quintana
  • Maio/21
  • Junho/22
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A própria União Soviética via este brotar de sociedades anárquicas com sucesso na Espanha como uma ameaça ao próprio comunismo e ao poder central. Como forneciam armas à República, fartaram-se de fazer pressão e impor obediência ao poder central. Inclusive chegou a haver confrontos armados entre anarquistas e comunistas em 1937, o que acabou por enfraquecer a frente antifascista. Do outro lado, com a ajuda dos nazis, dos fascistas italianos e da própria igreja católica esmagaram as forças revolucionárias. E depois tinhas as próprias democracias ocidentais que também viam os anarquistas como ameaça ao poder central e não prestaram qualquer auxílio. Independente do vigor e prosperidade daquelas sociedades, estavam, de facto, condenadas ao fracasso fruto de diversos fatores externos e do contexto da época.

Infelizmente, nos manuais do história isto nunca é abordado. Fala-se por alto da Guerra Civil Espanhola e ignora-se por completo uma das experiências mais autêntica e prometedora da história revolucionária moderna.
Os italianos ainda ajudaram mais, em número e género do que os alemães nazis, que acabam por ficar mais famosos digamos assim devido às aventuras da Legião Condor e a sua preciosa ajuda no transporte das tropas que Franco tinha estacionadas no norte de Marrocos, o "Heer" alemão não investiu assim tanto na Guerra Civil Espanhola, tinha os seus afazeres em casa a preparar as intervenções que iriam despoletar a II Guerra.

A URSS também, diretamente para lá de fornecimento de armas e aviões (obsoletos) em termos militares pouco contribuiu, conselhia sobretudo, tanto que enviou o Berzin que nem sequer era um militar do exército mas um agente da inteligência da GRU.

A Guerra Civil Espanhola é um conflito complexo, e as alianças contra os nacionalistas eram muito de ocasião e fracturadas, o que naturalmente acabou por redundar na queda da República Espanhola.
 
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Edgar Siska

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Não sou especial adepto do anarquismo, é inorgânico à natureza humana. A autogestão não passa de um sonho lindo, idealista, contemporâneo e parvo mas completamente impossível em cenários macro.
Bons para gerir o Reino do Pineal no máximo...e e e...há de alguém acabar por estabelecer uma ordem para os males dos sonhos utópicos Proudhonianos.
 

Dagerman

Tribuna Presidencial
1 Abril 2015
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Eu não lhes chamaria irrealistas, foram experiências bem realistas e bem sucedidas, mas entendo perfeitamente o ponto de vista e concordo no geral.
Eu chamo-lhes irrealistas tendo em conta o contexto histórico em que surgiram, mas também porque acredito que há muito de utópico no anarquismo (como aliás no comunismo, embora em menor grau). Em poucas palavras, o anarquismo é uma teoria política perfeita, mas foi concebida para anjos, não para seres humanos reais. Eu sei que o grande biólogo anarquista Kropotkine apresenta inúmeros exemplos de cooperação e simbiose na natureza, mas sós somos uma raça filha da puta e super-competitiva, que a partir do momento em que descobriu o fogo se tornou uma espécie à parte, e que só coopera entre si em tempos de crise ou quando é para ir limpar o sebo à tribo vizinha! Há um livro muito bom sobre esta dinâmica social de cooperação/competição na história chamado "War, Peace and War" de Peter Turchin.
 

Dagerman

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Os italianos ainda ajudaram mais, em número e género do que os alemães nazis, que acabam por ficar mais famosos digamos assim devido às aventuras da Legião Condor e a sua preciosa ajuda no transporte das tropas que Franco tinha estacionadas no norte de Marrocos, o "Heer" alemão não investiu assim tanto na Guerra Civil Espanhola, tinha os seus afazeres em casa a preparar as intervenções que iriam despoletar a II Guerra.

A URSS também, diretamente para lá de fornecimento de armas e aviões (obsoletos) em termos militares pouco contribuiu, conselhia sobretudo, tanto que enviou o Berzin que nem sequer era um militar do exército mas um agente da inteligência da GRU.

