O problema de termos como xenófobo, racista ou fascista, terrorista, etc. é que na maior parte das vezes são usados de forma difamatória e com o intuito de marginalizar o oponente e acabar com a conversa.
Não há muita diferença entre dizer que todos os árabes são terroristas e chamar racistas ou xenófobas às pessoas que pedem que a emigração seja regulada.
A falácia é a mesma e serve só para descredibilizar o adversário.
Na realidade, acho que pessoas genuinamente racistas em Portugal são muito poucas, como o prova a nula expressão eleitoral do Ergue-te, que no meu entender é o único partido em PT genuinamente de racista e de extrema-direita.
A maior parte dos portugueses gosta de estrangeiros. Claro que gosta mais se forem alemães endinheirados do que se forem hindus pobres, mas isso não configura necessariamente uma situação de racismo. Porque o facto é que a maior parte das pessoas prefere ter vizinhos ricos a ter vizinhos pobres.
Se pudessem escolher, 99% dos portugueses preferia viver em Cascais do que ao lado de um bairro de ciganos. É discriminação, mas é uma discriminação natural. Aliás, eu acho que discriminar é um impulso é natural. Eu discrimino as pessoas com quem me relaciono. Não o faço é em função da cor da pele ou da nacionalidade ou mesmo do status económico, mas discrimino-as em função do carácter ou da inteligência. E toda a gente faz o mesmo.
Para mim só existe realmente racismo quando a pessoa acha que o valor e o potencial duma pessoa está determinado pela cor da pele, ou quando acha a sua própria etnia é naturalmente superior às outras. E nesse aspecto não deve haver povo mais racista do que os judeus conservadores, cujos livros sagrados dizem textualmente que há um povo escolhido por deus, e todos os outros são povos de segunda.
Eu tento - e falho, admito - não usar os termos "racista" ou "xenófobo" de forma leviana. Aliás, até devia passar a usar o termo "preconceituoso", porque muitas vezes é disso que se trata. Toda a gente é preconceituosa, a questão é como reagimos perante os nossos próprios enviesamentos.
É evidente que nem todos os votantes do CH são racistas ou xenófobos. Mas há muita gente de direita que grosso modo até partilha algumas ideias do Chega, nomeadamente sobre imigração, e que até poderia votar neles, mas que consegue perceber o subtexto perigoso e, a partir de certo ponto, recusa-se a atravessar essa linha. Muitas vezes são os críticos mais ferozes do próprio CH (estou-me a lembrar do Francisco Mendes da Silva, por exemplo)
Dou um exemplo mt simples e mt pessoal: na altura da covid fiquei bastante irritado com as restrições impostas pelo Estado ao direito de sair de casa. Ainda por cima vivo no concelho de Ovar, onde as medidas foram especialmente severas, nem sequer podia ir correr ou fazer surf, porque tinha o guarda Bonifácio à minha espera no areal, pronto a avisar-me que não podia estar na água. Na altura ainda tinha redes sociais e como era muito vocal na página do presidente da câmara acabei por ser convidado para um grupo em que várias pessoas desabafam sobre esse autoritarismo. Acabei por me afastar quando comecei a reparar que para além do covid, o pessoal começava a partilhar teorias do Soros, da nova ordem mundial, chemtrails, uma cena qualquer do oitavo não sei quê e outras merdas semelhantes (na altura nem se falava de vacinas). Claro que agora todos eles votam no ADN.
O potencial eleitor de direita que até votaria no CH mas acaba por não votar, tem um pensamento semelhante. Pensa pela própria cabeça, tem desconfiança do sistema, está irritado com o caralho do mundo, mas também tem limites. E o discurso oficial do Chega é, no mínimo, dúbio e frequentemente roça o racismo e a xenofobia, de forma pouco subtil.
E depois há outro fenómeno curioso: se eu fizer uma lista das 10 piores pessoas que conheço — piores no sentido de serem inúteis, arrogantes, profundamente incompetentes e oportunistas — todos eles andam agora com o seu cropzinho a apoiar o Chega. São os mesmos que já foram "Je Suis Charlie", depois tiveram a bandeira da Ucrânia no perfil, e agora são enormes patriotas. Um exemplo é o Senhor Edmundo do restaurante O Tomate, em Espinho, que participou no Pesadelo na Cozinha e agora, lá está ele, com o Chegazinho no coração.