Na 1ª República não podiam votar também, votou uma uma vez toparam e alteraram logo a lei. Segundo se lê porque a maioria era católica e poderia votar nos Partidos digamos extremistas de direita. Isso não evitou o fim da 1ª República por incapacidade de levar as pessoas a votar, salvo erro as últimas eleições tiveram menos de 20% de votantes. A "revolução" do Estado Novo copiou o que estava, acrescentou outras piores como proibiu os partidos e a livre expressão, e fomos de cavalo para burro mas a culpa disso partiu da incompetência dos ditos partidos democráticos e outros nem tanto cujos casos e "casinhos" levavam a dissolução do Parlamento várias vezes ao ano e à corrupção.
Estamos a ver um filme parecido não estamos? Embora os artistas sejam outros e a atualidade outra mas tem semelhanças isso tem.
Tb é preciso ter a perspectiva Históriica. Foi um período de convulsões em que se tentou evoluir em relação ao que havia. Antes da República acho que ainda era pior. No rei nem podias votar. E na Assembleia as limitações para além do género ainda incluiam o nível social das pessoas. Tenho sempre tendência a avaliar um determinado regime por ser melhor ou pior que o anterior, e em relação às eleições a 1a República foi melhor que a Monarquia, o Estado Novo pior que a 1a República, e a atual República... não há comparação obviamente.
A monarquia estava podre quando caíu em parte devido à bancarrota de 1899.
A 1ª República que citei no início em 1910 foi muito produtiva em leis, uma delas já que estamos num fórum de desporto foi obrigar no bom sentido as associações desportivas a registar-se antes disso não existia, o problema foi depois de nos metermos na guerra de 14-18 a partir daí o golpismo e a crise económica derivante dela, 1ª guerra mundial, levou a um período perturbador que falei e à descrença nas instituições, o fascismo salazarista não apareceu por acaso. O Rui Tavares num programa que não recordo o nome nem o canal tem falado sobre isso com muita documentação da época e é insuspeito de ter saudosismos salazaristas.
Não concordo com algumas coisas que foram ditas, mas respeito as opiniões. Este sim, um bom debate para se ter...
O republicanismo em Portugal tem, na verdade, mais de 200 anos. Em termos ideológicos, diria que a primeira grande manifestação dos ideais republicanos foi na Revolução Liberal de 1820, que contava com alguns republicanos - não assumidos, é certo. A Constituição de 1822 que surge é quase um intermédio entre uma monarquia constitucional e uma república, de tal forma que o D. Pedro se vê obrigado a outorgar quatro anos depois a Carta Constitucional, que retira esse "republicanismo" da equação e atribui mais poderes às instituições da monarquia. Tivemos ainda movimentos como o setembrismo, que procuravam derrubar os alicerces da monarquia, posto que muitos dos seus membros fossem moderados e almejassem tão só "modernizá-la" (Sá da Bandeira, Passos Manuel, ...), resultando na denominada Constituição Pactícia de 1838, outro compromisso entre um certo ideário republicano e a monarquia.
Nessa altura, já se formava um bipartidarismo prático entre um Partido Regenerador (o PSD / CDS de agora, digamos assim) e o Partido Histórico (que seria um PS). O caciquismo que conhecemos hoje existia, bem como as famosas alas dos partidos (o Sá da Bandeira, por exemplo, seria um PNS, tirando o facto de que este nunca será PM, na medida em que ambos recusam alianças com partidos à sua direita. O Duque de Loulé seria um Sérgio Sousa Pinto, fazendo uma espécie de bloco central. O Fontes Pereira de Melo, com as devidas diferenças, especialmente a sua capacidade reformista, seria um Montenegro.
A década de 1870 revela novos contornos, não só pela famosa Geração de 70, que traz consigo o ideal republicano em força, mas por cisões no seio do Partido Histórico, nomeadamente a criação do Partido Reformista, do Duque de Ávila e do Sá da Bandeira (um pouquinho mais à esquerda que o Histórico). Este último morre e ocorre uma fusão entre o Partido Histórico e o Reformista, formando-se o novo Partido Progressista, que possuía uma nova idiossincrasia: uma ala minoritária republicana. Concomitantemente, aparece um partido mais radical, o Partido Republicano, de fraca expressão nessa década, cuja ideologia assenta no republicanismo, no anticlericalismo e, eventualmente, no socialismo, com um forte apoio da Maçonaria. Seria um BE nessa época.
Até ao final da Monarquia, alterna-se entre o Partido Regenerador e o Partido Progressista. Contudo, com o ultimato inglês, o republicanismo ganha força e começa a existir um maior vigor do Partido Republicano, culminando no 31 de janeiro de 1891, que não logrou. Este é o primeiro boom que abala o regime monárquico.
