Vou fazer aqui uma reflexão extensa sobre o que penso neste momento atual, admito que a maioria não vai ler mas fica registada.
Vou puxar o fio atrás para os últimos dois mandatos do anterior Presidente, aqueles que foram definidores nesta primeira época do primeiro mandato do novo Presidente.
De 2016 a 2024, o FC Porto venceu três campeonatos. Viu o Benfica ser tetra campeão pela primeira vez na sua história e perdeu claramente grande parte da influência que tinha no futebol português. Durante este período, vemos decisões técnicas, financeiras e estruturais do clube serem tomadas sem qualquer tipo de rigor e muitas vezes sem qualquer interesse para um futuro do clube que se quer sempre sustentável. Assistimos à delapidação da qualidade dos plantéis, centenas de transferências de jogadores sem qualquer nexo, um crescendo de influência junto da direção de atores perfeitamente duvidosos e uma incompetência generalizada da administração no seu todo.
Vou resumir esse período em alguns momentos que considero chave:
1. Vendas de Luís Díaz e Vitinha
2. Antecipação da totalidade do contrato de direitos televisivos
3. Antecipação de uma tranche do pagamento pela venda do Otávio
4. Alienação de uma % da Porto Comercial a uma empresa americana durante um largo período de tempo
Tudo isto resulta de uma gritante falta de sustentabilidade financeira do clube e uma ainda mais gritante necessidade de pagamento de dívidas a fornecedores, salários e custos operacionais decorrentes do enorme clube que somos. Todos estes movimentos, entre muitos outros, resultam também em perdas significativas de capital a entrar nos cofres do clube decorrentes dos custos associados à antecipação de todas estas receitas.
Não fossem as excelentes campanhas de SC ao leme do plantel com repetidas qualificações para a fase de grupos da Liga dos Campeões - que garantia cerca de 50 a 60 milhões por época - e não sei onde estariamos neste momento, muito honestamente.
Em Janeiro de 2024 a situação é dramática.
Eis que surge André Villas Boas e anuncia a sua candidatura a 7 Janeiro. Tem a coragem de se candidatar à presidência do clube que ama mesmo perante toda a conjuntura que referi anteriormente.
Preparou-se, reuniu a sua equipa e apresentou o seu projeto. A lufada de ar fresco e a luz ao fundo do túnel foi tal que foi o candidato mais votado em todas as secções de voto num universo de mais de 20 mil sócios - a eleição mais concorrida da história. A família Portista uniu-se em torno deste Presidente.
Um ano volvido, a situação financeira aparentemente está controlada e a caminhar para a sustentabilidade do projeto no curto e médio prazo. Houve uma clara melhoria na relação com os sócios, há um projeto para as modalidades e o CAR eventualmente poderá avançar a breve prazo juntamente com mais um pavilhão no centro da cidade.
No fundo, tudo o que rodeia o futebol profissional está no bom caminho.
Mas o futebol profissional enfiou-se num buraco. A equipa B está a lutar pela manutenção - algo que também aconteceu num passado recente.
A equipa principal está como todos nós sabemos. No 4º lugar do campeonato, faltando 6 jornadas para o final, com um plantel fraco e um segundo treinador da época que começa a criar sérias dúvidas. As humilhações aos pés do Benfica ficarão para a história e o futebol praticado é de levar as mãos à cabeça de desespero.
As culpas aqui dividem-se: é evidente que a conjuntura em que o Presidente assume o clube marca indelevelmente esta primeira época mas há toda uma vertente não técnica e inegociável que claramente não está a entrar no balneário. A cultura, a identidade e os valores do Futebol Clube do Porto não estão minimamente enraizados nesta equipa técnica e neste grupo de jogadores. Os discursos podem ser os mais polidos mas as atitudes não acompanham. E é nesse aspeto a grande falha a apontar ao Presidente e restante estrutura do futebol. Nem vou falar do mercado de Verão e Inverno pois compreendo ambos perfeitamente. Prefiro antes perguntar se o Zubizarreta, Jorge Costa e Henrique Monteiro serão os homens ideiais para acompanhar o Presidente nesta missão e se serão capazes de incutir o que falta a um conjunto de novos jogadores que invariavelmente irão entrar no clube no próximo mercado de verão, se serão capazes de limpar os podres daquele balneário e projetar um plantel que signifique um resto de mandato ganhador. Há também a questão da comunicação para o exterior que deveria ter sido mais séria e menos política - prometer títulos não foi o ideal.
Posto isto, reforço que não estou minimamente arrependido do meu voto nas últimas eleições e votaria de novo no dia de hoje. Acredito neste Presidente.
Deixo uma pergunta final: bem sei que o futebol mexe com todas as nossas emoções e a racionalidade passa para segundo plano mas não deveria este Presidente ser bastante mais apoiado, com mais paciência e compreensão nesta primeira época profundamente difícil?
Imaginem onde estariamos ao dia de hoje caso AVB não se tinha candidatado a estas eleições.
Ps: na próxima época cá estaremos todos para um novo balanço deste mandato mas, para já, compete-nos apoiar e acreditar.