Eu não acusei ninguém de ver o mundo a preto e branco, apenas disse que há nuances.Citei-te estes 2 pontos: que os EUA poderiam ter prevenido a guerra, sabe-se lá como e que poderiam existir negociações de paz em que a Rússia recuaria.
O primeiro é um disparate. Os EUA não determinam a política externa da Rússia. A Moldávia sabe disso, a Geórgia sabe disso, a Crimeia também, a Ucrânia já o aprendeu e outros, como o Cazaquistão ou a Bielorrússia, se alguma vez os sistemas pró-russos caírem, também o descobrirão. A Rússia tem uma política expansionista agressiva e todas os vizinhos não protegidos por influência interna (fantoches russos) ou externa (leia-se EUA ou China) habilitam-se a serem os próximos.
No segundo mostrei, usando partes do próprio artigo que colocaste, que a Rússia não estava disponível para isso, nem nunca esteve. Fazes escolha seletiva das partes que te interessam para dizer que todos os outros não são de confiança, como se o Putin fosse o pináculo da fiabilidade. Repara que, no vídeo que colocas, a razão número um para não terem assinado o acordo é "não confiamos no Putin".
A partir disso, é ver o tal mundo a preto e branco de que acusas os outros. A partir do momento em que há negociações, o resto do mundo deixa de importar. Se um representante da NATO diz à Ucrânia que a apoiará para reverter a situação, isso obviamente tem influência. Nem percebo qual é o problema. Volto a dizer: a culpa de um conflito é do agressor. Tu defendes que o agredido é que tinha de recuar, perder território, ceder a sua independência diplomática, mudar a Constituição, deixar outro país determinar a dimensão das suas forças armadas. Epá, sinto que estou a debater com um bot russo, sinceramente.
Queres acusar a Europa de prolongar a guerra? Primeiro culpa a Rússia por a ter iniciado. As mortes sujam as mãos de Putin antes de qualquer outro.
Quem está a selecionar as partes que quer és tu e quem está a fazer suposições sobre a parte mais importante da entrevista és tu.
Ele na entrevista acaba com a narrativa de que o objetivo da Rússia era invadir a Ucrânia para conquistar aquilo, os países vizinhos e ameaçar toda a europa. Diz taxativamente que o objetivo da Rússia era faze-los recuar em relação à entrada na NATO. Chega até a dizer explicitamente que este era o ponto principal de tudo e que a conversa sobre desnazificação era apenas retórica e "political seasoning" para a população. Chega a dizer que seria preciso alterar a constituição, " o nosso caminho para a NATO está na constituição"... depois há quem diga que ter a NATO não era nenhuma ameaça para a Rússia. Gostava de ver como iriam reagir os EUA se o México ou o Canadá aderissem a uma organização militar liderada pela Rússia e colocasse mísseis num desses países. É só nos lembrar-mos da crise dos mísseis em Cuba.
Curiosamente, quando ele diz que não havia confiança nos russos para chegar a um acordo, está a contradizer um comunicado oficial da presidência ucraniana https://www.president.gov.ua/en/new...iyeyu-ukrayinska-delegaciya-oficijno-pr-73933 onde diz que se estava a desenhar um acordo entre ambas as partes em que os garantes do acordo seriam os membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU, juntamente com Turquia, Alemanha, Canadá, Itália, Polônia e Israel. E aqui, o problema parece que foram uma vez mais os países ocidentais a demonstrarem-se céticos perante um possível acordo de paz como está destacado neste artigo https://www.wsj.com/articles/ukrain...guarantee-greeted-with-skepticism-11648683375.
No final, ele diz taxativamente "o Boris Johnson foi a Kiev e disse-nos para não assinarmos nada e para apenas lutar".
Eu sempre disse que a Ucrânia tinha de ser apoiada pelos países do ocidente. Seria uma canalhice provocar uma guerra usando a Ucrânia como proxy e não os apoiar, nem faria sentido.
Existem questões relevantes no meio disto tudo. A NATO estar em países que fazem fronteira com a Rússia não é uma ameaça à segurança nacional da Rússia? Porque é que os EUA, durante a administração Bush, foram para a Geórgia e para a Ucrânia convencer ambos os países a juntarem-se à NATO? Porque é que durante tantos anos mantiveram sempre acesa esta ideia?
Tu achas aquilo que quiseres achar e tens todo o direito a isso. Eu acho que existem elementos e um enorme corpo de evidências que sugerem que os EUA sempre quiseram esta guerra até para levar a Europa a investir na NATO, coisa que não fazia.
Continuas a não querer perceber e a distorcer tudo o que eu digo. Até porque em nenhum momento eu disse que a Ucrânia é que tinha de recuar, ambas as partes tinham de fazer cedências e era isso que estava no acordo, cedências de ambas as partes que tu ignoras de propósito porque convém ao teu argumento. A única coisa que os ucranianos tinham que alterar na constituição era remover o caminho para se juntarem à NATO.
A realidade é que a situação da Ucrânia no final deste conflito será inevitavelmente muito pior do que se tivesse feito o acordo na Turquia.
Cada um interpreta a realidade como quiser, eu não fui o primeiro a pensar desta forma. Há imensa gente muito mais bem preparada e inteligente que eu a fazer estas considerações. Chomsky, Mearsheimer, Jeffrey Sachs, Stephen Walt, entre vários outros. Parece-me que são pessoas suficientemente inteligentes e independentes para não serem considerados bots russos.
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