Também o Partido Regenerador enfrentará cisões, nomeadamente aquela de João Franco, que cria uma espécie de Chega da altura, chegando ao poder em 1906, após o desgaste do seu partido originário e com o apoio do Partido Progressista (!). Franco acaba por instaurar uma ditadura, perseguindo as oposições políticas (designadamente os republicanos) e os estudantes, enquanto D. Carlos assiste com passividade. Eis o segundo boom, que resultará inelutavelmente no Regicídio de 1908. Curiosamente, tal como a expressão "sistema" do Ventura, também o João Franco possuía uma: o "rotativismo". A história poderá não se repetir, mas rima...
D. Manuel II torna-se rei e existe um horizonte de esperança na nação. Os políticos gostam dele e o povo tem simpatia. Moderado, Manuel decide nomear um governo de consenso, liderado por Ferreira do Amaral. A solução é apreciada por quase todos os quadrantes, exceto pelo Partido Republicano, que já aí tinha em mente uma "revolução". De facto, nesses dois últimos anos, o PR tenta sabotar não raras vezes os planos dos governos e do rei.
O jovem monarca estava tão empenhado na reconstrução do país que chega a incentivar um Partido Socialista no governo, porquanto, no seu entender, a questão social de Portugal era das mais gravosas. Quando a colaboração entre os partidos do sistema e o socialista estava quase a dar frutos, o Partido Republicano resolve proceder com um golpe de Estado...
A 1ª República é um falhanço pleno. O Partido Republicano só desejava, acima de tudo, o tão ambicionado "tacho", ao mesmo tempo que extremistas (Afonso Costa à cabeça) cometiam atos hediondos. Aquilo que Costa e o PR fizeram aos católicos não é muito diferente daquilo que a própria Inquisição havia feito séculos antes. Essa perseguição às instituições católicas resultou num atraso ainda maior do país, uma vez que os poucos apoios sociais existentes eram proporcionados por tais instituições. Foi um tiro no pé, do mesmo feitio daquele que o Marquês de Pombal deu quando expulsou os jesuítas de Portugal, prejudicando o sistema educacional português e atrasando este pedacinho de terra à beira do mar durante séculos.
O PR (Partido Democrático, renomeado) promove o caciquismo da monarquia para seu bel-prazer. A instabilidade financeira piora. Como se não fosse bastante, o PR tem a genial ideia de meter Portugal na 1ª Guerra Mundial, acabando por abandonar os soldados portugueses em terras estrangeiras. Isso leva a ditaduras, nomeadamente a de Sidónio Pais, o Presidente-Rei. Desde o final da Grande Guerra, tudo piora. Fátima aparece justamente como um eco do seu tempo, dando luz às perseguições aos católicos e aos terríveis efeitos da Guerra.
A vida do povo não mudou da Monarquia para a República; pelo contrário: foi-lhe retirada talvez a única coisa que dava alento, a religião. O golpe de Estado de 1910 e o de 1926 são golpes de elites. A extrema-direita na 1ª República já existia, sob o nome de Centro Católico Português, formado por Salazar, Cerejeira, Pacheco de Amorim e outros. Quando Salazar chega ao poder, a única diferença é que possui não só o apoio das elites, mas também o da classe média portuguesa, conforme evidenciam os escritos de Pessoa. A austeridade e o autoritarismo do Estado Novo não surpreendem ninguém, porquanto já existiam no regime anterior; a máquina da 2ª República consegue, eventualmente, agregar o povo à volta do Toninho, porém era absolutamente indiferente quem estava no poder.
Quando ouço o Rui Tavares a afirmar que o Estado Novo não era uma República, rio-me feito maluquinho. Não só por ser um grande erro no que concerne à Ciência política, mas também pelo facto de o próprio usar como critério distintivo uma suposta "democracia" da 1ª República, um regime que durante a maior parte dos seus 16 anos foi...autoritário.
Acho muito bem o maior enfoque em Salazar, até para servir de lição para aqueles que anseiam por alguém parecido, no entanto o que distingue o Dr. Botas do Afonso Costa não é muito...bom, talvez uma destrinça fundamental: Costa era um lunático que fazia as coisas para o seu próprio bem e com um ódio muito mal esclarecido pela religião; Salazar, no seu perverso discernimento, considerava-se um salvador da pátria, morrendo em relativa pobreza sem retirar nada ao Estado, embora permitisse o enriquecimento das elites à custa do povo.
Tivesse o Botinhas da cadeira saído depois da Segunda Guerra e, infelizmente, seria tido como um herói, do mesmo modo que Pombal ainda o é hodiernamente (erroneamente). Curiosa, a história...