A Guerra Civil Espanhola é um conflito complexo, e as alianças contra os nacionalistas eram muito de ocasião e fracturadas, o que naturalmente acabou por redundar na queda da República Espanhola.
Uma "aliança" de republicanos, anarco-sindicalistas, comunistas e trotsquistas. Fdx, tinha tudo pra dar certo!
 
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bluemonday

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Não sou especial adepto do anarquismo, é inorgânico à natureza humana. A autogestão não passa de um sonho lindo, idealista, contemporâneo e parvo mas completamente impossível em cenários macro.
Bons para gerir o Reino do Pineal no máximo...e e e...há de alguém acabar por estabelecer uma ordem para os males dos sonhos utópicos Proudhonianos.
Sendo institucionalista e tendencialmente formalista, o anarquismo é algo que me repugna particularmente.

Mesmo um Reino do Pineal não é anárquico. É impossível a mais pequena das comunidades subsistir durante muito tempo desse modo.

Os anarquistas vão beber à teoria do direito natural, que a propósito não rejeito. No entanto, o direito natural tal como eles o concebem não é suficiente para regular o quotidiano. Os romanos perceberam isso há muito, mas os anarquistas ainda estão nos tempos da Mesopotâmia...
 
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Edgar Siska

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Sendo institucionalista e tendencialmente formalista, o anarquismo é algo que me repugna particularmente.

Mesmo um Reino do Pineal não é anárquico. É impossível a mais pequena das comunidades subsistir durante muito tempo desse modo.

Os anarquistas vão beber à teoria do direito natural, que a propósito não rejeito. No entanto, o direito natural tal como eles o concebem não é suficiente para regular o quotidiano. Os romanos perceberam isso há muito, mas os anarquistas ainda estão nos tempos da Mesopotâmia...
Como eu disse, até no Reino do Pineal eventualmente existiria um conflito que levaria ao estabelecimento de uma ordem.
Colocando aqui eu o ênfase em "conflito" que é o que surge normalmente da tentativa de aplicação dessas teorias utópicas bonitas no papel.
 
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bluemonday

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Como eu disse, até no Reino do Pineal eventualmente existiria um conflito que levaria ao estabelecimento de uma ordem.
A questão jurídica é mesmo, a meu ver, a maior fraqueza do anarquismo.

Se olharmos a ordem jurídica internacional, vemos que a sua eficácia é diminuta, precisamente por não existir um aparelho coativo que possa reprimir os infractores. E é uma ordem jurídica positiva, com algum grau de vinculatividade, imagine-se o anarquismo.

Além disso, desejo boa sorte aos anarquistas para conseguirem prevenir aquilo que consideramos como crimes. Se acham que vão lá através de conversa e mediação...enfim.

De todo o modo, acho uma ideia mais bela no papel do que o comunismo. Pena que não tenha qualquer efectividade.
 

bluemonday

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Se fosse um líder de um partido comunista, seria um Ventura de esquerda. Levaria um PCP desta vida aos 15% com muita facilidade.

É tão fácil tornar apelativo um discurso populista de esquerda, a questão é que os políticos dessa área estão muito fracos.
 

Dagerman

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Sendo institucionalista e tendencialmente formalista, o anarquismo é algo que me repugna particularmente.

Mesmo um Reino do Pineal não é anárquico. É impossível a mais pequena das comunidades subsistir durante muito tempo desse modo.

Os anarquistas vão beber à teoria do direito natural, que a propósito não rejeito. No entanto, o direito natural tal como eles o concebem não é suficiente para regular o quotidiano. Os romanos perceberam isso há muito, mas os anarquistas ainda estão nos tempos da Mesopotâmia...
O direito natural é suficiente para regular o quotidiano, mas só em comunidades primitivas, nunca numa sociedade complexa (que a Mesopotâmia já era) e muito menos numa sociedade industrial.
Mas em teoria, e também na prática, é possível criar bolsas de comunidades anarquistas no seio duma sociedade complexa. Não costumam é durar muito tempo, e normalmente sucumbem a pressões internas, mais até do que externas. As únicas comunidades intencionais que conseguem subsistir como bolha dentro duma soceidade maior são comunidades unidas pela cola religiosa, como os amish ou os menonitas.
 

Edgar Siska

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Foi o que pode arranjar na altura, mas é óbvio que a partir do momento em que a Inglaterra e a França optaram pela neutralidade, a república espanhola estava condenada.
O pessoal estava muito queimado da 1ª guerra, ainda estava no appeasement ao Hitler nessa fase. Se bem que a Alemenha e a URSS também assinaram a neutralidade e foram para lá fazer umas observações no campo, bombardear uns civis e tal.
A França até assinar ainda mandou uns aviões.
 
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O pessoal estava muito queimado da 1ª guerra, ainda estava no appeasement ao Hitler nessa fase. Se bem que a Alemenha e a URSS também assinaram a neutralidade e foram para lá fazer umas observações no campo, bombardear uns civis e tal.
A França até assinar ainda mandou uns aviões.
A Inglaterra sempre foi muito partidária da ordem, e portanto não admira que preferisse o Franco a um governo republicano com ministros anarquistas (e isto de anarquistas terem sido ministros é uma ironia histórica deliciosa), mas que a França, na altura governada por um frente popular de esquerda, não tenha mandado ao menos cinco caixas de granadas, é difícil de engolir.
 
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Edgar Siska

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A Inglaterra sempre foi muito partidária da ordem, e portanto não admira que preferisse o Franco a um governo republicano com ministros anarquistas (e isto de anarquistas terem sido ministros é uma ironia histórica deliciosa), mas que a França, na altura governada por um frente popular de esquerda, não tenha mandado ao menos cinco caixas de granadas, é difícil de engolir.
Mandou uns caixões com asas (Potez54) e foi um pau.
 
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Moradona

Bancada central
18 Maio 2025
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Não sou especial adepto do anarquismo, é inorgânico à natureza humana. A autogestão não passa de um sonho lindo, idealista, contemporâneo e parvo mas completamente impossível em cenários macro.
Bons para gerir o Reino do Pineal no máximo...e e e...há de alguém acabar por estabelecer uma ordem para os males dos sonhos utópicos Proudhonianos.
Isso de ser inorgânico ou não à natureza humana é perfeitamente irrelevante e o pior argumento possível. A violência é algo que faz parte da natureza humana, matar faz parte da natureza humana, violar faz parte da natureza humana, escravizar outros seres humanos faz parte da natureza humana, são todos comportamentos perfeitamente humanos, no entanto, desenvolvemos mecanismos para reprimir e punir este tipo de comportamentos de forma a vivermos em sociedade. O que não falta nas nossas sociedades são instrumentos de repressão da natureza humana. Também não faz parte da natureza humana viver ao ritmo do desenvolvimento tecnológico dos nossos tempos e no entanto vivemos. Portanto, é um argumento falacioso e facilmente refutado.

Mas acima de tudo isto dizer que o anarquismo é inorgânico à natureza humana é que é o principal erro. A nossa espécie tem sensivelmente 300 000 anos e as civilizações e sociedades com elevado grau de estratificação e estruturas de poder centralizadas começaram há cerca 10 000 anos. Durante o resto do tempo os seres humanos viveram em sociedades com modos descentralizados, igualitários e fortemente baseados na cooperação. Portanto, novamente o argumento da natureza humana, que é bastante raso, cai completamente por terra.

Um outro problema é o desconhecimento do que é realmente o anarquismo. Não tem rigorosamente nada a ver com o Reino do Pineal, ou com o Wild Wild Country. De forma bastante resumida, não é a negação de toda autoridade ou abolição completa do estado, mas sim o questionamento de toda a autoridade que não possa ser justificada. Além disso, dentro do próprio anarquismo existem diversas propostas e formas possíveis de organização social, todas baseadas na autonomia, na cooperação e na horizontalidade das relações.

Eu não sou a favor de mudanças revolucionárias e totalmente diruptivas como a abolição do capitalismo, mas da adaptação de determinados princípios do anarquismo.
 
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